Um estudo realizado em 17 países, incluindo a Península Ibérica, pela empresa Corteva Agriscience, a Divisão de Agricultura da DowDuPont, conclui que as mulheres vêem progressos, mas muito lentos, no reconhecimento do seu trabalho na agricultura. Além das diferenças salariais, menos de 50% sente-se valorizada, ouvida ou capacitada para tomar decisões.
O estudo é apresentado na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher Rural.
“As mulheres são a espinha dorsal da vida no mundo rural. Como todos sabemos, elas lidam em pé de igualdade com as tarefas no campo e na pecuária, cuidam da família e são uma parte activa na sociedade”, salienta fonte da Corteva Agriscience.
Formação técnica e específica
Estas mulheres, que já percorreram um caminho importante na sua formação técnica e específica para as tarefas que levam a cabo, apresentam um perfil que, globalmente e apesar das diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, é muito semelhante entre si. “Estão orgulhosas de trabalhar no sector agrícola, mas também ambicionam um maior reconhecimento e consciência social do seu trabalho e das diferenças de género”, refere o estudo.
Para elas, é vital que a sociedade entenda a importância da conciliação e que, juntamente com o desenvolvimento da vida profissional, coexistam conceitos-chave como a família, a estabilidade financeira e a própria saúde.
Isto mesmo foi confirmado por um recente estudo realizado pela Corteva Agrisciences em cinco continentes e com uma amostra de mais de quatro mil mulheres rurais, que consideram que a discriminação ocorre em toda a parte.
Discriminação muito alta na Península Ibérica
“É lamentável que a percepção dessa discriminação com base no género seja muito alta na Península Ibérica, onde mais de três quartos das mulheres acreditam que não existem as mesmas oportunidades nem as mesmas possibilidades de tomada de decisão sobre questões fundamentais, como a utilização dos recursos ou benefícios. Infelizmente, nesta percepção estamos ao mesmo nível da Índia“, realçam os autores do estudo.
A pesquisa da Corteva Agriscience revela ainda que, para o futuro, as mulheres rurais desejam mais formação, tanto académica quanto técnica, e uma maior consciência social das diferenças por género, para as quais propõem que o trabalho bem-sucedido que já realizam, seja convenientemente divulgado.
Por isso, “da mais optimista à mais pessimista, todas as mulheres pensam que levará mais de uma década, ou provavelmente duas ou três, até se alcançar a plena igualdade”.
40% com rendimentos mais baixos que os seus pares masculinos
As mulheres que trabalham na agricultura em todo o Mundo, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, constatam que a discriminação de género é transversal, persistente e coloca obstáculos à sua capacidade de ajudar a fornecer alimentos à população mundial, de acordo com o novo estudo da Corteva Agriscience, a Divisão de Agricultura da DowDuPont.
O estudo agora publicado coincide com a celebração do Dia Internacional das Mulheres Rurais. A Corteva Agriscience encomendou o estudo, que se realizou em 17 países, incluindo a Península Ibérica, para destacar a importância das mulheres na agricultura e identificar as barreiras a uma participação plena e bem-sucedida.
O estudo comporta os resultados de 4.160 inquiridas que vivem tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento nos cinco continentes.
“Realizou-se este estudo para entender melhor a actual situação das mulheres agricultoras em todo o Mundo – desde as grandes explorações agrícolas em economias mais avançadas às pequenas propriedades de subsistência nos países em desenvolvimento — e para criar uma linha de base a partir da qual possamos medir o progresso”, afirma Krysta Harden, vice-presidente de Relações Externas e Responsável pela Sustentabilidade da Corteva Agriscience.
Alta percepção de discriminação por género na Península Ibérica
Os resultados do estudo revelam que, apesar de as mulheres se mostrarem unanimemente orgulhosas da sua participação na agricultura, sentem a discriminação de género em todos os lugares. Neste indicador, os países da Península Ibérica encontram-se equiparados à Índia, com 78% do total das inquiridas referindo a discriminação de género. O mais baixo valor é o dos Estados Unidos, com 52%.
Apenas metade das inquiridas afirma ter o mesmo sucesso que seus pares do sexo masculino, com 42% a considerar ter as mesmas oportunidades que os homens e 38% a sentirem-se empoderadas para tomar decisões sobre como investir na agricultura e pecuária.
Quase 40% das inquiridas afirmam ter rendimentos mais baixos que os homens e menos acesso a financiamento. No topo das suas preocupações surgem a estabilidade financeira, o bem-estar de suas famílias e alcançar um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
“Um sentimento de incompreensão”
Segundo Raquel Cortesão, responsável de nutrição animal da Corteva Agriscience Ibéria, existe na Península Ibérica “um sentimento de incompreensão em torno da conciliação e das necessidades familiares no ambiente de trabalho, uma vez que apenas 22% das inquiridas afirmam estar satisfeitas neste aspecto face aos 33% médios. Além do mais, um terço das inquiridas consideram que o seu salário é insuficiente, o que também nos coloca no topo da tabela”.
“Uma das maiores dificuldades sentidas é o tratamento que recebemos da parte de alguns clientes, vendo-nos como objectos e, independentemente da nossa capacidade e domínio técnicos, os comentários ultrapassam em muito esse factor” refere ainda Raquel Cortesão “e impor esse respeito leva bastante tempo numa visita, por vezes bastantes meses, ou anos, até conseguirmos gerir essas intervenções”.
Mais formação
Muitas mulheres afirmam que necessitam de mais formação para tirar partido da tecnologia agrícola, que se tornou essencial para o sucesso económico e gestão do meio ambiente. Este desejo de maior formação surge como o factor mais referido entre as respostas quando se trata de eliminar os obstáculos perante a diferenciação de género. Os números excedem significativamente os 50% nos 17 países do estudo, com Brasil, Nigéria, Quénia, México e África do Sul à cabeça.
Necessidade de eliminar obstáculos
A maioria das mulheres vê progressos na igualdade de género, mas 72% afirmam que levará entre uma a três décadas ou mais para atingir a plena igualdade. De acordo com as respostas, cinco acções-chave são identificadas para eliminar os obstáculos à igualdade:
- Mais formação em tecnologia (80% das inquiridas)
- Maior formação académica (79%)
- Mais apoio – legal e de outro tipo – para ajudar as mulheres agricultoras que sofrem discriminação por género (76%)
- Aumentar a consciencialização pública sobre os sucessos das mulheres na agricultura (referido por 75%)
- Aumentar a consciência social da discriminação de género na agricultura (74%)
“Sabemos que as mulheres representam quase metade dos agricultores mundiais e este estudo confirma que os desafios continuam a existir, pesando não só sobre as mulheres agricultoras, mas também sobre as pessoas que delas dependem: as suas famílias, as suas comunidades e sociedades. Identificar a existência destes desafios é o primeiro passo para remover os obstáculos para as mulheres agricultoras rurais desenvolvam todo o seu potencial”, diz Harden.
Dados do estudo:
- Foi realizado entre Agosto e Setembro de 2018.
- Foram realizados aproximadamente 4.160 inquéritos em 17 países da Ásia-Pacífico (24%), América do Norte (21%), América Latina (21%), Europa (19%) e África (15%).
- A maioria das mulheres está envolvida na agricultura e outras estão envolvidas noutras actividades agrícolas ou relacionadas com a agricultura.
- As explorações agrícolas variam de pequenas propriedades de subsistência a empresas com mais de 300 trabalhadores.
- As suas funções vão de proprietárias e directoras a funcionárias e trabalhadoras.
- A idade média das entrevistadas é de 34 anos.
- Os países incluídos no estudo foram: Ásia-Pacífico – China, Índia, Indonésia, Austrália; América do Norte – EUA, Canadá; América Latina – Brasil, México, Argentina; Europa – França, Alemanha, Itália, Península Ibérica, Reino Unido; África – Quénia, Nigéria, África do Sul.
Agricultura e Mar Actual
Que grande treta. Em Portugal mulheres descriminadas? Ainda por cima na agricultura? Ao nivel da India? Ainda por cima é um contracenso.