Um estudo do CIRAD — Centro de Cooperação Internacional de Pesquisa Agronómica para o Desenvolvimento, francês , demonstra, pela primeira vez, a capacidade do psilídeo africano Trioza erytreae para transmitir eficazmente a CLas, a bactéria causadora da forma mais grave de Huanglongbing (HLB), também denominado Citrus Greening ou Yellow Dragon, a principal doença que afecta a citricultura mundial.
Dado que este vector transmissor já está presente no Sul de Portugal e ameaça atingir as plantações de citrinos de Huelva, os sócios do projecto Pre-HLB, dedicado à prevenção e controlo do HLB, reclamam à União Europeia que tome todas as medidas para evitar qualquer introdução da bactéria CLas, refere a Associação Valenciana de Agricultores (AVA-ASAJA) em comunicado.
E avança que o coordenador do projecto H2020 Pre-HLB, Leandro Peña, adverte que “as conclusões desta investigação são muito inquietantes porque a entrada de plantas infectadas por CLas na Península Ibérica pode ser, portanto, desastrosa para a região. Temos os precedentes de potências como o Brasil, China e Estados Unidos da América, onde a HLB dizimou os cítricos, reduzindo drasticamente o rendimento produtivo as receitas [dos agricultores]. Até ao momento, apenas duas regiões do Mundo se têm salvado: Austrália/Nova Zelândia e o Mediterrâneo. E o risco de que a enfermidade se instale aqui é alto, mais ainda depois de conhecer o resultado deste estudo”.
Várias espécies da bactéria Candidatus Liberibacter spp. causam o HLB nos cítricos. “A de origem asiática (CLas) é a mais agressiva ao induzir sintomas graves que conduzem à morte rápida da árvore”, explica Bernard Reynaud, primeiro autor do estudo e director da unidade de investigação PVBMT do CIRAD/Universidade da Reunión. “Esta bactéria asiática é transmitida de forma natural por outra espécie de psilídeo (Diaphorina citri), também de origem asiática. Mas o consorcio constatou que o psilídeo africano presente na Europa (Trioza erytreae) também é capaz de transmitir eficazmente a bactéria CLas aos cítricos”.
Por sua vez, Hélène Delatte, entomologista do CIRAD e co-autora do estudo, acrescenta que “os testes foram realizados durante seis meses em Reunião, a única região do Mundo onde as duas espécies de psilídeos coexistem com a bactéria CLas”. O resultado conclui que Trioza erytreae carrega quantidades ainda maiores de bactérias do que as espécies asiáticas.
“A originalidade do nosso estudo foi poder comparar a transmissão das duas espécies de psilídeos nas mesmas condições experimentais. Agora vamos continuar trabalhando para melhor caracterizar o ciclo de transmissão e as interacções com CLas no psilídeo africano”, comenta Bernard Reynaud.
Recentemente, a bactéria asiática CLas foi introduzida no continente africano, na Etiópia e no Quénia. Bernard Reynaud adverte que “também é importante reforçar a vigilância em África, uma vez que este vector transmissor está generalizado ali, o que aumenta as áreas de risco”.
O projecto internacional Pre-HLB, financiado pela União Europeia, tem como parceiros espanhóis a Associação Valenciana de Agricultores (AVA-ASAJA), o Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC), o Instituto Valenciano de Investigação Agrícola (IVIA), o Departamento de Agricultura da Generalitat Valenciana, Koppert Biological Systems, Universidade de Girona, ValGenetics, Universidade Politécnica de Valência (UPV), Grupo Martinavarro e a Zabala Innovation Consulting.
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