A União Europeia, no quadro da estratégia do Prado ao Prato, apresentada no Pacto Ecológico da Comissão Europeia, assumiu a intenção de reduzir a utilização de produtos fitofarmacêuticos em 50% até ao ano 2030. Resultado? Segundo o estudo da Agro.Ges, sobre “O Impacto Económico da Redução de Aplicação de Produtos Fitofarmacêuticos na Produção Vegetal em Portugal”, solicitado pela Anipla — Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas, “pode-se concluir que, se fossem retiradas as substâncias activas consideradas em risco de retirada, ao dia de hoje, as duas culturas anuais, milho grão e tomate para indústria, provavelmente desapareceriam”.
O estudo da Agro.Ges, estima perdas muito importantes em todas as cinco fileiras analisadas: vinha para vinho, olival para azeite, pêra rocha, milho-grão e tomate para indústria. As estimativas apontam para perda de competitividade de 50% no milho-gão e entre 20% a 30% no tomate para indústria.
Milho-grão
Num dos casos de estudo da Agro.Ges, sobre o milho-grão no Ribatejo, a consultora refere que “neste caso, os poucos produtos utilizados na cultura são, todos, retirados do mercado, deixando alternativas incompletas na sua acção. No caso do herbicida, de pré-emergência, deixa-se de poder fazer não havendo alternativas a não ser em pós-emergência. Esta alternativa é um pouco mais arriscada, podendo não funcionar com a mesma eficácia e deixar que as searas fiquem infestadas”.
Por outro lado, adianta, “o mercado deixa de oferecer alternativas de insecticidas para tratamento da rosca, o que causa perdas muito graves na produção. Estima-se que entre o risco de aumento da infestação e ataques de rosca, a produtividade seja reduzida em cerca de 50%”.
Também no Minho, o efeito da impossibilidade de combater a rosca faz com que haja “perdas de mais de 40%”.
Explica o estudo da Agro.Ges que, relativamente ao milho, a grande maioria é consumida em Portugal, pelo que “o impacto mais provável será o da substituição por importações intra ou extracomunitárias. Considerando que as condições agroecológicas portuguesas são, na maioria dos casos bastante melhores que as dos restantes Estados-membros para a cultura do milho, pode-se afirmar que o resultado mais provável deste impacto será o da importação de outras geografias onde, certamente, não existe este nível de restrições na aplicação de fitofármacos”.
Tomate para indústria
Já no estudo do tomate para indústria no Ribatejo, a Agro.Ges refere que “existe alterações significativas no protocolo fitossanitário da cultura, com a retirada de algumas substancias activas, nomeadamente o Metame de sódio e a metribuzina”.
No caso do Metame de sódio “haverá um impacto muito elevado nas explorações que necessitem de desinfecção do solo (que não serão todas) pois não existe alternativas, podendo levar a quebras entre os 20% a 25% na produtividade. Esta alteração pode levar mesmo a que os produtores optem por não produzir a cultura”.
Quanto aos herbicidas (metribuzina) “haverá um problema grave nesta cultura pois as principais infestantes são as solanáceas, não existindo alternativas para o seu combate. A solução será a monda manual, que acarreta elevados custos e podendo levar na mesma a perdas de produtividade visto que esta é feita já num estado mais avançado de desenvolvimento da cultura. Estima-se que as perdas produtividade se situem entre os 20% e os 30%”.
Realça o estudo da Agro.Ges que “Portugal tem, mundialmente, uma posição importante – quatro dos 20 grupos empresariais mais importantes na fileira global tinham, em 2018, produção em Portugal”, alertando para a “perda da geração de valor acrescentado para a economia pela exportação de uma commodity tão importante como o concentrado de tomate”.
Pode ler o estudo completo aqui.
Agricultura e Mar Actual