O plástico permanece como um dos derradeiros desafios a uma economia mais sustentável. Na procura por uma alternativa viável aos plásticos de origem fóssil, os bioplásticos são muitas vezes apontados como potencial solução. Mas será que assim é? O director-geral da APED — Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, Gonçalo Lobo Xavier, afirma que o plástico não vai acabar.
Segundo Gonçalo Lobo Xavier, “esta diabolização que assistimos do plástico está enferma de muito desconhecimento por parte da população e às vezes por parte das autoridades, o que urge combater. O que defendemos é o uso racional e responsável do plástico”.
As declarações foram feitas na passada quarta-feira, 16 de Junho, mais um webinar promovido pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal, inserido no ciclo de encontros empresariais dedicado à Economia Circular, uma das acções previstas no projecto Economia+Circular, um projecto desenvolvido com o apoio da EY-Parthenon.
Gonçalo Lobo Xavier deixa ainda dúvidas quanto à “racionalidade económica dos bioplásticos que está longe de estar provada”, com consequências óbvias para as empresas e para os consumidores.
Neste webinar, a APED juntou à mesma mesa empresas, a academia e entidades governamentais com responsabilidades na definição de políticas ambientais e económicas, onde se constatou que há um longo caminho a percorrer até que sejam uma realidade.
Bioplásticos são ainda um desafio
Ana Cristina Carrola, do conselho directivo da Agência Portuguesa do Ambiente, ressalva que os bioplásticos provêm geralmente de fontes renováveis e têm um menor impacto no meio marinho, uma vez que têm uma degradação superior ao plástico tradicional de origem fóssil. Mas reconhece que constituem ainda um desafio, não só em termos do efectivo cumprimento das finalidades várias para que são necessários, como também no que respeita ao tratamento no seu fim de vida.
Para a responsável “é essencial que estes bioplásticos, quando colocados com alguma dimensão no mercado, sejam efectivamente encaminhados pelo cidadão para um destino adequado, um contentor de recolha selectiva que, neste caso, deixa de ser o contentor amarelo e passa a ser o dos biorresíduos. E para tal importa que seja passível de o cidadão os distinguir dos outros, devendo apostar-se numa marcação que permita claramente efectuar esta distinção junto do consumidor”.
E Fernanda Ferreira Dias, da Direcção-Geral das Actividades Económicas, dá o exemplo de Bruxelas, cidade onde, desde 2010, são operados 12 fluxos de resíduos, e reconhece o atraso de Portugal nesta matéria. Mas alerta que este é um caminho de sentido único.
“A mensagem a dirigir às empresas é uma única: tem de haver um alinhamento de objectivos entre os agentes públicos e privados. E o caminho da ecologia e do digital é irreversível. As empresas têm necessariamente de se adaptar a este novo paradigma. Quem for capaz de antecipar essas necessidades e estar preparado para produzir dessa forma vai certamente ser mais competitivo. As empresas devem aproveitar os apoios para se reconverterem. É um caminho de um único sentido, que é o sentido da inovação”, considera Fernanda Ferreira Dias.
Tratamento em fim de vida destes materiais
Às lacunas existentes ao nível da correcta separação dos bioplásticos, somam-se os desafios do tratamento em fim de vida destes materiais. Inês Baeta Neves, da Valorsul, revela que muitos destes bioplásticos não se degradam nos processos de compostagem existentes e acabam por ter de ser encaminhados para incineração ou, quando tal não é possível, para aterro.
Já Ana Vera Machado, da Universidade de Aveiro, admite que há muito ainda por fazer ao nível da inovação. “Está a trabalhar-se muito no desenvolvimento e na substituição de embalagens de uso único, mas os desafios também passam muito pela nossa sociedade. As pessoas têm de ter informação (…) e é necessário potenciar a reciclagem”. Ana Cristina Carrola acrescentou que uma potenciação máxima da reciclagem a nível global permitiria a redução do consumo de matérias-primas primárias em 30%.
Por sua vez, Tiago Filipe, da Silvex, empresa que produz bioplásticos desde 2009 – com cerca de 50% da facturação proveniente da exportação, nomeadamente para Itália, Espanha e França – reconhece que existem desafios no que toca às finalidades de utilização dos bioplásticos mas também em termos legislativos: “Achamos que não faz sentido que um material que vá para compostagem, esteja a pagar algum tipo de ecotaxa”, afirma o responsável da empresa.
O actual ciclo de webinars insere-se no projecto Economia + Circular, promovido pela CIP, o maior e mais completo estudo alguma vez feito em Portugal sobre o tema e cujo inquérito às empresas decorre em paralelo.
Agricultura e Mar Actual