“Haverá animal com maior bem-estar do que o porco alentejano alimentado com erva e bolota?”, pergunta o director-geral da Alporc – Agrupamento dos Lavradores Criadores de Porco Alentejano, Diogo Camarate, constatando que o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) “bonifica as explorações suínas intensivas certificadas em bem-estar animal, mas não reflecte a produção extensiva”.
Em artigo de opinião publicado na 14ª edição do Millennium Agro News, dedicada à fileira dos suínos (carne), Diogo Camarate escreve que “temos tido dificuldade em entender as nossas autoridades competentes. Como se justifica a implementação no PEPAC de medidas específicas para o modo de produção intensivo não tendo em conta o extensivo? Refiro-me, em particular, à medida A.3.5 do PEPAC, a qual bonifica as explorações suínas intensivas certificadas em Bem-estar animal, mas não reflecte a produção extensiva”.
No mesmo artigo, o director-geral da Alporc refere ainda que “não só os mercados, mas também as políticas – nesta fase muito dependentes do PEPAC –, têm de salvaguardar a produção extensiva inserida no montado nacional, conservar a raça como património e fomentar a vitalidade e o investimento na agroindústria, apoiadas no montado e em produções ao ar livre”.
Diminuição gradual dos efetivos
Diogo Camarate chama ainda a atenção para que “nos últimos anos, tem-se observado uma diminuição gradual dos efectivos nacionais devido à evolução dos custos de produção sem um verdadeiro reflexo nos preços de mercado. Com esta dinâmica, apareceu a pandemia da Covid-19 que veio criar ainda mais incertezas no sector, levando ao desaparecimento de um maior número de produtores2.
Em 2022, fruto principalmente da guerra russo-ucraniana, “deu-se uma escalada dos custos tanto a nível da energia como das matérias-primas o que fez com que os preços dos alimentos compostos sofressem aumentos entre 72% e 74%, quando comparados com o mês homólogo do ano 2020”.
E nos últimos 24 meses, “o porco de campo também se deparou com aumentos de preços na ordem dos 55% a 58%, sendo, todavia, insuficientes para fazer frente ao aumento dos custos de produção, o que fez reduzir ainda mais a rentabilidade das explorações desta raça autóctone”, acrescenta aquele responsável, frisando que além disso, “o modo de produção do porco alentejano foca-se, sobretudo, na montanheira e na alimentação com bolota, sendo o mercado controlado pelas indústrias espanholas e onde se esperam aumentos no valor de comercialização dos porcos na ordem dos 12% a 17% relativamente 2020, não sendo suficientes para compensar o elevado risco e empate de capital indexados a este segmento de produto”.
Pode ler a 14ª edição do Millennium Agro News aqui.
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