As alterações climáticas, no cenário actual, podem causar uma perda de mais de 90% das receitas no turismo nas áreas de recifes de coral, enquanto alguns países da África Ocidental vêm as previsões para os seus stocks de pesca diminuírem em 85%, de acordo com novo estudo sobre os impactos climáticos país-a-país nos sectores chave da economia do mar publicado hoje, 6 de Dezembro, enquanto os lideres mundiais estão reunidos em Madrid na Conferência do Clima (COP25).
Encomendado pelo Painel de Alto-Nível para a Economia do Mar Sustentável – um grupo de 14 líderes governamentais – ‘Impactos das alterações climáticas esperados na economia do mar’ avalia os impactos climáticos globais e locais em três das maiores fontes de rendimentos e emprego marítimos: o turismo em áreas de recife de coral, as pescas e a maricultura.
Lista de impactos severos
A análise detalha uma vasta lista de impactos severos que as alterações climáticas irão provocar nos oceanos e na economia do mar e apela a uma resposta global de futuro, cooperativa e equitativa. Esta análise insiste numa acção urgente para travar as emissões globais de carbono, associada a uma abordagem adaptativa à gestão dos nossos recursos oceânicos de forma a enfrentar um aumento expectável das diferenças sócio-económicas. Tal resposta irá, não só, melhorar a resiliência e a prova-de-futuro destas indústrias vitais, mas poderá também aumentar os lucros.
Steve Gaines, co-autor desta análise e representante do grupo de especialistas do Painel de Alto- Nível afirma que “só agora começamos a compreender o pleno impacto que o actual nível do aquecimento global irá desencadear nas nossas indústrias de base-marítima chave – e está a arrefecer. Para evitar a crise económica eminente, a devastação alargada das comunidades, fome e os conflitos por recursos nas próximas décadas, devemos restaurar com urgência a saúde dos oceanos. Isto quer dizer agir rapidamente e de forma ambiciosa para travar as alterações climáticas, enquanto se alivia as outras enormes pressões que pomos sobre os oceanos. Felizmente, acções corajosas tomadas hoje poderão ter benefícios significativos para a maioria dos países”.
Avaliar os impactos a nível regional e nacional
Aplicando novos modelos para avaliar os impactos a nível regional e nacional, a análise constrói-se sobre as estimativas do Painel inter-governamental para as Alterações Climáticas (IPCC) sobre o declínio na saúde dos oceanos induzida pelo clima que vai custar à economia global entre 428 mil milhões de dólares em 2050 e 1.979 mil milhões de milhões de dólares em 2100. Isto realça que, enquanto a severidade varia de forma significativa em diferentes países e cenários climáticos, os mais impactados negativamente serão os países em desenvolvimento ao longo do equador que menos têm contribuído para o nível actual de aquecimento global e que frequentemente dependem do turismo nas áreas de recifes de coral e dos stocks pesqueiros para sustentar o seu modo de vida e garantir a segurança alimentar.
Uma conclusão importante é a extensão das migrações dos peixes para águas mais frias à medida que o oceano aquece e se torna mais ácido nos cenários climáticos futuros. Isto irá prejudicar as comunidades pesqueiras em algumas regiões e aumentar o potencial para conflitos devido a alterações da disponibilidade de recursos.
Acentuação das diferenças globais
O presidente do Gana, Nana Addo Dankwa Akufo-Addo, afirmou ser “óbvio que as alterações climáticas são a razão da acentuação das diferenças globais, tornando ainda mais difícil para os países em desenvolvimento como o nosso suportar os seus impactos desastrosos. Para atingir o nosso objectivo de uma África para além do Auxílio, enquanto se evita o aumento dos conflitos por recursos, a nossa resposta às alterações climáticas deve ter visão de futuro, e deve ser cooperativa e equitativa. Repensar como gerimos os nossos recursos enquanto as espécies saem e entram nas nossas águas é vital, não só para a nossa produção sustentável de alimento e prosperidade, mas também para a nossa própria sobrevivência a médio prazo”.
Turismo em áreas de recife de coral
O turismo em áreas de recife de coral, que vale 35.8 mil milhões de dólares ao ano globalmente, sofrerá também muito o impacto das alterações climáticas. A análise país-a-país mostra que, de acordo com o nível actual, as alterações climáticas irão causar uma perda de rendimentos de mais de 90% em todas as regiões em 2100, subindo para uma média de 95% no Egipto, na Indonésia, no México, na Tailândia e na Austrália, a base das cinco maiores indústrias de turismo em áreas de recifes de coral. Mesmo que se adoptem medidas para cortar as emissões de carbono, é expectável que a indústria sofra perdas económicas até 66%.
Por sua vez, o primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness, afirma que “os pequenos Estados-Ilha como a Jamaica, têm contribuído ainda menos para as alterações climáticas, em virtude da nossa geografia, somos fisicamente vulneráveis à retirada do turismo, e por isso também fiscalmente vulneráveis aos seus impactos. Quase um quarto da nossa economia é originada pelo turismo, por isso é imperativo uma acção rápida para reverter estes impactos catastróficos nos nossos recifes de coral. A Jamaica irá fazer o seu papel, e esperamos que os países em desenvolvimento façam o mesmo”.
Resposta com visão de futuro
O estudo apela a uma resposta com visão de futuro, cooperativa e equitativa para a gestão dos impactos das alterações climáticas na economia do mar. Este dá ênfase à importância da gestão adaptativa das pescas e a novos acordos cooperativos através das fronteiras nacionais, regionais e internacionais para garantir que as espécies sejam bem geridas à medida que os seus habitats se alteram. Este estudo sublinha que muitos países poderiam manter, mesmo aumentar os lucros e capturas no futuro através desta abordagem, porém destaca que mesmo as melhoras reformas das pescas não serão capazes de neutralizar os cenários mais negativos de alterações climáticas.
Nestas circunstâncias, o desenvolvimento de uma maricultura sustentável e climaticamente resistente poderia ser uma parte importante da solução para alguns países. Para ajudar a preservar a indústria do turismo em áreas de recife, a resiliência dos ecossistemas oceânicos deve ser reforçada através da conservação, restauração e outras medidas, tais como a redução do impacto climático do turismo.
Já Eric Schwaab, vice-presidente sénior do Fundo de Defesa Ambiental dos Oceanos (Oceans Environmental Defense Fund) e membro da rede de aconselhamento do Painel de Alto-Nível, disse que “a magnitude das perdas será substancial se falharmos na adopção em paralelo de medidas na gestão das pescas e de acção climática. As alterações climáticas já estão a alterar fundamentalmente os ecossistemas oceânicos, a impactar a abundância e de peixes e as áreas de captura. Mas nem tudo está perdido. Se limitarmos as emissões de carbono e acelerarmos na gestão e sustentável das pescas, o oceano pode ainda ser uma importante fonte de alimento, nutrição, de sustento e bem-estar para milhões de pessoas em todo o Mundo”.
Pode consultar o estudo completo aqui.
Agricultura e Mar Actual