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A viabilidade da agricultura portuguesa estará em causa?

Artigo de opinião de José Ramalho Fontes, Presidente da AESE Business School

Com o apoio da União Europeia, o Expresso, chamando a atenção para o arranque da nova PAC, Política Agrícola Comum, em 1 de janeiro próximo, anunciava o lançamento de uma série de artigos sobre a agricultura portuguesa. Titulava o artigo de abertura, de página inteira, com a frase “É preciso garantir a viabilidade da agricultura portuguesa”. Depois, o autor do artigo, Paulo Brilhante, explorava o tema com base na opinião de quatro personalidades bem conhecidas do setor que, esquematicamente, apresentavam quatro grandes temas a ter em conta:

– As profundas alterações climáticas defrontam-na com diversas exigências porque tem de produzir mais alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir o consumo de recursos e diminuir as emissões de carbono e metano, afirmava António Serrano, ex-Ministro da Agricultura. E o autor do artigo citava o mesmo, Professor da Universidade de Évora, afirmando que os portugueses têm de garantir que haja atividade viável, sustentável e equilibrada contra a desertificação e outros problemas;

– A erosão e a diminuição de matéria orgânica nos solos devido aos incêndios e aos períodos de secas severas dão ao setor uma especial vulnerabilidade e dificuldade na resolução dos problemas, acrescidos com os demais fatores atuais como sejam a crise energética e a inflação. Neste contexto, o artigo citava Francisco Cabral Cordovil, que advertia as autoridades para “com confiança e determinação apoiar os agricultores sem oferecer facilidades, promovendo políticas inovadoras e eficazes, fundadas numa pedagogia de verdade, e numa ética de solidariedade e responsabilidade”;

– O chefe de gabinete ajunto do Comissário Europeu para a Agricultura apelava para incentivar a transição para cadeias de abastecimento diversificadas e práticas de gestão de recursos que façam sentido para o planeta e para as gerações futuras, além de fazer outras recomendações para a sociedade envolvente. Atualmente, afirmou, trabalha-se em iniciativas para aumentar a resiliência da nossa agricultura;

– Por fim, o Comissário para a Agricultura referia a importância das cadeias de abastecimento mais curtas e justas, e apelava para a luta contra o comportamento comercial desleal, afirmando que a nova PAC “é mais ecológica, justa e eficaz, produzindo resultados para os agricultores e para os cidadãos, reforçando a resiliência do setor agrícola e a continuidade da produção alimentar”.

A ambição da série e as afirmações que o jornalista selecionou das contribuições dos especialistas e responsáveis, em resumo, apresentam um setor ameaçado, que talvez não seja viável, que não pode ser enganado com facilidades e que tem de ter em especial atenção a proteção do ambiente e o clima, como se isso fossem novidades.

Existe um défice de gestão em muitas empresas em que os donos, os seus responsáveis, ainda não sabem libertar-se do dia-a-dia e vivem afogados em problemas sem terem capacidade de delegar essas atividades para os outros, para gestores contratados ou fiéis colaboradores, mais jovens

Um especialista desconta o dramatismo jornalístico e compreende o texto, aqui baseado em citações parciais, mas o leitor do conhecido semanário ficará impressionado negativamente com esse panorama, fortalecendo ainda a imagem popular de há tempos que identificava a agricultura como a arte de empobrecer alegremente, que teria também confirmação nas notícias recente relativas à seca extrema e ao conhecido aumento dos custos dos recursos.

Um outro tipo de leitores também pode ficar surpreendido com a perspetiva negativa que contrasta com a sua experiência de continuidade de abastecimentos durante a pandemia, com alguns êxitos nas exportações de setores específicos – frutas e legumes, fileira dos porcos, vinhos – e, em geral, com o conhecimento do facto de se conhecerem grandes investimentos estrangeiros nas frutas, no azeite, nas amêndoas e nozes, etc..

Qual é, então, a verdadeira realidade da agroindústria, do setor alimentar em Portugal? Um setor muito dinâmico em que cada vez mais empresas desenvolvem uma gestão moderna baseada nas virtudes portuguesas tradicionais da boa produção, mas com um crescente e sustentado recurso a práticas financeiras de gestão do médio prazo, com recurso a uma atividade comercial e de marketing planeada profissionalmente e não à base do impulso e de ações pontuais baratas – ‘não temos dinheiro para mais’ – e, sobretudo, focadas nas exportações, sem esquecerem o mercado interno.

Mas não existem dificuldades no setor que justifiquem o tom negativo e algum apontamento ‘pedagógico’ e paternalista, não têm fundamento? De facto, a transformação não é amplamente horizontal e generalizada porque existe um défice de gestão em muitas empresas em que os donos, os seus responsáveis, ainda não sabem libertar-se do dia-a-dia e vivem afogados em problemas sem terem capacidade de delegar essas atividades para os outros, para gestores contratados ou fiéis colaboradores, mais jovens.

Só quando se libertarem do quotidiano e puderem refletir nas suas experiências, visitar outros países e mercados, partilharem informações verdadeiras com colegas e concorrentes é que poderão explorar todo o seu potencial de verdadeiros empresários, de líderes que galvanizam equipas de forma sustentada, que fazem crescer as empresas em faturação e, sobretudo, em margens.

Constata-se que essa diferença de comportamentos começa a germinar quando o dirigente, o proprietário, toma consciência que não sabe tudo, que pode ‘abandonar’ a empresa nalguns dias, sem medo a que tudo derrape, para investir em cursos ou programas porque tem de aprender. É a chamada formação executiva que, entre outras, é proporcionada na AESE Business School, a primeira escola de negócios portuguesa, que oferece o Programa GAIN, Direção de Empresas da Cadeia Agroalimentar, para além dos programas gerais como o PADE, desde 1980, o PDE e o PGL, assim como o MBA.

Nos sete anos que decorreram desde o primeiro GAIN, formaram-se mais de uma centena e meia de dirigentes deste setor que validam a metodologia do método do caso, originária de Harvard, e a articulação das suas sessões em que se discutem casos com temas de operações, de gestão do talento, de contabilidade e finanças, de comercial e marketing e, de estratégia, discussões preparadas no trabalho prévio, nos grupos. Adicionalmente, os grupos trabalham simulações e realizam-se visitas de estudo.

Para consolidar o crescente sucesso das empresas do setor alimentar português, numa frase aparentemente paradoxal, os dirigentes de topo precisam de trabalhar menos, mas trabalhar melhor, de deixar que os seus diretores façam mais erros porque são mais independentes e inovadores, e gastar mais dinheiro, investindo em formação. No médio prazo, vão certamente poupar.

Agricultura e Mar

 
       
   
 

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