AGRICULTURA E MAR Revista do mundo rural e da economia do mar
O Guia de Boas Práticas para o Uso da Confusão Sexual na Protecção contra a Traça-da-uva na Vinha de Encosta já disponível online. Este trabalho, produzido no âmbito do projecto CSinDouro, pretende apresentar de forma simples e ilustrativa, aos viticultores e técnicos da Região Demarcada do Douro, as oportunidades e especificidades deste método de protecção inovador e sustentável, incluindo conselhos práticos para a sua implementação.
São, ainda, abordados os principais constrangimentos encontrados na aplicação deste método na região e indicam-se formas possíveis de os ultrapassar.
A confusão sexual é um método eficaz de protecção da vinha contra a traça-da-uva, constituindo uma alternativa ao uso de insecticidas de síntese, com reconhecidas vantagens ao nível da ausência de efeitos negativos na saúde humana e ambiente, promovendo uma viticultura cada vez mais sustentável.
Explicam os autores do Guia que a redução do uso de pesticidas de síntese tem sido fortemente encorajada pela Comissão Europeia, o que promove o interesse crescente do sector vitivinícola pela aplicação de estratégias de protecção da cultura com menor impacto na saúde humana e no meio ambiente. Entre estas estratégias destaca-se o uso da confusão sexual.
Na Região Demarcada do Douro (RDD), a confusão sexual começou a ser usada como método de protecção contra a traça-da-uva, a título experimental, em 2000. Desde então, a ADVID — Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense tem promovido o seu emprego junto dos seus Associados e na região.
A experiência assim acumulada ao longo de mais de 20 anos, a par do conhecimento obtido no decurso de diversas parcerias, estabelecidas designadamente no âmbito dos projectos EcoVitis: maximização dos serviços do ecossistema vinha na Região Demarcada do Douro e CSinDOURO permitiram identificar constrangimentos à aplicação da confusão sexual na RDD, e introduzir melhorias ao seu uso.
E acrescentam que, nessas condições, “pode hoje dizer-se que a confusão sexual é um método eficaz de protecção da vinha contra a traça-da-uva na RDD, constituindo uma alternativa ao uso de insecticidas de síntese, com reconhecidas vantagens ao nível da ausência de efeitos negativos na saúde humana e em organismos não-alvo, assim como, de resíduos na produção”.
Traça-da-uva
Explica o Guia que a traça-da-uva, Lobesia botrana, é considerada praga-chave da vinha na Região Demarcada do Douro, onde pode provocar prejuízos significativos, não tanto a nível directo, mas principalmente por promover o desenvolvimento de podridão-acética e podridão-cinzenta, com impacto negativo na qualidade dos vinhos produzidos.
Na RDD, onde a traça-da-uva geralmente desenvolve três gerações anuais, a importância dos estragos é sobretudo relevante nas sub-regiões do Baixo Corgo e Cima Corgo. Almeida (2021) ao analisar dados históricos (2000-2020) sobre o ataque da praga nas três sub-regiões, verificou que, no caso da casta Touriga Franca, os níveis de infestação foram inferiores no Douro Superior, comparativamente às outras duas sub-regiões, nas quais não diferiu.
Com o advento da protecção integrada, foi possível alterar práticas de protecção contra a traça-da-uva, demonstrando que o tratamento contra a primeira geração não era, regra geral, necessário. Na verdade, o ataque até poderia ser benéfico do ponto de vista de monda natural de flores, em castas com cachos mais compactos (p.ex.: Touriga Franca e Tinta Amarela).
Com as alterações climáticas verificadas na última década, a praga tem tido menor incidência na região. Contudo, em parcelas localizadas perto de linhas de água, continua a desenvolver-se com alguma intensidade, podendo ultrapassar os níveis económicos de ataque aconselhados para a segunda e terceira gerações nas condições da RDD (isto é, 2ª geração: 10% de cachos atacados; 3ª geração: 5% cachos atacados).
Pode ler o Guia de Boas Práticas para o Uso da Confusão Sexual na Protecção contra a Traça-da-uva na Vinha de Encosta aqui.
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