Um estudo da Universidade dos Açores revela que 90% dos cagarros juvenis ingeriram partículas de plástico, mesmo sem saírem do ninho.
O Director Regional dos Assuntos do Mar afirmou hoje, 9 de Outubro, que a campanha SOS Cagarro se constitui como “uma importante iniciativa de ciência cidadã” nos Açores, através das brigadas científicas, ou seja, de saídas de campo em que os participantes registam informação sobre os cagarros que são encontrados.
Filipe Porteiro, que falava sessão de abertura online da campanha SOS Cagarro 2020, referiu que, “por outro lado, esta campanha potencia também a investigação”.
“Através dos cagarros recolhidos sem vida durante as brigadas científicas são obtidas informações com relevância científica”, disse, acrescentando que as aves mortas são preservadas e estudadas por equipas da Universidade dos Açores que analisam o conteúdo estomacal, para detecção de plástico.
“Este estudo concluiu que cerca de 90% dos juvenis ingeriram partículas de plástico, mesmo sem saírem do ninho, ou seja, os seus progenitores alimentaram-nos também com pequenos fragmentos de plástico que recolheram à superfície do oceano”, frisou.
Bioindicador das tendências de abundância de plásticos
Filipe Porteiro referiu que se pretende “manter este programa de monitorização anual, que utiliza o cagarro como um bioindicador das tendências de abundância de plásticos na superfície do oceano”.
“Hoje, o SOS Cagarro deixou de ser apenas uma campanha de conservação desta ave marinha, que continua a ser o objectivo central da iniciativa”, disse, acrescentando que, “ao longo do tempo, o SOS Cagarro passou a ter também relevância como iniciativa de educação ambiental, ao envolver muitos dos nossos jovens e adultos”.
“Para além de ter incorporado nos últimos anos uma valência científica, com as brigadas científicas, mais recentemente começou a actuar na verdadeira causa do problema [a queda de cagarros], ou seja, na diminuição da poluição luminosa em locais reconhecidos como críticos para a sobrevivência destes juvenis”, disse aquele responsável.
“O objectivo agora é implementar medidas que sejam mitigadoras das pressões a que estas aves marinhas estão sujeitas, como é o caso da poluição luminosa”, salientou o Director Regional, referindo que “cada vez mais entidades públicas e privadas têm aderido ao SOS Cagarro, diminuindo a intensidade luminosa neste período em que estas aves saem do ninho, permitindo que sigam as suas rotas migratórias sem serem afectadas”.
Projecto Interreg Mac LuMinAves
Filipe Porteiro destacou, neste sentido, a importância do projecto Interreg Mac LuMinAves, que permitiu conhecer melhor o fenómeno dos impactos da poluição luminosa nesta ave e assim desenhar estratégias de actuação mais eficazes para a sua mitigação.
O Director Regional sublinhou que “o sucesso” do SOS Cagarro, que conta com mais de duas décadas, se deve “à participação activa” dos cidadãos voluntários e das entidades parceiras.
“É muito satisfatório constatarmos que mantemos um nível de participação elevado”, disse Filipe Porteiro, apelando para que, com as devidas medidas de segurança devido à pandemia de covid-19, este ano os cidadãos participem “de forma expressiva nas brigadas científicas”.
Campanha decorre até 15 de Novembro
A campanha SOS Cagarro, que decorre até 15 de Novembro, é coordenada e dinamizada pelo Governo Regional dos Açores, através da Direcção Regional dos Assuntos do Mar, em parceria com a Direcção Regional do Ambiente, através dos Parques Naturais de Ilha, da Azorina e de muitas entidades públicas e privadas, incluído empresas ecoturísticas e associações de defesa do ambiente.
Para mais informações, os interessados podem consultar a página do SOS Cagarro, aqui.
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