Artigo de opinião de Rosa Moreira, Eng.ª Agrónoma, promotora do site A Cientista Agrícola
O que se posso produzir? Qual o sistema de culturas que devo escolher?
Regra geral, deve produzir-se apenas o que se consegue vender ou “escoar” e não vender-se o que se consegue produzir. Por essa razão, o produtor agrícola, para além de ter o pleno conhecimento do “produto” que consegue vender, necessita de ter conhecimentos multifacetados. Necessita de ter conhecimentos sobre solos, sobre os vários tipos de sistema de culturas ,topografia, clima, sobre o uso de variedades de sementes e de raças animais.
Não deve esquecer-se no entanto de considerar as opções de cultivo e de uso de factores de produção, assim como os seus impactos ambientais. Deve ser também preocupação do agricultor em conservar os activos da sua exploração/negócio agrícola nomeadamente recursos naturais (solos, água, biodiversidade, etc.), sempre tendo como foco a continuidade do seu uso, ou seja a prática de uma produção sustentável. É preciso ter em atenção que o produtor agrícola confronta-se, diariamente com vários elementos do meio ambiente, que condicionam em grande medida o que se pode produzir, pelo que deve ter a máxima atenção.
Fonte da imagem: Jorge Quadros
Condicionantes a ter em consideração na escolha dum sistema de culturas/rotação de culturas
A escolha das culturas a realizar carece da consideração e análise de uma série de variáveis chave. Normalmente, consideram-se as seguintes variáveis ou limitações aquando do momento de escolha de um sistema de culturas/rotação de culturas:
Condições edafo-climáticas
- radiação;
- temperatura;
- precipitação;
- evapotranspiração;
- geadas;
- tipo de solo;
- declive;
- pedregosidade;
- espessura efectiva do solo;
- défice hídrico;
- características químicas,físicas e biológicas do perfil cultural;
- entre outros;
Recursos disponíveis
- terra;
- mão-de-obra;
- água;
- capital;
Condições económicas
- condições de mercados/preços dos factores de produção e de escoamento dos produtos;
- regime de acesso e a taxa de juro do crédito, etc.);
Condições específicas da própria exploração
- dimensão da exploração;
- capacidadede organização empresarial;
- valores e gosto pessoal do empresário;
Fonte da imagem: idealmt.com.br
Chave dicotómica para a eleição dos sistemas de cultura
Para o auxiliar no processo de escolha dos sistemas de cultura mais adequados ao seu caso, pode começar por “tentar” responder às palavras-chave desta chave dicotómica abaixo:
Fonte da imagem: Gestão da Empresa Agrícola no Século XXI Manual II – Gestão e Administração de Empresas
Definição/escolha do sistema de culturas e da rotação de culturas
Uma das mais importantes decisões de âmbito estratégico, refere-se à escolha do sistema de produção, ou seja, à definição das culturas e actividades agrícolas a realizar. Um sistema de produção caracteriza-se por integrar e articular as principais culturas e práticas culturais seguidas
numa exploração agrícola. Pode classificar-se segundo a orientação dominante ou predominante em:
- arvense de regadio;
- arvense de sequeiro;
- hortícola;
- pecuário;
- agropecuário:
Quanto ao regime, pode ainda classificar-se em :
- intensivo;
- extensivo;
Outras considerações importantes a tomar na escolha de um sistema de culturas
Precisamos, ainda, de tomar em consideração as condições específicas da própria exploração, associadas, por exemplo, com a sua dimensão, o grau de mecanização, a capacidade de organização empresarial e os valores e gosto pessoal do empresário (tipo de actividades que deseja ou prefere). Precisamos, também, de identificar eventuais restrições comerciais e/ou institucionais relacionadas, por exemplo, com as condições de mercados/preços de escoamento dos produtos, com o regime de acesso e a taxa de juro do crédito, etc.
Escolhido o sistema de produção é tempo de passarmos aos próximos dois passos, que passam peladefinição do sistema de cultura e a rotação.
O que é um sistema de cultura?
Reflecte o modo como se pode manter ou aumentar a fertilidade do solo, quer recorrendo a rotação e/ou técnicas mais indicadas, caso da fertilização, quer pelo contrário orientado a produção para fracas exportações. Pode caracterizar-se pela prática da rotação, ou da monocultura, e pela adopção de técnicas convencionais, ou alternativas (do tipo produção integrada, agricultura biológica, etc.) Pode caracterizar-se pela prática da rotação, ou da monocultura, e pela adopção de técnicas convencionais, ou alternativas (do tipo produção integrada, agricultura biológica, etc.)
Uma vez seleccionadas as culturas possíveis em função dos factores físicos – solos e clima – é, agora, necessário apurar das disponibilidades de , trabalho, água, capital e outros factores, para a efectiva realização das culturas.Por vezes, a restrição para a realização de uma determinada actividade não resulta dos factores físicos como factores climáticos mas muitas vezes da impossibilidade de realizar a actividade ou por falta de mão-de-obra na quantidade e qualidade exigidas, ou por falta de água para cobrir as necessidades hídricas da cultura, ou por falta de dimensão da exploração para viabilizar minimamente o investimento exigido pela actividade, ou,simplesmente, por falta de capital para investir.
Objectivos da prática da rotação de culturas
Os objectivos visados com a prática da rotação de culturas são:
- Manutenção da fertilidade dos solos;
- Manutenção e/ou melhoria da cultivabilidade dos solos;
- Promoção de técnicas de protecção integrada;
- Optimização no tempo dos recursos da exploração;
- Optimização das receitas de tesouraria ao longo do ano;
- Diminuição do risco ligado a acidentes climáticos ou de mercado.
O processo de definição de uma rotação começa, normalmente, pela escolha de uma cultura que, quer pelo seu particular interesse económico, quer pela intensificação cultural a que obriga, tem uma posição predominante no conjunto de culturas da rotação, sendo por isso designada por cabeça de rotação. A escolha desta cultura é determinante na definição da duração da rotação (que tem a ver com o seu período de recorrência) e das culturas que a seguem e precedem na sequência temporal, pelo que se deve empregar a máxima ponderação na sua escolha. A construção do sistema de cultura faz-se, pois, a partir da escolha e eleição da cultura cabeça de rotação, sendo todas as restantes culturas incorporadas segundo uma oportunidade e uma ordem que visam propiciar óptimas condições para a primeira. Em esquema, podemos resumir tudo isto da seguinte forma:
Fonte da imagem: Gestão da Empresa Agrícola no Século XXI Manual II – Gestão e Administração de Empresas