Artigo de opinião do site A Cientista Agrícola
Autores:
António Freitas da Silva (Estudante de Mestrado em Engenharia Agronómica no Instituto Superior de Agronomia (Lisboa)
Célcio Luamba (Estudante de Mestrado em Engenharia Agronómica na Faculdade de Ciências Agrárias (Angola) e no Instituto Superior de Agronomia)
Nuno Amaro nunoaeamaro@gmail.com (Estudante de Mestrado em Engenharia Agronómica no Instituto Superior de Agronomia (Lisboa))
Pedro Rodrigues pedros_r@live.com.pt (Estudante de Mestrado em Engenharia Agronómica no Instituto Superior de Agronomia (Lisboa))
Sistemas de mobilização do solo
No geral, os sistemas de mobilização do solo praticados dividem-se em: mobilização convencional, mobilização mínima e não-mobilização. Estas práticas têm diferentes influências nas características físicas e químicas do solo, devido a esse facto, os níveis de compactação do solo também irão variar.
O sistema de mobilização convencional é o mais utilizado e normalmente está associado à inversão das camadas do solo (reviramento da leiva), a mobilização mínima interdita o recurso a qualquer tipo de mobilização que execute o reviramento do solo, permitindo apenas a utilização de alfaias que executem mobilização vertical das camadas do solo e a não-mobilização não possibilita qualquer tipo de mobilização do solo (Pinto, 2015).
Segundo Freixial e Carvalho (2013), a agricultura de Conservação (mobilização mínima e não-mobilização) tem efeitos positivos sobre as características químicas, físicas e biológicas do solo. Entre elas destacam-se o aumento de bioporos, o maior volume explorado pelas raízes, superiores taxas de infiltração de água, acréscimo dos teores de MO, etc. Para os agricultores, a adopção da Agricultura de Conservação, reflecte-se numa redução de factores de produção (Freixial e Carvalo, 2013) e de menores passagens nas parcelas cultivadas (Kroulík et al., 2009).
A maioria das operações agrícolas são realizadas por máquinas com rodas, mesmo em sistemas de não-mobilização (Tullberg ,1990). Um estudo realizado na Escócia com o intuito de compreender melhor a compactação causada pelas passagens das máquinas agrícolas nos diferentes sistemas de mobilização do solo , monitorizou a fase de preparação da sementeira de Primavera da aveia e constatou que em sistemas de mobilização tradicional existe uma cobertura de aproximadamente 91% da parcela pelas passagens das máquinas (Soane et al., 1982), enquanto que em sistemas de não mobilização apenas 30%. Também foi avaliado o sistema de mobilização do solo mínima, havendo uma cobertura superior a 60% (Hamza e Anderson, 2005) (Figura 5).
Pode se concluir que, apesar de em não-mobilização haver uma redução apreciável do número de operações, continua a ser necessário a realização de outras operações culturais, como a sementeira e a colheita (Tullberg et al., 2007).
Desenvolvimento e produtividade das culturas
A produtividade parcial da terra é medida pelo volume de produção agrícola obtido por hectare de superfície agrícola cultivada (Avillez, 2017).
O desenvolvimento das culturas e, consequentemente, a produtividade pode decrescer devido ao aumento da resistência mecânica do solo, à redução da porosidade, à reduzida disponibilidade de nutrientes e água e ao aumento da incidência de doenças (Tavares Filho et al., 2001; Streck et al., 2004; McKenzie, 2010).
Mantovani (1987), enumera alguns sintomas visuais do efeito da compactação do solo em plantas, sendo eles: demora na emergência das plantas, plantas com altura mais reduzida que o espectável, folhas com coloração não-característica, sistema radicular superficial e raízes malformadas.
Também Bergamin et al. (2010), concluíram que a compactação influencia negativamente o sistema radicular do milho, ou seja, existe um menor volume de solo explorado pela cultura. Assim, o sistema radicular absorve menos água e reduz o potencial hídrico e a pressão de turgescência das células das raízes, aumentando a produção e concentração de ácido abscísico (ABA). O ABA é translocado para a parte aérea das plantas (via xilema), provocando na planta uma redução da condutância estomática, da actividade fotossintética e da expansão foliar (Davies et al., 1994).
Diversos estudos realizados sobre a compactação do solo, concluíram que:
- na cultura da soja, houve a redução da disponibilidade dos nutrientes N, P, Ca e Mg e aumento dos teores de K e S (Valadão, 2016);
- a produtividade da cultura do milho decresceu 50 e 25% com compactação severa e moderada, respectivamente (Gaultney et al., 1982);
- em solos de textura franco-arenosa, na cultura da soja, verificou-se que a simbiose planta x Rhizobium foi afectada negativamente e, esse facto, resultou num menor teor de N na parte aérea da cultura, mas verificou-se, também, um aumento dos teores de P (Borges et al., 1998);
- na cultura de trigo, o teor de azoto na planta decresceu cerca de 30% (à quarta passagem do tractor) (Kuht e Reintam, 2004);
- na cultura do milho, verificou-se maior densidade de raízes e mais superficiais, maior diâmetro e maior matéria seca das raízes. Obteve-se uma redução a produtividade da cultura em 2,5 ton ha-1(Freddi, 2007).
Monitorização das mobilizações com base na Agricultura de Precisão
Pesquisas realizadas provam que a degradação das propriedades do solo causada pela compactação pode persistir por mais de 100 anos no solo (Sharratt et al., 1998).
Para solucionar os problemas de compactação, propõe-se a recolha e análise de informação relativa à parcela e daí proceder a uma gestão diferenciada da mobilização do solo.
Conceitos teóricos
A condutividade elétrica (CE) do solo relaciona-se positivamente com o teor de argila, ou seja, solos de textura mais grosseira (arenosos) possuem valores inferiores de CE, comparando com solos de textura pesada (argilosos) (Garcia, 2017)
Relação entre a condutividade eléctrica do solo e a sua textura.
Fonte: https://www.pitchcare.com/news-media/mapping-soils.html
O instrumento de sondagem que permite caracterizar a compactação do solo é o penetrómetro. Estes determinam a resistência mecânica que o solo oferece à penetração, possibilitando quantificar, em profundidade, o grau de compactação e, assim, estimar a resistência que o solo oferece à penetração radicular (Gomes e Peña, 1996).
Medição da resistência do solo através do uso de penetrómetro.Fonte: http://martinlishman.com/soil-compaction-tester/
Solução prática para a compactação do solo com base na Agricultura de Precisão
Segundo um trabalho desenvolvido por Yevgen Mykhaylichenko (2018), inicialmente, recolhem-se diversas informações da parcela (condutividade eléctrica do solo, mapas de NDVI, mapas de produtividades obtidas). De seguida, analisa-se a variabilidade textural da parcela e escolhem-se pontos para se proceder à amostragem da resistência do solo. Com as várias amostras efectuadas, criam-se mapas de resistência do solo. O cruzamento do mapa de resistência do solo e as rotas efectuadas pelas máquinas agrícolas poderão demonstrar zonas de elevada compactação em profundidade (trilhos de passagem sucessiva de tractores, cabeceiras, etc). Assim, efectuadas todas estas etapas, será apresentado um mapa, que será introduzido no tractor, com zonas de diferentes resistências do solo e que permitirá determinar zonas de mobilização e regular a profundidade de actuação da alfaia (Variable Tillage Depth Map).
Etapas de uma solução para a gestão da compactação do solo através da Agricultura de Precisão.Fonte: Yevgen (2018)
Esta solução apresentada tem como objectivos: a redução dos custos de mobilização do solo por hectare, a uniformidade das características da parcela e, por fim, o aumento da eficiência de campo.
Conclusão
Tendo em consideração as informações apresentadas neste trabalho, conclui-se que solos de textura mais argilosa e com menores teores de MO são potencializadores da compactação do solo. Por outro lado, o uso de maquinaria com menor peso e com maior área de contacto com o solo, o uso controlado de alfaias em zonas específicas e com o solo no período de sazão, associado a sistemas de produção e mobilização sustentáveis, promovem uma redução da compactação das camadas do solo.
Todos os factores apresentados neste trabalho podem ser geridos de forma a minimizar os efeitos da compactação e, assim, preservar as qualidades do solo que são essenciais para uma agricultura produtiva e sustentável.