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Águia-perdigueira: Fogo de Monchique ameaça ninhos da Ave do Ano 2018

O incêndio que lavrou em Monchique põe em perigo a águia-perdigueira (ou águia-de-bonelli), a Ave do Ano 2018. A região alberga um dos mais importantes núcleos da espécie no nosso País, e pelo menos quatro casais poderão ser directamente afectados, garante a SPEA — Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

“Pelos dados que temos disponíveis, há pelo menos quatro casais que nidificam na zona que já ardeu, com vários ninhos que poderão ter desaparecido com o fogo. E há outros casais com territórios próximo, que também podem ter sido afectados ou ainda estar em risco,” diz Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

Dos núcleos populacionais mais importantes para a espécie em Portugal

“A serra de Monchique é um dos núcleos populacionais mais importantes para esta espécie em Portugal; as serras de Monchique e do Caldeirão são onde ocorrem os maiores e mais densos núcleos de águias-perdigueiras do País, que são também relevantes a nível ibérico e europeu”, adianta aquele responsável.

A serra de Monchique está classificada internacionalmente como Área Importante para as Aves e a Biodiversidade, e faz parte da Rede Natura 2000, dada a sua importância para uma variedade de espécies e habitats.

Para a águia-perdigueira, esta zona tem sido, a par da serra do Caldeirão, um importante refúgio nos últimos anos. O número de águias-perdigueiras em Portugal diminuiu drasticamente nos anos 80, e apesar de esse declínio ter continuado no Norte do País – onde na última década a população desta espécie se viu reduzida em 40% – no Sul do País as populações têm-se expandido com tanto sucesso que inverteram a tendência nacional, refere a SPEA.

“Parte do segredo desse sucesso poderá ter sido um comportamento que contribui para que estejam agora mais ameaçadas pelo fogo”, acrescenta a mesma organização.

Águias-perdigueiras preferem nidificar em árvores de grande porte

“No Sul de Portugal, em vez de fazerem os ninhos maioritariamente em escarpas, nas rochas, as águias-perdigueiras preferem nidificar em árvores de grande porte,” explica Joaquim Teodósio. “Por isso, há o risco de o fogo destruir não só os ninhos mas também as outras árvores em que estes casais poderiam fazer ninhos novos”.

“Se forem afectadas áreas importantes dentro dos territórios e houver casais que fiquem sem sítio onde nidificar ou se alimentar, é possível que haja uma reorganização, que os casais tenham que se redistribuir pela floresta e usar o espaço de forma diferente, como vimos acontecer na serra do Caldeirão, depois do incêndio em 2012” diz Rita Ferreira do Grupo de Trabalho em Águia-de-bonelli da SPEA.

Morte de perdizes, pombos, coelhos e outras presas

Para além do impacto directo sobre os ninhos, este incêndio terá certamente causado a morte de perdizes, pombos, coelhos e outras presas de que as águias-perdigueiras dependem, pelo que nos próximos tempos é provável que as águias-perdigueiras enfrentem escassez de alimento.

“As consequências para a fauna e flora poderão ser significativas num incêndio desta dimensão e a sua recuperação irá depender das espécies e da extensão das populações que são afectadas”, realça a SPEA.

“Neste momento, ainda não é possível saber qual vai ser o impacto concreto. Apesar de os fogos serem frequentes neste tipo de habitas, neste caso são áreas incrivelmente extensas onde o fogo está a passar, mas pode ser que nalguns casos não tenha afectado todos os ninhos e outras áreas importantes para estes casais. Só mais tarde, no rescaldo do fogo e com um acompanhamento a longo prazo das aves, é que vamos poder aferir as consequências” conclui Joaquim Teodósio.

B.I.

A águia-perdigueira também conhecida por águia-de-Bonelli Aquila fasciata é uma ave de presa de grande porte, que pode ser observada durante todo o ano nos seus territórios. Os adultos distinguem-se pelo corpo claro e asas escuras e pela singular mancha branca no dorso, enquanto os juvenis têm uma plumagem distinta dominada por tons ruivos.

O que come?

É uma exímia caçadora que adapta a sua dieta às presas mais abundantes, como pombos, perdizes e coelhos, podendo mesmo capturar presas tão grandes como a garça-real, sendo comum a adopção de estratégias de caça cooperativa pelos membros do casal. Os seus voos acrobáticos, com função nupcial e de defesa do território, “são dos espectáculos mais impressionantes da natureza”, diz fonte da SPEA.

Situação em Portugal

A população portuguesa de águia-de-Bonelli está classificada como Em Perigo pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal e em 2011 foi estimada entre 116 a 123 casais reprodutores, em que cerca de 70% nidifica em árvores, ao contrário do que acontece com a maioria das populações europeias que nidifica em rocha.

Após um declínio acentuado nos anos 80, apresenta actualmente uma evolução positiva associada à contínua expansão dos casais no sul do país, que escolhem preferencialmente árvores como local de nidificação, o que permite à espécie ocupar áreas desprovidas de escarpas.

Esta expansão em áreas florestais tem contribuído igualmente para a estabilidade actual da população portuguesa, que está concentrada em cerca de 80% na Península Ibérica.

Em Portugal, o maior núcleo rupícola encontra-se no Nordeste Transmontano, onde a SPEA e parceiros nacionais e internacionais estão a desenvolver acções de conservação no âmbito do projecto Life Rupis de forma a impedir a regressão dos casais do Douro Internacional.

Saiba mais sobre a águia-perdigueira aqui.

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