As áreas para as culturas de Primavera/Verão diminuíram, nomeadamente no milho (-5%, devido à manutenção dos baixos preços de mercado e à menor disponibilidade de água de rega), no arroz (-5%, também devido aos baixos níveis de armazenamento de água nas albufeiras) e no girassol (-10%). A diminuição foi mais acentuada na região do Alentejo, segundo as previsões agrícolas do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 31 de Maio.
Quanto aos cereais de Outono/Inverno, e devido às elevadas temperaturas e falta de humidade do solo nas fases de floração e início de formação do grão, as previsões apontam para decréscimos generalizados das produtividades.
Dizem os técnicos do INE que o mês de Maio caracterizou-se, em termos meteorológicos, como extremamente quente. De facto, os valores médios da temperatura do ar foram muito superiores aos verificados no período 1971-2000 sendo a de Maio de 2017 (24,96ºC) apenas superada pela observada em 2011 (25,46ºC).
Nas regiões do interior Norte e Centro e no Alentejo ocorreu uma onda de calor entre os dias 20 e 27, tendo as temperaturas máximas ultrapassado os 37ºC nos dias 23 e 24.
Quanto à precipitação total, o mês classificou-se como normal (66,2 mm). No entanto, a distribuição espacial da precipitação foi assimétrica, tendo o interior Norte e Centro e o Alentejo registado um total de precipitação inferior a 75% do valor médio relativo ao período 1971-2000.
“Estas condições determinaram a continuação da situação de seca meteorológica em quase todo o território continental (no final do mês cerca de 71% do território estava em seca moderada e 23% em seca fraca). De uma forma geral, as reservas hídricas, quer nas albufeiras monitorizadas mensalmente pelo SNIRH, quer nas charcas e barragens das explorações agrícolas, encontram-se abaixo do nível médio de armazenamento habitual em Maio, situação que obrigou (em particular no Alentejo) ao replaneamento das superfícies das culturas de regadio”, explica o INE.
No final de Maio a percentagem de água no solo, em relação à capacidade de água utilizável pelas plantas, diminuiu no Centro e Sul face aos valores observados no final de Abril.
Área de milho para grão continua a diminuir
Quanto à preparação dos terrenos e sementeiras dos cereais de Primavera, os técnicos do INE dizem que “decorreu com normalidade”. No milho, a germinação foi regular, tendo-se, no entanto, observado situações onde foi necessário ressemear, em particular nas sementeiras efectuadas no cedo e ainda nos casos em que a desgrana da campanha anterior, conjugada com a prática de mobilização mínima, originou uma elevada presença de “milho velho”. Assistiu-se, pelo quarto ano consecutivo, a uma diminuição da área ocupada por esta cultura (-5% face a 2016). A principal justificação para este facto prende-se com os preços desta commodity nos mercados mundiais, que se mantêm, desde o Verão de 2013, a níveis historicamente baixos. No entanto, e em particular no Alentejo, a redução estará também relacionada com a menor disponibilidade hídrica para a actual campanha.
As sementeiras de arroz foram intensificadas no decorrer deste mês e, exceptuando alguns constrangimentos no Baixo Vouga (que obrigaram a ressementeiras), decorreram com normalidade. Devido à baixa disponibilidade hídrica observada nas albufeiras da bacia hidrográfica do Sado (onde se situa a maior parte da superfície de arroz do Alentejo), a superfície desta cultura deverá diminuir face a 2016 (-5%). A germinação foi boa e os povoamentos são, em geral, homogéneos, encontrando-se as sementeiras mais precoces no início do afilhamento.
Produtividade dos cereais penalizada
Segundo o INE, condições meteorológicas adversas na floração/formação do grão penalizam produtividade dos cereais. As culturas cerealíferas de Outono/Inverno apresentam um desenvolvimento vegetativo aquém do normal e uma antecipação no ciclo, resultantes da conjugação dos baixos níveis de precipitação com as elevadas temperaturas dos últimos 3 meses. Nas fases de floração e início de formação do grão (grão leitoso), que decorreu em Abril/Maio, o calor e o défice de humidade do solo afectaram negativa e decisivamente a produção, quer sob o aspecto quantitativo, quer qualitativo. Assim, prevê-se uma redução generalizada dos rendimentos unitários destas culturas: -5% no centeio; -15% na cevada; -20% no trigo mole, no triticale e na aveia; -25% no trigo duro.
Produção de matéria verde diminui
As as previsões agrícolas do INE adiantam que a ocorrência de precipitação na primeira quinzena do mês permitiu, principalmente nas regiões do litoral Norte e Centro, alguma recuperação das culturas forrageiras e dos prados de sequeiro. No entanto, em muitos casos, o desenvolvimento destas culturas já tinha sido irreversivelmente afectado pelas altas temperaturas e escassa precipitação ocorridas em Abril, com a antecipação da conclusão do ciclo vegetativo e uma quebra evidente da produção de matéria verde. “A maior parte dos efectivos pecuários de produção extensiva ainda não está a ser suplementada com forragens ou alimentos grosseiros conservados (este ano em menor quantidade), nem com rações industriais”, explica aquela nota do INE.
Agricultura e Mar Actual