A quantidade de pescado fresco e refrigerado capturado, em 2016, pela frota nacional (124.264 toneladas), foi a segunda mais baixa desde o início da série estatística (1969), correspondendo a um decréscimo de 11,8% face a 2015. Ainda assim, as receitas resultantes do mercado da primeira venda (lota) aumentaram 3,3% promovidas pelo aumento do preço médio do pescado fresco e refrigerado (+15,9%).
Segundo divulga o Instituto Nacional de Estatística (INE), o valor unitário ascendeu a 2,10 €/kg, o maior valor unitário desde que existem registos estatísticos disponíveis. Mas, no ano passado, o défice da balança comercial dos produtos da pesca agravou-se em 69 milhões de euros, totalizando 787,4 milhões de euros.
A relação entre a variação acumulada dos preços transaccionados em lota e o IPC (Índice de preços no consumidor) aponta para um afastamento gradual e progressivo, com o maior distanciamento a verificar-se nos anos 2007, 2008 e 2015. Por outro lado, a comparação dos preços resultantes do mercado da primeira venda (lota) com os respectivos valores unitários da importação indica que o peixe fresco e refrigerado importado apresenta, em média, um preço 2,3 vezes superior no período 2011/2016.
Redução de cavala
Os técnicos do INE realçam que o decréscimo do volume de pescado capturado resultou da diminuição das capturas no continente e na Região Autónoma dos Açores, sobretudo de peixes marinhos como a cavala (-39,7%) e os atuns (-25,9%).
E adiantam que para a redução das capturas de cavala não terá sido alheia a cessação temporária da actividade da frota do cerco, aliada à orientação para a captura de espécies mais valorizadas, como por exemplo o biqueirão.
A diminuição das capturas de atum está directamente relacionada com as características migratórias deste recurso.
Preço médio aumenta significativamente
O preço médio aumentou expressivamente reflectindo duas realidades distintas: valorização significativa de espécies habitualmente mais capturadas, expressa por aumentos de preço significativos, como a cavala (+30,3%), atuns (+16,6%) e peixe-espada (57,6%), cujas capturas decresceram em 2016; reforço na estrutura do pescado descarregado de espécies com maior valor comercial, quer através de orientações para a captura de espécies mais valorizadas (ex.: segmento de pesca do cerco com as capturas de biqueirão a aumentarem 173,6%) quer do aumento das capturas deste tipo de espécies na campanha de 2016 (ex: captura de polvos aumentou 37,5%).
No entanto, o INE salienta que as variações acumuladas do preço médio das transacções em lota quase sempre inferiores à inflação acumulada. “O preço médio do pescado transaccionado em lota apresenta alguma volatilidade, mas a sua variação acumulada desde o início da série (1969) foi, à excepção de 1971, sempre inferior à inflação acumulada”, refere o Instituto.
Ao longo desta série temporal, o distanciamento ao IPC vai aumentando, com os anos de 2007, 2008 e 2015, a registarem os maiores afastamentos.
Por outro lado, dizem os técnicos do INE que as variações dos preços de primeira venda do pescado, quando analisados conjuntamente com as variações das quantidades transaccionadas, mostram que alterações na quantidade de pescado capturado provocaram quase sempre variações simétricas no preço transaccionado em lota. Esta correlação negativa acentuou-se particularmente nos últimos anos da série em análise.
Balança comercial
No que diz respeito à balança comercial dos produtos da pesca ou relacionados com esta actividade, apresentou um défice de 787,4 milhões de euros, o que correspondeu a um aumento de 9,7% face a 2015. Ou seja, agravou-se em 69 milhões de euros.
O grupo dos “peixes congelados” continuou a representar a maior parcela das importações, 22,4% do total, tendo em valor aumentado 3,6%, comparativamente a 2015.
As transacções com o exterior de “peixes secos, salgados, fumados” continuaram a representar o maior saldo negativo em 2016, com 292,9 milhões de euros de défice (+15,2% comparativamente a 2015).
Como habitualmente, apenas o saldo das transacções com o exterior das “preparações, conservas de peixe e preparações de ovas de peixe” foi favorável a Portugal em 2016, correspondendo a um excedente de 68 milhões de euros (-1,4 milhões de euros, face a 2015).
Agricultura e Mar Actual