A produção de leite em Portugal mais que duplicou entre 1980 e 2015, passando das 970 mil toneladas de 1980 para dois milhões de toneladas em 2015, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística.
O nível mais elevado de auto-suficiência foi atingido em 2015, 112,5%, refere o instituto em estatísticas publicadas sobre produção e consumo de leite de 2015.
Segundo o INE, para esta evolução contribuiu a diminuição do consumo, desde 2005, e a profunda reestruturação do sector que em 25 anos (1989-2013) aumentou em mais de 8 vezes a dimensão média do efectivo por exploração (de 4 vacas leiteiras para 34) e promoveu a especialização a um nível capaz de competir com os parceiros europeus (em 2013, a produtividade das vacas atingiu as 7 toneladas de leite/cabeça, superior à média registada na UE10).
A partir de 1985, Portugal tornou-se auto-suficiente em manteiga. Pelo contrário, aumentou o défice relativo a iogurtes e queijo (graus de auto-aprovisionamento em 2015 de 47,0% e 69,6%, respectivamente). Estes dois produtos foram os principais responsáveis para que, no conjunto leite e produtos lácteos, o país apresentasse em 2015 um saldo negativo de 198 milhões de euros.
O rácio “índice de preços à produção/índice de preço dos alimentos compostos para animais” tem diminuído fortemente, atingindo 0,53 em 2015, a situação mais desfavorável para o produtor nos 36 anos em análise.
Com o fim do regime de quotas leiteiras em Abril de 2015, os resultados disponíveis para o 1.º semestre de 2016, revelam que a União Europeia produziu mais leite que no mesmo período dos anos precedentes.
Menos explorações
Em 25 anos (entre 1989 e 2013) desapareceram 90 mil explorações e reduziu-se o efectivo animal em mais de 140 mil vacas leiteiras, o que corresponde a variações negativas de, respectivamente, 92,2% e 34,7%, realça o INE.
“Esta evolução traduziu-se sobretudo na eliminação de explorações pecuárias com um número reduzido de efectivos e consequente aumento da dimensão média dos efectivos por exploração (de cerca de 4 vacas por exploração para aproximadamente 34 vacas por exploração)”, acrescenta o Instirtuto.
Este indicador reflecte a “progressiva especialização do sector com as explorações que se mantiveram em actividade a deterem efectivos de melhor qualidade genética e consequentemente mais produtivos. A profissionalização dos produtores, nomeadamente as melhorias introduzidas ao nível do controlo sanitário, alimentação animal e genética (fruto de programas de melhoramento e através da aquisição de vacas de alto valor genético), permitiram a Portugal alcançar os padrões europeus ao nível da produtividade das vacas (com 7 toneladas de leite/cabeça em 2013), sendo de destacar que, quer o aumento de dimensão quer a concentração regional das explorações, conduziram também a ganhos de eficiência através da optimização na logística de recolha”, consideram os técnicos do INE.
Iogurtes não chegam
O documento do INE salienta que o abastecimento interno de iogurtes foi satisfeito com a produção nacional até 1994 (exceptuam-se os anos de 1989 e 1991 em que o grau foi de respectivamente 98,3% e 98,7%). A partir deste ano assistiu-se a um aumento da dependência do exterior que atingiu a sua maior expressão em 2001, com a produção nacional a não conseguir sequer satisfazer metade das necessidades de consumo (grau de auto-aprovisionamento de 42,9%). Esta situação deficitária resultou exclusivamente do aumento do consumo destes produtos lácteos.
No queijo verificou-se uma diminuição gradual do grau de auto-aprovisionamento ao longo do período em análise, mas também com este produto se evoluiu da quase auto-suficiência (grau de auto-aprovisionamento médio de 96,8% entre 1980 e 1992) para uma produção nacional deficitária, resultante de um aumento do consumo superior aos acréscimos de produção (valor mínimo do grau de auto-aprovisionamento de 69,6% atingido em 2015).
A política da UE de apoio à actividade
O INE relembra que em 2016 foi prorrogado o regime de intervenção pública para o leite em pó desnatado e manteiga e foram implementadas novas medidas pela UE, nomeadamente de incentivo à redução da produção (pacote de 150 milhões de euros para a UE27) e de ajudas ao ajustamento condicional à actividade (pacote de 350 milhões de euros para a UE27).
Em síntese, no 1.º semestre, a UE produziu mais leite que no mesmo período dos anos precedentes. Esse leite extra proveio de apenas alguns países (grandes produtores), registando-se uma diminuição do volume de recolha de leite entregue em países como Portugal com menor dimensão em termos produtivos e com provável maior apetência para se candidatarem ao recente pacote de ajudas da UE.
Agricultura e Mar Actual