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Mercado de commodities agrícolas em queda histórica

O mercado global de commodities agrícolas entrou em colapso com a descida dos preços de cereais e outros produtos essenciais, a tal ponto que a multinacional Cargill espera que o mau tempo venha retirar a agricultura de um buraco financeiro.

No final da década de 2000, a procura crescente em mercado como o da China e o da Índia fez aumentar o investimento na agricultura e levou a um aumento exponencial nas preços das commodities, como mostra o gráfico da Bloomberg. A consequência foi o aumento da produção em locais como a Rússia e o Brasil, que, com moedas “fracas”, continuam a exportar grande parte da sua produção agrícola para fabricar biocombustíveis. Dan Basse, director da investigação na AgResource Co., nos EUA, citado pela Bloomberg, estima que os preços vão continuar a cair nos próximos três anos.

Os preços das commodities agrícolas estão em queda há três anos, mas a tendência parece ter vindo para ficar, já que os países têm vindo a fazer stock da produção. O sub-índice para a agricultura da Bloomberg caiu 0,7% em 2016 e a organização International Grains Council já declarou que, na próxima época, os stocks de cereais vão continuar a ser os maiores dos últimos 30 anos.

“Todos [os investidores] acreditaram nesta ideia de que teremos de alimentar nove mil milhões [de pessoas] em 2050,”, diz Basse. “Mas, infelizmente, neste momento, a procura global de cereais não está a acompanhar o aumento da produção”, lamenta.

A Cargill, empresa multinacional líder no sector agrícola, considera que talvez a única forma de recuperar o nível de preços das commodities agrícolas seja o mau tempo. Um fenómeno climatérico como o El Niño, manifestando-se violentamente e destruindo colheitas, faria crescer os seus lucros ao aumentar os preços dos produtos agrícolas. A Cargill apresentou, na quinta-feira passada, os resultados da empresa: um aumento de 8% nos lucros líquidos, que atingiram os 459 milhões de dólares (402,4 milhões de euros) no terceiro trimestre de 2015, relata o jornal Financial Times.

“Há muito tempo que os mercados agrícolas e da energia não estavam tão pouco lucrativos, por isso estamos satisfeitos com o aumento dos lucros deste trimestre”, declarou ao FT David MacLennan, director e CEO da Cargill. “Com a excepção de eventos climatéricos, não prevemos uma melhoria, no curto prazo, nas condições do mercado. Neste tipo de ciclos, que já atravessámos antes, concentramos-nos nos factores que podemos controlar”, acrescentou.

A Cargill, com 149.000 trabalhadores em 70 países, tem abandonado alguns sectores e adicionado outros à sua carteira de negócios, numa tentativa de fazer crescer os lucros, que os seus líderes vêem como decepcionantes.

Países emergentes produzem cada vez mais

Para países como o Brasil, a braços com uma crise económica e política, a agricultura continua a ser um mercado lucrativo. Culturas de rendimento, destinadas a exportação, beneficiam da queda do real face ao euro e ao dólar. A agência brasileira Conab antecipa que a colheita de soja nacional atinja um máximo histórico este ano, bem como uma colheita de milho em níveis excepcionalmente elevados, segundo o jornal norte-americano Wall Street Journal. Os agricultores brasileiros também vão quebrar recordes nas colheitas de café e cana de açúcar no próximo ano, além dos produtores de carne e de aves.

Com as previsões de uma contracção da economia brasileira na ordem dos 3,7% em 2016, a contracção mais severa do PIB dos últimos 35, as colheitas de exportação do Brasil representam uma tábua de salvação para o país.

Na Rússia, os agricultores conseguiram um aumento de produção apesar da seca que afectou o país, com um crescimento de 1% que vai elevar a sua produção total para as 61 milhões de toneladas de produtos agrícolas, segundo as previsões da AgResource. A Argentina vai aumentar a sua produção de trigo em mais de 50% e a produção de milho em cerca de 30%, devido a um corte nas taxas sobre a exportação.

Porém, frisa Basse, “não vemos um crescimento substancial no comércio global de cereais, exceptuando a elevada procura de soja da China”.

A China, por seu lado, está a terminar um programa de armazenamento de stocks de milho e quer reduzir os stocks existentes de outros cereais, contribuindo para a queda de preços pela redução das importações. Segundo as previsões da AgResource, a produção de soja na China vai ascender a 14 a 15 milhões de toneladas na próxima época, comparando com os actuais 11 milhões de toneladas. Prevê-se que possa atingir 19 milhões de toneladas nos próximos dois a três anos, o que poderia reduzir as importações de soja da China em cerca de 50%.

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