A DGADR — Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural realizou uma série de estudos para prever as necessidades de água para rega em cada cultura e assegurar essa disponibilidade futura nos aproveitamentos hidroagrícolas nacionais e, em função das mudanças climáticas, alterar as práticas agrícolas ou estratégias de rega.
O estudos foram realizados no âmbito do Projecto “Conhecer para Prever o Futuro”, do PDR 2020 – Programa de Desenvolvimento Rural de Portugal, que teve como entidade líder a DGADR, como parceiro o Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR), e colaboração científica do Instituto Superior de Agronomia (ISA).
No relatório final do projecto, são feitas algumas recomendações dirigidas ao sector, entre as quais a implementação de medidas de redução de consumos e de poupança de águas nas regiões mais críticas, em articulação com vários actores, sendo que a articulação das várias medidas é a base para a maior eficácia na redução dos gastos de água, permitindo um menor impacto económico, social e ambiental.
Explica o relatório final que “o crescimento da população, o desenvolvimento agrícola, industrial e turístico impele para um aumento da procura de água, obrigando a uma utilização parcimoniosa deste recurso natural escasso”, realçando que “a gestão entre a oferta e a procura de água é mais relevante e difícil quando é expectável a ocorrência de mudanças climáticas, com alterações dos regimes pluvial e fluvial (distribuição ao longo do ano da precipitação e do escoamento superficial) e o aumento da frequência da ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos (cheias e secas)”.
Portanto, “será necessário encontrar formas de fazer uma gestão mais eficiente da água, de modo a manter a produtividade das culturas, uma vez que a precipitação se tornará cada vez mais escassa e concentrada temporalmente, responsável também por cheias mais extremas”.
Segundo os relatores do relatório, “existe um grande número e tipo de medidas que permitem reduzir a utilização da água na rega (reduzir o consumo de água na origem e poupar água na agricultura), com efeitos diferentes consoante a forma e a dimensão da sua aplicação e sua interligação”. As medidas podem ser agrupadas em quatro grandes grupos: no momento de realizar a rega, na infra-estrutura existente na parcela, na gestão do regadio (aproveitamentos hidroagrícolas) e na infra-estrutura de rega.
A Revista Agricultura e Mar aqui transcreve as medidas recomendadas pela DGADR.
Na rega mediante a adopção de um conjunto de boas práticas:
- Regar apenas quando há necessidades de água, adequando a frequência da rega ao tipo de solo
- Escolher sistemas culturais que necessitem de pouca água
- Escolher plantas e culturas adequados às condições climáticas e às disponibilidades hídricas da região
- Utilizar equipamentos com uma taxa de aplicação inferior à taxa de infiltração média do tipo de solo
- Na rega por aspersão, diminuir o mais possível a altura do aspersor em relação à cultura
- Ajustar o ciclo da cultura às novas características do clima (temperatura e precipitação), isto é, antecipar a data da sementeira, permitindo a redução do consumo total de água para rega, dada a redução do stress hídrico, evitando os períodos de temperaturas excessivas
- Seleccionar o equipamento mais apropriado para cada tipo de solo
- Regar de manhã cedo ou à noite para poupar água, que ser perde por evaporação, caso não seja possível regar nas horas de menos calor
- Evitar regar quando a velocidade do vento ultrapassar 20 km/h e a direcção do vento for paralela ao deslocamento do seu equipamento de rega
- Programar a rega tendo em conta o tarifário energético mais económico
- Reutilizar a água quando possível
- Adopção de estratégias de rega deficitária, em particular da rega deficitária controlada.
Na parcela agrícola através de:
- Melhorar as tecnologias de rega, ou seja, escolher um sistema de rega mais eficiente, que permitirá diminuir ou limitar o aumento das necessidades de rega (e.g. transformar sistemas de aspersão em gota-a-gota, caso seja possível)
- Utilizar práticas agronómicas que permitam a retenção da água e posterior infiltração (e.g., mobilização mínima)
- Substituir equipamentos de rega com funcionamento deficiente (fugas de água, em momentos de não rega)
- Nos sistemas de rega gota-a-gota, não instalar gotejadores afastados da zona do sistema radicular das plantas. Nos sistemas com gotejadores já embutidos, utilizar anéis vedantes
- Instalar cortinas de vento em redor da parcela, visando minimizar a perda de água por evaporação (quando possível)
- Usar eficazmente fertilizantes e produtos sanitários de modo a não prejudicar a qualidade da água
- Realizar com frequência inspecções aos sistemas de distribuição de água e de rega e eliminar as fugas, assim que detectadas
- Realizar periodicamente a manutenção do equipamento de rega.
Na gestão do regadio através de:
- Aderir a sistemas de aviso agro-meteorológicos (e.g. COTR, SNAA –Serviço Nacional de Avisos Agrícolas e outras plataformas de Avisos de Rega, com certificação)
- Automatizar a rega considerando o tipo de culturas, de solos e topografia
- Monitorizar as variáveis agro-meteorológicas a nível local, visando melhorar a qualidade do aviso
- Utilizar equipamentos para monitorização da água no solo (sondas de humidade, tensiómetros, blocos de gesso, etc.)
- Instalar contadores para medir o consumo de água em vários pontos do ciclo de utilização da água
- Elaborar planos de contingência para situações de seca, conforme é já previsto pelo RCM. º 80/2017, onde são definidos níveis de contingência associado a medidas de redução de consumos de água. Os planos incorporam, entre vários aspectos, a identificação de usos prioritários, a selecção de culturas prioritárias, a redução áreas, a opção por técnicas regas menos consumptivas (e.g. rega deficitária) e a identificação de alternativas de origem de água, associadas a estimativas de impacto económico
- Promover o regadio colectivo que permite a implementação mais eficaz das medidas de redução de consumos, poupança de água dos agricultores através do processo de benchmarking.
Nas infra-estruturas de adução, de distribuição e de armazenamento através de:
- Modernizar e reabilitar as infra-estruturas tornando-as mais eficientes na sua função de transporte e medição de volumes consumidos
- Reparar rapidamente fugas numa boca de rega ou noutro ponto da distribuição de água (conduta ou canal)
- Avaliar a possibilidade de utilização do volume morto das albufeiras e, caso seja interessante, construir infra-estruturas para captação deste volume de reserva hídrica estratégica
- Avaliar a possibilidade de altear as barragens, de modo a aumentar a sua capacidade de armazenamento e, como tal, de regularização.
Acrescenta o documento que, “como origens de água alternativas e de modo a melhorar a segurança hídrica da agricultura, os aproveitamentos e os agricultores poderão equacionar a utilização de parte do volume morto da(s) albufeira (s) (aquele volume que se considerar técnico e financeiramente possível captar), a reutilização da água de rega e, em alguns casos, a utilização de Águas para Reutilização (ApR)”.
Pode ler o relatório final do projecto “Conhecer para Prever o Futuro” aqui.
Agricultura e Mar