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Portugal quer dar exemplo na redução das emissões de azoto

O NitroPortugal, cuja 1ª reunião decorre desde ontem, 7 de Novembro, em Lisboa, visa colocar Portugal na liderança da boa gestão do azoto, através de uma abordagem multidisciplinar, que junta os diferentes elos do ciclo de produção do azoto. Neste 1º workshop os cientistas discutem os impactos das perdas de azoto para a água e no solo.

O projecto europeu NitroPortugal, liderado pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA), visa realizar o diagnóstico dos níveis de poluição azotada na água, nos solos e no ar e calcular o seu impacto nos ecossistemas e na biodiversidade em Portugal. Participam no projecto cientistas do Centro de Hidrologia e Ecologia, do Reino Unido, e da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.

Investigadores e governos estão focados na melhoria da eficiência do uso do azoto na agricultura e na pecuária, que são as principais fontes de emissões de azoto reactivo para o ambiente. Em Portugal, o sector primário contribui com 87% do total de emissões de azoto para os cursos de água (rios, lagos, etc), sendo os efluentes de origem animal a principal fonte de poluição, de acordo com dados revelados pela Agência Portuguesa do Ambiente.

“Estimamos que apenas 20% do azoto usado na agricultura na União Europeia (UE) é aproveitado pelas plantas, o restante perde-se e é uma fonte de contaminação dos solos, da água e do ar”, explica Mark Sutton, investigador do Natural Environment Research Council, do Reino Unido, um dos coordenadores do NitroPortugal. “Acreditamos que uma mensagem positiva, que explique aos agricultores europeus as vantagens económicas do uso mais eficiente do azoto, é a chave para uma economia mais eficiente”, defende.

“Queremos perceber qual é o impacto real no azoto em Portugal, e como podemos poupar milhões de euros através de melhores práticas de gestão do azoto, que irão contribuir para um melhor desempenho da economia portuguesa”, acrescenta o investigador.

Excesso de fertilizantes

Os cientistas calculam que o uso excessivo de fertilizantes à base de azoto na Agricultura gera prejuízos de cerca de 14 mil milhões de euros na economia da UE, ou seja, o equivalente a 25% do total do orçamento da PAC (Política Agrícola Comum).

A Dinamarca e o Reino Unido são um bom exemplo no que respeita à monitorização e à implementação de políticas de controlo das perdas de azoto para o Ambiente. A Dinamarca implementa há 30 anos uma política rigorosa que lhe permitiu diminuir em 50% a concentração de azoto nos cursos de água, através da regulamentação da actividade agrícola e da sensibilização dos agricultores para a adopção de boas práticas, nomeadamente a instalação de culturas fixadoras de azoto no Inverno, a criação de zonas tampão junto aos cursos de água e a instalação de charcas para depuração de águas residuais nas parcelas agrícolas.

Baixa pegada de azoto

“Para reduzir a pegada de azoto é extremamente importante que cada um de nós reforce pequenos gestos diários, contrariando uma atitude excessivamente consumista”, afirma Cláudia Marques-dos-Santos Cordovil, professora do ISA e coordenadora do NitroPortugal.

A escolha de produtos agrícolas com certificação ambiental, o consumo de carne nas doses recomendadas pelos nutricionistas, e a redução do desperdício alimentar ou ainda a restrição do uso do automóvel nas deslocações diárias são exemplos de comportamentos a adoptar.

Investigadores do ISA desenvolveram um website que permite ao cidadão comum calcular a sua pegada de azoto, baseado em informação sobre comportamentos de consumo.

Esta noite, o chef Chakall recebe os participantes do workshop, no restaurante El Bulo, em Lisboa, num jantar com baixa pegada de azoto. A refeição será confeccionada seguindo o princípio da “Dieta Demitariana”, que consiste em utilizar metade da dose de carne habitual na confecção dos pratos, com o propósito de proteger o ambiente. A carne usada na confecção do jantar provém de animais criados em pastagem (sistema extensivo) e será acompanhada de leguminosas e outros legumes.

O nitrogénio (azoto) é um nutriente essencial à vida na Terra, existe em abundância na atmosfera (78% do ar que respiramos é azoto elementar), intervém na construção de diversas moléculas, como o DNA, as proteínas, as enzimas ou as vitaminas, e é o elemento mais importante para a nutrição das plantas (sob a forma amoniacal e de nitratos).

O nitrogénio torna-se um problema a partir do momento em que as suas formas reactivas (iões e gases) são libertadas em do em doses excessivas para o ambiente, gerando impactos negativos no solo, água e ar e na biodiversidade.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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