A Zero — Associação Sistema Terrestre Sustentável, a Greenpeace e mais de vinte organizações na área do ambiente lançaram, dia 4 de Outubro, a primeira campanha à escala europeia a apelar à proibição na União Europeia (UE) da publicidade a combustíveis fósseis e de patrocínios por parte de empresas ligadas a eles.
A proposta prevê ainda a proibição de publicidade a veículos que se movam a combustíveis fósseis e a viagens de avião ou ferry que utilizem combustíveis fósseis.
Trata-se da campanha Proibição da Publicidade e patrocínios envolvendo combustíveis fósseis no âmbito da Iniciativa de Cidadania Europeia, lançada a menos de um mês da COP 26, a Conferência do Clima das Nações Unidas que vai decorrer em Glasgow e que será fulcral na definição do futuro climático, ambiental e societal do planeta.
Empresas como “as construtoras de automóveis e as companhias aéreas e marítimas, usam publicidade e patrocínios como uma cortina de fumo para desviar a atenção de actividades destruidoras do clima”
“Chegou a hora de os cidadãos por toda a Europa se erguerem e exercerem os seus direitos para que a era do petróleo, do carvão e do gás natural acabe o mais rapidamente possível. A ZERO apela a todos os seus associados e cidadãos a juntarem-se a esta iniciativa, assinando esta importante petição”, aqui.
A Iniciativa de Cidadania Europeia é uma petição à escala da UE que possibilita que um milhão de cidadãos de pelo menos um quarto dos Estados-membros solicitem à Comissão Europeia a apreciação do seu pedido. Se a petição alcançar este número de assinaturas no espaço de um ano, neste caso até Outubro de 2022, a Comissão fica obrigada por lei a dar resposta e poderá transpor as exigências para a legislação europeia, explica fonte institucional da ZERO.
Publicidade a combustíveis fósseis encoraja aumento de emissões
Acrescenta a ZERO que o Mundo enfrenta hoje uma crise climática que está a levar “a uma crise global dos direitos humanos de proporções sem precedentes”. Na sequência do último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, considera que a humanidade está em “código vermelho”. Muitas comunidades, especialmente em África, na Ásia e na América Latina, mas também na Europa, já enfrentam consequências terríveis de secas mais frequentes e intensas, inundações, ciclones e aumento do nível do mar.
“Mas esta crise poderia ter sido prevenida, mais não fosse porque as empresas petrolíferas sabem desde 1957 que a queima destes combustíveis faz aumentar os níveis de dióxido de carbono (CO2) e a temperatura média global. Contudo, empresas como a Total e a Shell, que estão entre as 20 empresas de combustíveis fósseis mais poluidoras do Mundo, continuam a promover os seus negócios por meio de anúncios e patrocínios”.
Por outro lado, outras empresas como “as construtoras de automóveis e as companhias aéreas e marítimas, usam publicidade e patrocínios como uma cortina de fumo para desviar a atenção de actividades destruidoras do clima”, realça a associação.
A Greenpeace, uma das organizações envolvidas, bem como a ZERO consideram que proibir a publicidade a combustíveis fósseis é portanto uma resposta necessária para mitigar os impactos negativos que a queima de combustíveis causa na natureza, no clima e na saúde. Os estudos mostram que “as empresas de combustíveis fósseis, num esforço concertado de retardar a acção climática, enganam o público consistentemente”.
Campanhas fósseis “são sistematicamente enganadoras”
A Greenpeace acabou de publicar o relatório Palavras ou Ações: A verdade por trás do marketing dos combustíveis fósseis, que consiste numa análise feita pela DeSmog às campanhas publicitárias relacionadas com a indústria fóssil.
A investigação debruçou-se sobre mais de 3.000 anúncios publicados no Twitter, Facebook, Instagram e Youtube desde o lançamento do Pacto Ecológico Europeu, em Dezembro de 2019, até Abril de 2021. Foram analisadas seis grandes empresas do sector, Shell, Total, Preem, Eni, Repsol e Fortrum.
O relatório concluiu que 63% das campanhas destas empresas eram greenwashing, enganadoras para o consumidor por não reflectirem o verdadeiro impacto dos negócios destas empresas, e por promoverem falsas soluções, tais como o gás fóssil como uma energia limpa. No caso das três piores empresas neste âmbito – a Shell, a Preem e a Fortrum –, 81% das campanhas publicitárias foram classificadas como greenwashing.
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