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Xylella fastidiosa ainda não atacou olival em Portugal mas já chegou ao alecrim da zona urbana de Sintra

A DGAV — Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária informou, no passado dia 7 de Agosto, que foi detectada Xylella fastidiosa em plantas de alecrim na região de Luz de Tavira e Santo Estevão, concelho de Tavira, no Algarve. Hoje, dia 10, alerta que a Xylella fastidiosa detectada em plantas de alecrim na região de Massamá e Monte Abraão, em Sintra.

A Xylella fastidiosa foi detectada pela primeira vez no território nacional a 3 de Janeiro de 2019 em Vila Nova de Gaia, em plantas ornamentais, como a lavanda. Em causa uma bactéria que pode estar associada a 58 espécies/géneros de plantas, entre eles, a amendoeira, a cerejeira, a ameixeira, a oliveira, o sobreiro, a figueira, bem como plantas ornamentais e da flora espontânea.

A verdade é que a Europa corre o risco de perder o seu olival, a menos que sejam encontradas soluções para combater a Xylella fastidiosa. Embora já existam alguns produtos no mercado, ainda não existem pesticidas cientificamente comprovados como eficazes contra a bactéria, de acordo com a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA).

Xylella fastidiosa em Sintra

Quanto à Xylella fastidiosa detectada em plantas de alecrim na região de Massamá e Monte Abraão, em Sintra, diz a DGAV que, em resultado dos trabalhos de prospecção oficiais, conduzidos pela Direcção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo (DRAP LVT), no contexto do Plano de Acção Nacional para o Controlo da Xylella fastidiosa e seus vectores, foi obtido um resultado positivo para esta bactéria, numa amostra colhida num canteiro de plantas de alecrim existentes num espaço público em zona urbana.

A determinação da subespécie da bactéria encontra-se ainda em curso.Os serviços de inspecção fitossanitária da DRAPA LVT, em estreita articulação com a Direcção Geral de Alimentação e Veterinária, estão já a implementar as medidas fitossanitárias em conformidade com a regulamentação da União Europeia, no sentido de se averiguar a origem da infecção, e proceder à sua erradicação, garante a DGAV.

Na zona infectada, uma área de 50 metros em redor das plantas infectadas, foi realizado um levantamento intensivo das plantas aí existentes e foram colhidas 44 amostras, cujas análises decorrem no INIAV — Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.

Acrescenta aquela direcção que foi estabelecida uma zona demarcada, que inclui a zona infectada e uma zona tampão de 2,5 km, na qual estão a ser feitas amostragens intensivas a outras plantas susceptíveis à bactéria, assim como a averiguação da existência de insectos vectores.

O que é?

O género Xylella, criado por Wells et al. (1987) é composto por uma única espécie, a Xylella fastidiosa. A espécie inclui várias estirpes, e caracteriza-se por um crescimento lento em meios de cultura. As colónias crescem em meios artificiais, a 26-28°C, a pH entre 6, 5-6, 9, podem ser lisas ou rugosas, opalescentes e circulares. É uma bactéria vascular que vive no xilema das plantas, sendo transmitida por insectos.

De acordo com trabalhos de sorologia e tipagem genética, as suas estirpes foram divididas em cinco subespécies: Xylella fastidiosa subsp. piercei (que inclui estirpes de videira), Xylella fastidiosa subsp. sandyi (loendro), Xylella fastidiosa subsp. multiplex (vários hospedeiros) e Xylella fastidiosa subsp. pauca (que inclui ameixeira, cafeeiro e citrinos) e a Xylella fastidiosa subsp. tashke, que foi identificada na Chitalpa (Chitalpa tashkentensis) uma árvore ornamental.

Origem e distribuição geográfica

Os trabalhos com doenças causadas pela bactéria Xylella fastidiosa, incluída na Organização Europeia e Mediterrânica para a Protecção das Plantas (EPPO), Lista A1, tiveram o seu início nos Estados Unidos, devido à presença da doença conhecida como “Doença de Pierce” na videira.

Por muitos anos, Xylella fastidiosa permaneceu confinada à América. Em 1994, foi observada na Ásia, em Taiwan, causando queimaduras foliares na pêra asiática (P. pyrifolia).Na década de 2000, foi relatado também o aparecimento da doença de Pierce nas vinhas de Taiwan.

A identificação, em 2013, em Apuglia (Itália meridional) representa a primeira detecção confirmada na Europa.

As vias de introdução da na Ásia ou Europa são desconhecidas, segundo um dos boletins técnicos do INIAV, o laboratório de Estado do Ministério da Agricultura e do Mar (MAM), que desenvolve actividades de investigação nas áreas agronómica e veterinária.

Hospedeiros

A bactéria tem uma extensa lista de hospedeiros com 132 espécies confirmadas, de 46 famílias diferentes.

Para Portugal, o INIAV decidiu que as espécies a prospectar são aquelas que têm um maior impacto económico, e que têm alguma relação com Itália: videira (Vinis vinífera L.), oliveira (Olea europaea L.), amendoeira (Prunus amygdalus), laranjeira (Citrus sinensis (L.) Osbeck), loendro (Nerium oleander L.) e carvalhos (Quercus sp. L.).

No entanto, “não podemos esquecer a importância das pastagens na disseminação da doença, já que a X. fastidiosa é também o agente da luzerna anã (Medicago sativa L.) e da murchidão da congoça ou pervinca” diz Paula Sá Pereira, do INIAV.

As plantas infestantes tais como gramíneas, ciperáceas e árvores podem ser hospedeiros da Xylella fastidiosa, muitas vezes sem mostrar sintomas.

Sintomas

Em videira (doença de Pierce) os sintomas são a murchidão das folhas, com distribuição irregular e dieback, “ilhas” verdes de tecido saudável e separação da folha do pecíolo.

Em oliveira (Olive Quick Decline Syndrome), aparecem queimaduras foliares e um declínio rápido de oliveiras envelhecidas, com morte progressiva da zona apical para a raiz.

Os sintomas da doença Clorose Variegada dos Citrinos (CVC), passam pelo aparecimento de manchas cloróticas amareladas de bordos irregulares, semelhantes às que aparecem devido à deficiência de zinco.

A superfície inferior mostra-se ligeiramente levantada e acastanhada com manchas necróticas em folhas adultas em ramos isolados, começando pela parte mediana da copa e expandindo-se por toda a planta.

No início, pode-se observar poucos ramos com frutos pequenos. Em estado avançado da doença, toda a planta produz frutos ananicados.

Os sintomas da doença Oleander Leaf Scorch, OLS em loendros, são o amarelecimento das folhas, que é seguido pela característica queimadura e necrose da zona apical das folhas.

Em amendoeiras a doença provocada por Xylella fastidiosa é chamada de Almond Leaf Scorch disease (ALS). A doença provoca padrões irregulares de necrose da folha causando queimaduras foliares que conduzem a uma clara diminuição da produtividade, uma mortalidade progressiva a partir dos ramos apicais e, finalmente, morte de árvores afectadas com ALS.

A sintomatologia da doença em Quercus sp. (Bacterial leaf scorch disease – BLS.), é a queimadura foliar, irregular nos carvalhos, bem evidente no final do Verão e Outono, com descoloração apical pronunciada com um halo vermelho ou amarelo entre tecidos queimados e verdes, e as nervuras sobressaem em amarelo nas zonas aparentemente sãs.

No pessegueiro a doença é denominada por Phony Peach Disease (PPD) e apresenta sintomas morfológicos externos característicos, como ramos com entrenós mais curtos, comprimento dos pecíolos e da área foliar também menores e, num estágio mais avançado da infecção, ocorre senescência das folhas mais maduras, ficando o ramo desprovido de folhas ou com pequeno número de folhas reduzidas no seu ápice.

Meios de protecção

Não existindo meios de luta directa contra a Xylella fastidiosa, o combate a esta doença passa essencialmente por medidas de natureza preventiva, actuando sobre o vector e o material de multiplicação: medidas fitossanitárias são aplicadas para impedir a introdução e a propagação da doença que incluem o uso de cultivares resistentes, certificação de material de multiplicação e a remoção e destruição de material infectado; gestão de insectos vectores e hospedeiros espontâneos, nas zonas envolventes dos pomares, olivais etc.

Mas, “meios de luta químicos e controlo por meio de antibióticos não são eficazes”, diz o INIAC, que aconselha também a utilização de enxertos isentos de Xylella fastidiosa em novas plantações; controlo de vectores em pomares jovens; eliminação de plantas doentes em pomares de até quatro anos de idade e superiores a essa idade, controle de infestantes, poda de ramos com sintomatologia, manutenção do pomar em boas condições nutricionais e estabelecimento de quebra-vento.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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