As previsões agrícolas do do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), em 31 de Julho, apontam para uma diminuição generalizada na produção de cereais de Outono/Inverno (globalmente cerca de 20%, face a 2016), consequência das condições adversas (temperaturas muito elevadas e baixos teores de humidade do solo) em que decorreu grande parte do ciclo cultural.
Segundo o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas de Agosto de 2017 do INE, a conclusão da colheita dos cereais de Outono/Inverno nas regiões a Sul do Tejo vem confirmar as previsões de decréscimo da produção face ao ano anterior (-10% no centeio, -15% no trigo mole, -20% na cevada e na aveia e -25% no trigo duro e no triticale).
O factor decisivo para esta fraca campanha foram as condições climatéricas adversas (baixos níveis de precipitação e elevadas temperaturas) registadas ao longo do ciclo, em particular nas fases reprodutivas, com impactos negativos também na qualidade do grão.
O mês de Julho caracterizou-se, em termos meteorológicos, como quente e seco. A temperatura média do ar apresentou um desvio positivo de 0,6ºC face à normal, tendo-se registado uma onda de calor no período de 11 a 18 de Julho nas regiões do interior.
No final de Julho, cerca de 70% do continente estava afectado por seca severa e 9% por seca extrema.
No entanto, dizem os analistas do INE, “estas condições de estado do tempo permitiram que todos os trabalhos agrícolas se realizassem sem problemas, tendo ainda beneficiado o desenvolvimento da maioria das culturas de regadio. No entanto, verificaram-se situações em que os recursos hídricos disponíveis nas explorações são manifestamente insuficientes para fazer face às necessidades das culturas, nomeadamente no caso de vinhas e olivais no Alentejo (que em regime de sequeiro também apresentam já sintomas de stress hídrico)”.
Mas, os cereais foram severamente afectados, tal como as pastagens e culturas forrageiras, que registam uma produção abaixo do normal. E os preços da alimentação dos animais a aumentarem.
Diz o INE que com a quantidade de precipitação muito reduzida ao longo dos últimos meses, o fim de ciclo dos prados e pastagens de sequeiro foi antecipado, “não se tendo verificado qualquer regeneração, registando-se uma produção de matéria verde bastante abaixo do normal. O esgotamento destas áreas forrageiras conduziu a um intenso e antecipado recurso aos agostadouros, bem como a situações de suplementação com consumo de alimentos conservados produzidos na exploração (normalmente destinados a suprir as necessidades alimentares dos efectivos durante os meses de Inverno) ou adquiridos (a preços que, face ao aumento da procura, têm aumentado para valores acima dos praticados na campanha anterior)”.
Área de milho de regadio para grão inferior a 80 mil hectares
Acrescentam as previsões agrícolas do INE que a sementeira e a germinação do milho decorreram de forma regular, tendo-se observado muitos casos de antecipação das sementeiras como estratégia de gestão das disponibilidades hídricas, já nitidamente inferiores ao habitual na altura da preparação dos terrenos para a instalação desta cultura.
“A outra opção para gerir a falta de água foi o replaneamento das superfícies das culturas regadas, em especial das mais exigentes em termos de aportes hídricos (como é o caso do milho). Este facto, conjugado quer com as baixas cotações desta commodity (para níveis em que a rentabilidade desta cultura só é assegurada com produtividades muito elevadas), quer com o abastecimento do mercado nacional com milho importado de boa qualidade, determinou uma redução na área semeada (-5%, face a 2016, e -17% face à média dos últimos cinco anos)”, refere o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas de Agosto de 2017.
Arroz mantém produtividade semelhante à campanha anterior
As searas de arroz apresentam, de um modo geral, povoamentos homogéneos e boa coloração, encontrando-se na fase de emborrachamento/início de espigamento. Segundo o Boletim Mensal, a presença de infestantes é inferior à da campanha anterior e alguns ataques de aves restringem-se a zonas de produção com pouca expressão no total nacional.
Nas áreas instaladas, inferiores às do ano anterior (devido, essencialmente, à escassez de água nas albufeiras da bacia hidrográfica do Sado), as disponibilidades hídricas são suficientes para satisfazer as necessidades desta cultura, pelo que o INE prevê uma produtividade semelhante à alcançada em 2016.
Agricultura e Mar Actual