As condições meteorológicas anormais ocorridas desde Janeiro, em particular a Sul do Tejo, com a quase ausência de precipitação e temperaturas muito altas (três ondas de calor em Abril), interferiram “muito negativamente no ciclo vegetativo das plantas, sendo especialmente notório nos prados, pastagens e culturas forrageiras, cuja produção regista quebras que rondam os 50% no Alentejo, face a 2022, ano em que a produção forrageira também foi muito condicionada pela seca e apresentou um decréscimo de aproximadamente 30%, relativamente a um ano normal”.
Assim descrevem os técnicos do Instituto Nacional de Estatística (INE), no seu Boletim Mensal da Agricultura e Pescas – Maio de 2023, os resultados da seca que estão a provocar “grandes dificuldades no sector pecuário”.
Alguns produtores estão a optar por reduzir o efectivo reprodutor, havendo mesmo casos extremos de abandono da actividade no Baixo Alentejo e Algarve
E adiantam que a deterioração muito precoce e significativa do desenvolvimento vegetativo dos prados e pastagens permanentes (naturais e semeados) reduziu substancialmente as disponibilidades de matéria verde para o pastoreio, obrigando em algumas zonas, especialmente no interior do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral, à suplementação alimentar dos efectivos pecuários em regime extensivo com alimentos conservados, numa época do ano em que, por norma, as necessidades alimentares seriam totalmente supridas por pastoreio directo.
Por outro lado, refere o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas – Maio de 2023, as reservas de alimentos conservados das explorações (palhas e fenos) são escassas, resultado das baixas produções registadas em 2022 e agravadas em 2023, com os cortes das áreas forrageiras a revelarem quebras acentuadas em quantidade e qualidade.
Aumento na procura de alimentos conservados
“As disponibilidades actuais e as reservas alimentares são assim insuficientes para assegurar a alimentação de muitos efectivos pecuários a Sul do Tejo, observando-se um aumento na procura de alimentos conservados (fenos, fenossilagens, silagens e palhas) num cenário de escassa oferta (também externa, resultado da seca no Sul da Europa, em particular em Espanha).
E isto com os preços praticados em alguns mercados a quase duplicarem face a 2022 (exemplos reportados regionalmente: o feno passou dos 150 euros por tonelada em 2022 para os 275 euros por tonelada em 2023; a palha de 80 euros por tonelada para 150 euros por tonelada).
Atendendo a estas dificuldades, dizem os técnicos do INE, “alguns produtores estão a optar por reduzir o efectivo reprodutor, havendo mesmo casos extremos de abandono da actividade no Baixo Alentejo e Algarve”.
A Norte do Tejo as perspectivas são, apesar de existir apreensão, menos preocupantes para a actividade agropecuária, apresentando os prados, pastagens e culturas forrageiras um melhor desenvolvimento vegetativo, estando a suplementação com alimentos grosseiros armazenados e/ou alimentos concentrados mais próxima dos parâmetros normais.
Pode ler o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas – Maio de 2023 aqui.
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