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Sabe o que é a agricultura de conservação?

Artigo de opinião de Rosa Moreira, Eng.ª Agrónoma, promotora do site A Cientista Agrícola

A agricultura de conservação e o seu papel na manutenção da sustentabilidade

A agricultura convencional recorre a práticas de preparação do solo para a instalação das culturas consideradas prejudiciais para o meio ambiente, tais como a queima de restolhos e o reviramento de horizontes do solo (mobilização de inversão).

Este tipo de agricultura é responsável por aumentar consideravelmente a erosão e a compactação do solo provocando muitas vezes a contaminação das águas superficiais com fertilizantes e pesticidas provenientes das actividades agrícolas, entre outras consequências nefastas.

A agricultura de conservação consiste na utilização de diversas práticas que permitem um uso do solo para fins agrícolas, alterando o menos possível a sua estrutura e biodiversidade, minimizando efeitos como a erosão e degradação do solo.

Medidas da agricultura de conservação

  • A preparação do solo em agricultura de conservação consiste na diminuição da intensidade ou eliminação da mobilização do solo. Inclui a sementeira directa (não mobilização) e a mobilização mínima ( onde não se incorporam ou incorporam superficialmente os resíduos da colheita) podendo cada uma delas ter diferentes modalidades.
  • Estabelecimento de coberturas vegetais entre as culturas anuais sucessivas ou na entrelinha de culturas lenhosas (vinhas, pomares).
  • Instalação de culturas segunda as curvas de nível, em faixas alternadas.
  • Estabelecimento de pastagens permanentes com pastoreio adequado.
  • Medidas hidráulicas que reduzem o efeito da erosão pela alteração do comprimento excessivo da parcela ou recorrendo ao terraceamento que para além do comprimento da parcela diminui o declive.

Em termos gerais, com as técnicas de conservação, o solo fica protegido da erosão e do escorrimento superficial, promovendo a formação natural de agregados do solo e aumentando a conservação da matéria orgânica. Por outro lado, a agricultura de conservação diminui a compactação originada pelo tráfego de máquinas agrícolas pesadas. Além disso, há uma menor contaminação das águas superficiais, reduzindo as emisões de dióxido de carbono e aumentando a biodiversidade. Fonte da imagem: Revista Agropecuária

 

Mobilização tradicional versus Mobilização de conservação

Mobilização tradicional

  • Trabalho do solo intenso e dispendioso  (utilizado na maioria dos casos charrua de aivecas e grades de disco que contribuem para a inversão de camadas do solo, complementada com outras máquinas agrícolas como fresa, escarificadores e rolos);
  • <15% da superfície com protecção do restolho;
  • A retirada do restolho ( enterramento ou queima) pode originar problemas nomeadamente: menor protecção da estrutura do solo, alteração da fauna edáfica, menor incorporação de matéria orgânica, maiores emissões de dióxido de carbono e destruição de raízes.

Queima do restolho

A queima do restolho é uma prática usual na mobilização do solo tradicional mas que acarreta muitos riscos e deve ser por isso evitada. Por vezes os agricultores queimam o restolho para eliminar as plantas infestantes infiltradas no meio das colheitas e para que as cinzas caiam ao solo, já que estas ao serem ácidas tornam o solo mais permeável.

No entanto, perde-se muita matéria orgânica e nos últimos anos diversos estudos recomendam o fim da queima de restolho tanto para evitar a erosão e desertificação como para evitar incêndios involuntários provocados pelo vento que leva as fibras incandescentes a lugares próximos de forma incontrolada.

Mobilização de conservação

  • >30% da superfície protegida com resíduos;
  • queima de restolho está interdita;
  • Menor intensidade da mobilização do solo ou eliminação da mobilização do solo (selecção criteriosa do número de passagens, n da profundidade de trabalho e do tipo de alfaia a utilizar nomeadamente  peso e área de contacto solo-alfaia).
  • Modalidades de preparação do solo: “mobilização mínima” e “sementeira directa”.
Sementeira directa do milho é uma prática usual na agricultura de conservação.

Agricultura de conservação: Mobilização mínima

A mobilização mínima (reduzida) pode ser:

  1. Temporal: menor número de passagens.
  2. Espacial: Menor quantidade de solo mobilizado (profundidade e/ou superfície).

A mobilização em toda a superfície é pouco intensa e caracteriza-se por não ter inversão de camadas (evita a utilização de herbicidas).

A grade de discos é apenas utilizada em situações excepcionais  e a mobilização do solo realizada é muito superficial ( grande largura de trabalho e menor tempo de execução).

Neste tipo de mobilização é possível verificar uma apreciável quantidade de resíduos e estão interditas máquinas agrícolas como charruas e fresas. Na mobilização mínima utilizam-se maioritariamente alfaias de mobilização vertical  como por exemplo escarificadores como o chísel ( molas trabalham á compressão, maior desafogo e trabalho com restolho).

A mobilização na zona é realizada apenas nas faixas para a sementeira ( é utilizado ainda herbicida na entre-linha). A época de mobilização é essencialmente antes da sementeira ou em simultâneo com esta fase cultural. Não existe limitação relativamente ao tipo de alfaias a utilizar, uma vez que a cobertura do solo com resíduos (+30%) fica garantida pelas zonas não mobilizadas (normalmente utilizadas fresas com 20cm de largura de trabalho).

Agricultura de conservação: Sementeira directa

Neste tipo de  modo de preparação do solo não existe mobilização prévia do solo. São abertos sulcos no solo apenas para a introdução e enterramento da semente e, eventualmente fertilizantes.

Os semeadores utilizados na sementeira directa são especiais (colocação da semente e  incorporação dos fertilizantes, sanidade do solo e trituração do restolho). Relativamente ao controlo dos infestantes. Este é feito com herbicida total de baixo impacto ambiental em pré-sementeira ou pré-emergência.

Etapas da sementeira directa

  1. Triturar e espalhar o restolho da cultura anterior;
  2. Pasto do gado, se este não tiver encharcado;
  3. Esperar pelas primeiras chuvas;
  4. Esperar pela emergência das infestantes;
  5. Aplicar herbicida com baixo impacto;
  6. Efectuar a sementeira seguidamente à aplicação do herbicida( normalmente no dia seguinte).
Semeadores de sementeira directa.

Por essa razão,  defendo o recurso a técnicas de conservação, que, por minimizarem os efeitos na estrutura natural do solo (recordo que este  é um recurso não renovável), protegem-no contra a erosão e a compactação. O nível da matéria orgânica e a fertilização aumentam naturalmente, além de se verificar uma diminuição das emissões de CO2.

Qual a sua opinião sobre a agricultura de conservação?

A Cientista Agrícola

 
       
   
 

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