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Incêndio no distrito de Vila Real em 2022 © Fábio Pinto - ANP|WWF

Relatório ibérico: restaurar a natureza é a melhor arma de defesa contra incêndios

Restaurar a natureza é a melhor arma de defesa contra os incêndios, afirmam a ANP|WWF e a WWF Espanha, no relatório publicado hoje “Restaurar para Prevenir”. O restauro ecológico reduz o risco de incêndio, promove a conservação da biodiversidade, a prestação de serviços dos ecossistemas e gera riqueza no meio rural: ao promover paisagens em mosaico e recuperar áreas degradadas e desertificadas, tornamos as florestas mais resilientes e melhoramos a qualidade de vida das pessoas que residem em ambientes rurais e urbanos.

“O restauro ecológico é mais do que plantar árvores. Ele melhora o funcionamento das florestas e os serviços que prestam, preparando a paisagem para os impactos climáticos futuros. Em zonas de elevado risco de incêndio, o objectivo é reduzir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência”, afirma Vasco da Silva, Coordenador de Florestas da ANP|WWF.

No relatório, a organização portuguesa confirma que 2023 foi um dos melhores anos em comparação com os 10 anos anteriores, com menor número de incêndios e menos área ardida — entre 2013 e 2022 a média do número de incêndios anual diminuiu quase para metade (49%) em comparação com a década anterior. Foi também o primeiro ano de todos sem vítimas mortais.

“Em Portugal, a aposta na prevenção dos incêndios começou a ser uma realidade desde 2022, quando o valor do investimento em prevenção começou a superar o montante gasto com o combate. Isto só mostra o quão importante é continuar a apostar na prevenção: dinheiro gasto numa melhor gestão do território é dinheiro gasto numa estratégia de prevenção contra incêndios de grande dimensão”, reforça Vasco da Silva.

“No entanto, a escalada na magnitude e agressividade dos incêndios florestais é uma tendência preocupante a nível global — e que se verifica em Portugal: apesar do número de incêndios ter vindo a diminuir, a área ardida não reflecte proporcionalmente esse decréscimo, o que significa que arde mais território nos incêndios de maior dimensão, que são mais destrutivos”, refere um comunicado e imprensa da ANP|WWF.

Vasco da Silva indica que isto é “o resultado da inacção em relação ao meio rural. O forte despovoamento e envelhecimento rural e a ausência de políticas sérias de gestão do território conduziu a áreas florestais e paisagens rurais abandonadas, resultando em paisagens inflamáveis e susceptíveis a incêndios severos. Apenas 2% dos incêndios são naturais, com a maioria causada por incendiarismo (28%) e uso negligente do fogo (40%)”.

Neste contexto, a ANP|WWF aponta a estratégia mais eficaz para reduzir o risco de incêndio: “uma acção colectiva e preventiva, com intervenção na paisagem que combine recuperação de áreas produtivas, prevenção de incêndios, conservação da biodiversidade e combate às alterações climáticas. A política actual é insuficiente para prevenir incêndios extremos”.

Restaurar zonas prioritárias

Para tal, a ANP|WWF sugere um Plano Nacional de Restauro para identificar e restaurar zonas prioritárias, com apoio financeiro adequado. “O Governo deve promover medidas para reduzir a sinistralidade, investigar causas de incêndios, melhorar programas de sensibilização e educação ambiental, e aplicar sanções eficazes para dissuadir crimes ambientais”, conclui Vasco da Silva, acrescentando que “a Lei do Restauro da Natureza, aprovada em Junho de 2024, representa uma oportunidade histórica de financiar paisagens mais seguras na Europa”.

Um exemplo disto é o projecto da ANP|WWF iniciado em 2019 com uma abordagem participativa para o restauro da Serra do Caldeirão, definindo objetivos de conservação e garantindo resiliência e sustentabilidade. Os principais aspectos favorecidos nos projectos de restauro foram a construção de uma paisagem sustentável, valorização do ciclo hídrico, e protecção e resiliência da floresta contra incêndios. O projecto inclui actividades de sensibilização, educação ambiental e promoção do empreendedorismo ligado aos recursos da Serra do Caldeirão, como a produção de medronho.

O relatório completo pode ser consultado aqui.

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