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Os jovens agricultores da UE são poucos, qualificados e investem muito

Artigo de opinião de Sara Sousa, marketeer na Agroop

Quais são algumas das características que definem os jovens agricultores da União Europeia? São poucos, têm os maiores níveis de qualificação, são proprietários de poucas explorações e de pouco terreno agrícola, têm um rendimento abaixo da média, investem muito dinheiro, mas têm capital social baixo, têm poucas dívidas e usufruem de grande retorno dos seus activos (equipamento, culturas, património, etc.).

Quem o revela é um estudo publicado pela Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Comissão Europeia, que analisa dados de 2013.

Uma agricultura envelhecida (e Portugal no fim da lista)

“Para cada agricultor com menos de 35 anos há 5,6 agricultores com mais de 65 anos na Europa. Estes são números alarmantes,” lê-se no estudo.

De todas as explorações agrícolas na EU, só 5,6% são geridas por agricultores jovens. Os agricultores mais velhos, por sua vez, gerem mais de 31%.

No entanto, estes dados precisam de ser contextualizados. Em primeiro lugar, a Roménia influencia significativamente os resultados. Este país contribui com mais de 45% dos agricultores com mais de 65 anos da UE.
O número reduzido de jovens agricultores é influenciado pela forma como as explorações são transferidas de uma geração para outra. Ou seja: muitas vezes, a posse de uma exploração passa oficialmente do pai para o filho quando o primeiro atinge a idade de reforma, mas o filho já geria a exploração há vários anos.

Portugal – onde metade dos agricultores tem mais de 65 anos – é o segundo país da UE com menor proporção de agricultores jovens face aos mais velhos. Para cada agricultor mais velho, Portugal tem 0,04 agricultores abaixo dos 35. Só o Chipre tem um rácio mais baixo que o do nosso país, que também é acompanhado, nos últimos lugares, pela Espanha e pelo Reino Unido.

Os países que apresentaram mais agricultores jovens face aos agricultores mais velhos foram a Polónia (1,27), a Áustria (1,26) e a Alemanha (1,10).

A questão do terreno agrícola

Além de poucos, os agricultores jovens da UE possuem uma pequena proporção do terreno agrícola – ainda que contribuam em proporção semelhante para a produção global e que as suas explorações tenham um tamanho dentro da média comunitária.

Já os agricultores mais velhos têm uma fatia de terra e de produção desproporcionalmente pequena face ao número de explorações que possuem, o que indica que estes agricultores têm tendência a ter explorações pequenas. Assim, a maior parte da terra e da produção pertence aos agricultores de meia idade.

Os agricultores mais jovens tinham também o terreno agrícola com valor mais baixo por hectare (6,931 euros), enquanto que os agricultores mais velhos possuíam as terras com maior valor médio (11,565 euros).

Mas, no que toca à realidade portuguesa, a tendência é mais favorável: os jovens agricultores portugueses são dos que possuem terras com mais valor na UE, juntamente com a Bélgica, o Luxemburgo, a Suécia e a Irlanda.

Na maioria dos países, os agricultores mais jovens têm a maior fatia de terra alugada, ao passo que os mais velhos têm a menor fatia. Tal “apoia a ideia de que os jovens agricultores procuram aumentar o tamanho das suas explorações, enquanto que os mais velhos estão a reduzir as suas actividades agrícolas.”

Elevada qualificação, mas baixo rendimento

Em 2013, a maioria dos gestores de explorações (68,2%) tinha aprendido a profissão apenas através de experiência prática.

Mas, para os jovens agricultores, a realidade é outra. Um em cada cinco agricultores jovens (19,8%) completou um ciclo de educação em agricultura. Apenas 4,5% dos agricultores com mais de 55 anos fizeram o mesmo.

Apesar dos níveis de educação mais elevados, os agricultores mais jovens tinham o menor rendimento por unidade de trabalho no período de análise do estudo. Os agricultores de meia-idade (35-65 anos) demonstraram os maiores níveis de rendimento. Já os agricultores mais velhos começaram a auferir mais rendimentos que os mais jovens a partir de 2009.

Muito investimento, pouco capital

Entre 2011 e 2013, os agricultores com menos de 35 anos fizeram o maior investimento líquido por exploração. Em contraste, os agricultores com mais de 65 anos registaram investimento líquido negativo – ou seja, não substituíram os equipamentos ao mesmo ritmo que a depreciação.

Apesar disto, os agricultores mais jovens juntam-se aos mais velhos no grupo de agricultores de da UE com capital médio mais baixo. O capital representa as culturas, as máquinas, os edifícios, etc., de uma exploração.

No que toca ao retorno sobre activos (o rácio do rendimento gerado pela exploração dividido pelos equipamentos, culturas, etc., necessários para o gerar), os agricultores jovens destacaram-se, com um retorno sobre activos acima da média. Tal parece indicar que estes adoptam práticas de gestão inteligentes, utilizando os activos de forma eficiente.

Desafios e soluções

Para a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Comissão Europeia, a proporção baixa de agricultores jovens compromete “a futura competitividade da agricultura europeia e produção garantida de alimentos nas próximas décadas.” No entanto, há dados que mostram que há cada vez mais jovens a estudar agricultura e áreas semelhantes, salienta a organização.

Os dois maiores desafios para os agricultores jovens são o acesso a terreno agrícola e o acesso a crédito. A maioria da terra na Europa já tem posse e pertence sobretudo a agricultores de meia idade. Além disso, muitas explorações são passadas de geração em geração, o que torna a terra difícil de encontrar para quem não a herde.

Por outro lado, o facto de os agricultores jovens terem pouco capital e baixo valor de terras significa que têm pouco para oferecer como colateral para pedir empréstimos que lhes permitam crescer os negócios.

De ambos os problemas, o do crédito será o mais fácil de resolver, defende a DGADR. “Existem várias formas de abordar a acessibilidade a crédito para agricultores, o que beneficiaria os agricultores mais jovens,” conclui o relatório.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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