O Relatório da Proposta de Orçamento do Estado para 2020 é enorme. É assim há décadas com todos. Mas o deste ano tem uma novidade, sincera: a pasta da Agricultura vem para o fim. A Floresta anda pelo meio das propostas para o Ambiente e o Desenvolvimento Rural confunde-se com a Coesão. Mesmo assim, todas estas políticas estão no fim do OE 2020.
E digo sincera porque este Orçamento — e a Orgânica do Governo, já publicada — deixa mesmo a Agricultura para o fim. Sem complexos.
A Agricultura? Esse “unicórnio” português está lá no fim do documento. Produção de alimentos? Geração de empregos? No fim, do elenco de prioridades do Governo liderado por António Costa.
É caso para dizer que o Executivo acredita tanto nas capacidades dos agricultores que os deixa para último nas suas prioridades. E ao Deus dará do ministro do Ambiente, Matos Fernandes. Não percebo.
Mas, percebo que Capoulas Santos não tenha continuado a sua presença neste Executivo. A Agricultura e a Floresta é um todo indissociável.
Motor das exportações
A Agricultura, hoje motor das exportações, foi espartilhada, ou partilhada, neste Governo. Nas últimas semanas isso mesmo ficou provado. Associações e Confederações, aos montes, a criticarem a ministra da Agricultura pelos cortes nas Medidas Agroambientais do PDR 2020.
As criticas não podiam ser dirigidas à pasta da Agricultura, pois era o Ministério do Ambiente que tinha de disponibilizar 20 milhões de euros para esta medida do PDR 2020, que se manteve sempre “calado”.
Proteger quem?
O Orçamento do Estado diz querer “Proteger os idosos e combater a pobreza”. E eu pergunto porque não “proteger os agricultores e combater a pobreza”?
A sustentabilidade da agricultura e da nossa alimentação só depende dos agricultores, que trabalham de sol-a-sol. A inclusão das pessoas sem emprego pode ter a ajuda dos agricultores; há falta de mão-de obra.
Diz o Relatório do OE para 2020 que o Governo “pretende reforçar uma estratégia de emprego e trabalho para todos”. Pois aposte na agricultura. Os produtores têm falta de mão-de-obra.
Carlos Caldeira
P.S.: Este foi o meu primeiro editorial no agriculturaemar.com. Não o queria fazer. Mas teve de ser, a bem da Agricultura e dos Agricultores, que nos alimentam todos os dias.