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“O objectivo da FEA é chegar aos 6,5 milhões de garrafas de vinho em 2018”

Entrevista a Pedro Baptista, administrador e enólogo da Fundação Eugénio de Almeida

A Fundação Eugénio de Almeida decidiu em 2016 mudar a imagem de um dos activos mais importantes do seu projecto vitivinícola, o EA. Ao mesmo tempo colocou no mercado os seus primeiros vinhos biológicos no passado dia 28 de Setembro. E está na fase final da expansão da sua Adega da Cartuxa, que vai duplicar a capacidade de produção de vinho da FEA. Em 2015 foram produzidas mais de 4,5 milhões de garrafas. Em 2018 serão 6,5 milhões, diz Pedro Baptista em entrevista à Agricultura e Mar Actual.

O primeiro vinho biológico da Fundação Eugénio de Almeida (FEA) foi para o mercado a 28 de Setembro. Quantos hectares tem já a vinha biológica?
Começámos há oito anos com 5 hectares. Agora temos 60.

Há oito anos ainda não se falava tanto em agricultura biológica. O que levou a FEA a avançar para este modo de produção?
Na Fundação sempre tivemos bastantes preocupações com práticas agrícolas que fossem sustentáveis do ponto de vista ambiental, naturalmente sem nunca esquecer a componente do rendimento, da viabilidade económica, que é fundamental. Começámos ainda no final da década de 80 a fazer movimentos na agricultura com vista a sermos mais sustentáveis e começámos nessa altura com a protecção integrada na vinha, que posteriormente evoluiu para a produção integrada.

“A passagem para a agricultura biológica foi perfeitamente natural.”

Ainda no final da década de 90, começámos também a utilizar práticas na conservação dos solos, para que pudéssemos efectivamente manter a fertilidade e melhorar até a qualidade dos solos. Portanto, este pensamento, esta forma de estar, de preocupação no fundo com o ambiente no qual produzimos e do qual vivemos, não é? A verdade é que a agricultura vive do solo e vive do clima, mas se não somos nós a protegê-lo e a melhorá-lo, a terra não dá mais.

pedro-baptista-fea-02Foi um caminho absolutamente normal, a passagem para a agricultura biológica foi perfeitamente natural e no seguimento de um caminho que vínhamos a percorrer já há muitos anos. Começámos a fazer essa experiência com os 5 hectares. Os resultados que temos nestes 8 anos são do mais entusiasmante possível. E depois o passo seguinte foi muito rápido. Esses 5 hectares multiplicaram-se rapidamente.

Para arrancar para o mercado, certamente fizeram estudos de mercado. Isso quer dizer que o vinho biológico é rentável?
Naturalmente que pensámos na abordagem do mercado e pensámos que com os vinhos biológicos podemos chegar a consumidores que não consumiam os nossos vinhos. Mas, queremos também tornar mais fácil o acesso do vinho biológico ao público em geral.

“O vinho biológico pode ser um bom cartão de visita para as exportações”

Ainda é um nicho de mercado?
Sim, ainda é, pois em Portugal ainda é um mercado com pouco volume. Mas é um mercado, para nós, com futuro. E sermos produtores de vinho biológico pode ser uma mais-valia na abordagem de mercados externos, alguns que estão muito focados na produção biológica. Portanto, o vinho biológico pode ser um bom cartão de visita para as exportações.

Quantos garrafas tem esta edição de vinho biológico?
O branco cerca de 9.000 garrafas e o tinto 20.000.

A produção de vinho biológico é mais cara que o tradicional?
Este vinho vai estar integrado dentro da gama do EA e vai ficar posicionado abaixo do EA Reserva, portanto com um PVP de cerca de 8 euros a garrafa.

Depois de vender estas 29.000 garrafas está já a pensar em aumentar a área de produção em modo biológico?
Estes 60 hectares ainda têm margem para produzir mais garrafas do que as que produzimos actualmente. Ainda assim, pensamos continuar a crescer nessa área, não numa perspectiva de comercializar tudo como vinho biológico, mas sim no seguimento da filosofia e do caminho que temos percorrido até agora.

Este primeiro vinho é só para o mercado nacional ou já a pensar na exportação?
Foi pensado em primeira instância para o mercado nacional, mas é um vinho que vamos ter também disponível para exportação.

“[Exportamos] Para mais de 30 países, sendo que os que têm mais importância são o mercado brasileiro, o angolano, os Estados Unidos, a Europa central.”

Para onde exporta já a Fundação?
Para mais de 30 países, sendo que os que têm mais importância são o mercado brasileiro, o angolano, os Estados Unidos, a Europa central. No Oriente, Hong Kong e Macau também têm um peso importante.

Quanto representam as exportações no volume de negócios da Fundação?
No seu total, no ano passado, ultrapassou os 20 milhões de euros. As exportações representam 40% do volume de negócios do vinho, portanto, cerca de 7 milhões.

“A Fundação, neste momento, tem plantados 480 hectares, mas já está a preparar 80 para o próximo ano, e vai fechar nos 560 hectares em 2017.”

Este peso é para aumentar nos próximos tempos?
Temos objectivos de crescimento. Com as novas vinhas e com a nova adega, são claramente objectivos de crescimento. Temos como meta para 2021 chegarmos a um volume de negócios de 30 milhões de euros na Fundação, não é só nos vinhos.

A Fundação, neste momento, tem plantados 480 hectares, mas já está a preparar 80 para o próximo ano, e vai fechar nos 560 hectares em 2017. Que corresponde aos direitos de plantação de vinha que tem. Portanto iremos fechar em 2017 com 560 ha de vinha própria, é esse o nosso objectivo.

“Temos como meta para 2021 chegarmos a um volume de negócios de 30 milhões de euros na Fundação.”

adega-cartuxa-quinta-de-vabom-142O que só é possível com a expansão da nova Adega da Cartuxa.
Sim, é verdade. Estávamos com um crescimento sustentável de 10% ao ano e a necessidade de aumentar a capacidade de recepção e transformação da uva era visível. Inaugurámos a nova adega em 2007 e estamos agora a finalizar a sua expansão. A nova estrutura produtiva iniciou a sua laboração na vindima de 2016. Repare que a nova adega vem duplicar a capacidade de produção de vinho da FEA. Em 2015 foram produzidas mais de 4,5 milhões de garrafas. E o objectivo é chegar aos 6,5 milhões em 2018.

Além dos vinhos e do azeite, a FEA está a avançar para outros negócios. Quais são?
Avançámos para a exploração de gado e transformação de carne. Já temos cerca de três mil cabeças de bovinos – entre charolesas e alentejanas – quatro mil ovelhas e 600 porcos alentejanos. Em 2016 a FEA lançou a marca de presuntos e enchidos Cartuxa.

presuntoE temos também o presunto Cartuxa, com origem nos montados da Fundação Eugénio de Almeida, que foi distinguido recentemente com a medalha de ouro no Concurso de Presuntos de Porco de Raça Alentejana, na Expomor 2016, que decorreu em Montemor-o-Novo, entre os dias 31 de Agosto e 5 de Setembro.

Nesta área, fazem a produção total?
Com a marca Cartuxa é comercializado também o Paio de Lombo Cartuxa. Ambos os produtos resultam de uma parceria com a empresa Barrancarnes, de Barrancos. As carnes produzidas nos montados da Fundação Eugénio de Almeida são comercializadas através do Agrupamento de Produtores de Carne Alentejana.

Voltando um pouco atrás, está em curso a consulta pública para a estratégia da agricultura biológica. A FEA vai apresentar alguma proposta?
Não. A Fundação tem a sua actividade produtiva normal, empresarial. Pelos seus estatutos, deve estar próxima – e está sempre – da investigação e do desenvolvimento. Estamos sempre abertos e participamos em estudos constantemente, nomeadamente no âmbito da agricultura biológica, mas na consulta pública não vamos apresentar nada.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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