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Gonçalo Escudeiro: “O seguro agrícola tem muitas limitações e perdeu 5% das ajudas”

Entrevista a Gonçalo Escudeiro director geral da Torriba – Organização de Produtores de Hortofrutícolas

O director geral da Torriba está preocupado com as mudanças nos apoios ao seguro agrícola, concretizadas em Junho. Diz que o valor do apoio foi reduzido em 5%. E queixa-se do excesso de burocracia nos programas de apoio dedicados às organizações de produtores.

A Torriba está a diversificar a sua produção. Além do girassol e do amendoim, está a testar novas culturas, como a da batata doce e da abóbora.

A Torriba é uma Organização de Produtores de hortofrutícolas fundada em 1997, que representa 150 produtores com uma área de produção de cerca de 6.000 ha, localizada essencialmente na região do Ribatejo. É detentora das marcas Eat a Vit, By drop e I9campo.

Quantos produtores tem actualmente a Torriba?
A Torriba trabalha actualmente com 150 associados.

Tudo produtores de hortofruticultura?
Trabalhamos essencialmente hortifruticultura, sim, em regadio. As principais actividades que fazemos é o tomate para indústria e batata para indústria de exportação, pimento, ervilha, bróculos, cenouras, e mais recentemente temos começado a trabalhar noutras áreas que não a horticultura, como é o caso do girassol e do grão. São culturas que, para nós, começam a ter alguma expressão sobretudo o girassol.

goncalo-escudeiroA nível da horticultura, também estamos a testar novas culturas como é o caso das abóboras e da batata doce. Ao todo são 15 culturas diferentes, que todas juntas representam cerca de 6.500 hectares de área de regadio.

“Estamos a testar novas culturas como é o caso das abóboras e da batata doce. Ao todo são 15 culturas diferentes, que todas juntas representam cerca de 6.500 hectares de área de regadio.”

Já aumentou, desde a última vez que falámos. E como têm estado a correr as culturas este ano?
Está a ser um ano muito difícil. Tivemos um Inverno e uma Primavera muito chuvosos, sobretudo a Primavera, Março, Abril, Maio muito chuvosos, que de alguma maneira atrasou muito as instalações e portanto… tínhamos todo um plano de instalação de culturas, de plantações, de sementeiras, que foi atrasando e atrasando e grande partes das culturas acabaram por ser instaladas em Maio.

Falamos sempre no tomate. É quase todo para a indústria?
Sim.

Não vai nada para exportação?
Para a indústria. Há um custo de transporte. Se pudermos evitar, tentaremos sempre pôr o tomate o mais perto possível da exploração do agricultor.

Porque avançaram para o girassol?
É fundamental o desenvolvimento do girassol na nossa região por questões de rotação. Tal e qual como o amendoim. São culturas importantes para entrar nas rotações das terras. Para nós é muito importante que, por exemplo, em cima do tomate se possa fazer girassol, que é uma cultura que se pode tirar para semente, e permite ainda que durante o período de Verão – já sem a cultura no campo – ainda fazer nivelamento, preparar as terras para o ano seguinte.

“As principais actividades que fazemos é o tomate para indústria e batata para indústria de exportação, pimento, ervilha, bróculos, cenouras, e mais recentemente temos começado a trabalhar noutras áreas.”

E é bom por causa do controlo de infestantes, é bom para descansar as terras, portanto tem grandes vantagens, e é uma cultura 100% mecanizada e para a qual há procura e consegue-se fechar um prefixo aquando da instalação da cultura. Fazemos girassol para o grupo Sovenco. E amendoim para o grupo PepsiCo, com uma produção de 450 hectares.

E em termos de Torriba, como vê a evolução da agricultura em Portugal? Há mesmo muita apetência pelo sector ou é só uma moda?
A agricultura em Portugal cada vez mais é como os outros sectores, em que se tem de estar cada vez mais profissionalizado. Só há lugar para grandes profissionais neste momento, ou então pessoas que consigam desenvolver pequenos nichos de oportunidades, com estratégias muito próprias, caso contrário, se entramos em produções que se produzem a uma escala global, têm de se procurar muito bons resultados. E isso resulta em produtores que têm de saber acompanhar e tratar das culturas e que têm de estar ligados a organizações que os possam representar devidamente nos vários mercados, onde possam trabalhar.

“É fundamental o desenvolvimento do girassol na nossa região por questões de rotação. Tal e qual como o amendoim. São culturas importantes para entrar nas rotações das terras.”

A situação burocrática, ou a legislação, em Portugal continua a ser um entrave?
Há uma carga burocrática muito grande em cima de tudo o que são projectos relacionados com as organizações de produtores, que é a área sobre a qual posso falar.

Pode exemplificar?
As organizações de produtores de frutas e legumes têm um instrumento de apoio que são os programas operacionais, mas que são medidas de uma grande complexidade que dificultam muito a operacionalidade.

“Há uma carga burocrática muito grande em cima de tudo o que são projectos relacionados com as organizações de produtores, que é a área sobre a qual posso falar.”

O que se podia mudar ai?
Podia-se simplificar o regime das medidas.

É uma competência do ministro da Agricultura?
Não, sobretudo da União Europeia.

Que avaliação faz do actual ministro da Agricultura?
É muito cedo para podermos ter um feedback.

Mas tem tido certamente conversações com o Ministério.
Somos associados da Federação Nacional de Produtores que por sua vez é associada da Confederação dos Agricultores de Portugal e por isso somos representados em várias estruturas a nível nacional, não nos cabe a nós falar sobre isso.

O que pensa do actual sistema de seguro agrícola?
É um seguro que tem muitas limitações, é mais acessível em termos de preço mas trouxe-nos muitas limitações.

“Tínhamos uma ajuda no âmbito da União Europeia, no âmbito do PDR, de 65% e passou para 60%, nos seguros agrícolas.”

Quais?
Um dos factores mais incentivadores é o preço, mas recentemente saiu uma portaria que nos preocupa muito, de Junho. Reduz-nos em 5% o valor da ajuda. Tínhamos uma ajuda no âmbito da União Europeia, no âmbito do PDR, de 65% e passou para 60%, nos seguros agrícolas.

Para todas as culturas?
Sim. E isso preocupa-nos muito, porque ninguém foi tido nem achado nessa decisão. Saiu a portaria e ponto final. Assim é difícil. Os produtores e as organizações de produtores nesta altura têm os acordos feitos com as companhias de seguros, não é nesta altura que se mudam as regras.

Mas os contratos assinados…
Não é essa a questão. Há acordos feitos. O que dificulta bastante. Apesar de termos um instrumento de seguros bastante falível porque os prejuízos minimizáveis só existem a partir dos 5%, ao contrário do que era antes, quera de 5%. E por isso também permite às companhias terem menos risco e fazerem um menor preço. Tínhamos uma ajuda de 65%, conseguíamos ter uma condição que não era o seguro ideal, mas que era acessível. Se deixamos de ter um seguro ideal e acessível, é estarmos outra vez a voltar à estaca zero em todo este processo.

Em termos de coberturas de culturas, o seguro está adequado?
Os seguros podem ter dinâmica, no sentido de lhe serem introduzidos novos tipos de sinistros, e isso está a acontecer com vários sectores da actividade hortícola e no tomate em concreto.

Segundo os dados do Eurostat, somos o maior produtor de tomate na Europa. Ainda podemos produzir mais?
Pode-se produzir mais e em novas regiões. É preciso é que o mercado valorize o trabalho do produtor. O tomate está com preços muito baixos, o que representa um grande risco, porque tem custos muito elevados e com uma mais-valia inexistente em muitos casos.

Mas, os produtores ainda conseguem ganhar dinheiro…
Depende da produção de cada produtor. Num ano difícil tem menos produção e o normal é perder dinheiro. Que é a situação da maior parte dos produtores estes anos.

A indústria agro-alimentar portuguesa tem peso suficiente para absorver toda a produção de tomate?
Nós, tudo aquilo que fazemos é contratualizado com a indústria. Não fazemos o que queremos mas aquilo que combinamos com a indústria. Tudo.

Mas se produzissem mais?
Neste momento, as indústrias estão satisfeitas com a oferta de produtos em Portugal e isso acontece sobretudo porque tem havido grandes crises noutros sectores, nomeadamente no caso do arroz e do milho. Porque potenciam também o aumento de outras áreas de produção.

“Nós, tudo aquilo que fazemos é contratualizado com a indústria. Não fazemos o que queremos mas aquilo que combinamos com a indústria.”

Em termos de tecnologia, os produtores da Torriba estão mesmo na vanguarda da tecnologia?
Ah sim. Tendo em conta as condições com que estamos a trabalhar, não tenho dúvida nenhuma que temos os melhores produtores do Mundo. Porque não temos uma vida facilitada como os Estados Unidos, a seguir aos Estados Unidos somos os maiores produtores per capita do Mundo, não tenho dúvida nenhuma que temos os melhores produtores do Mundo. O que me faz confusão é que os melhores produtores do Mundo não consigam ganhar dinheiro.

Pode dar dois ou três exemplos de inovação entre os produtores da Torriba?
Inovaram nos sistemas de controle e gestão de rega, nos tratamentos cada vez menos agressivos para o ambiente, evoluíram na mecanização das culturas, nas escolhas de variedades. E tiraram partido das evoluções por exemplo da genética.

Em termos de agricultura biológica o que produzem?

Neste momento não estamos ainda a desenvolver a produção biológica.

No caso da batata, para onde a exportam?
Sobretudo para a Alemanha, Holanda, Espanha e França. A maior parte é para indústria, em Portugal e Espanha, exportamos 40% da produção.

Agricultura e Mar Actual

 

 
       
   
 

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