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Gonçalo da Câmara Pereira: “Temos de arrancar todos os eucaliptos e pinheiros. Todos. E apostar na silvopastorícia para renovar os solos”

Entrevista a Gonçalo da Câmara Pereira, presidente do Partido Popular Monárquico (PPM)

O presidente do Partido Popular Monárquico (PPM), Gonçalo da Câmara Pereira, quer acabar “com as espécies invasoras, o eucalipto e o pinheiro. Todas”. Diz que se as acácias “são invasoras” e são para abater, o eucalipto (Austrália) e o pinheiro (Norte da Europa) também.

Eliminar o pinheiro e o eucalipto em Portugal “custa 3% ou 4% do PIB”, mas Gonçalo da Câmara Pereira diz que “tem de ser”. ” A indústria celulósica é poluente. Pode durar umas quatros gerações, mas temos de renovar a nossa floresta”, para renovar os “nossos solos”.

Quanto aos novos partidos “ditos ambientalistas”, como o PAN, o líder do PPM, que concorre coligado com a Democracia 21, de Sofia Afonso Ferreira, Gonçalo da Câmara Pereira diz que “não são partidos verdadeiramente ecológicos nem ambientalistas, andam é a enganar o povo”.

Para o líder do PPM, a Reforma da Floresta de Capoulas Santos “é mais do mesmo. Vai arder tudo outra vez”.

Porque tem sempre o PPM, sendo monárquico, propostas muito focadas no mundo rural?

O PPM sempre foi o grande partido ecologista português. Desde 1969, já no tempo da Convergência Monárquica, que falamos na ecologia. Portanto, em 1974 foi o primeiro partido na Europa a ser considerado um partido ecologista. Já haviam os Verdes na Alemanha, mas eram um partido ambientalista e nós somos um partido ecologista.

Mas o ambiente agora passou a ser uma moda, há partidos novos dedicados ao tema e os tradicionais também já todos falam de ambiente. Por exemplo, como vê as propostas de partidos como o PAN?

Hoje em dia utiliza-se o ambiente e a ecologia para fazer chicana política. Não são partidos verdadeiramente ecológicos nem ambientalistas, andam é a enganar o povo.

A maneira de um partido ecologista ver a vida é completamente diferente dos partidos ambientalistas. Nós abordamos a vida entre as pessoas e o meio ambiente em que estão inseridos.

É preciso ver que o PAN é um partido que saiu do Partido Socialista, assim como Os Verdes saíram do Partido Comunista

A Sofia Afonso Ferreira [número dois da lista do PPM por Lisboa, pela Democracia 21] tem dado um grande contributo à nossa campanha, a falar exactamente sobre a economia de mercado dentro da perspectiva ecológica que temos, sem fazer essa guerra entre o capital e o trabalho, que todos utilizam.

É preciso ver que o PAN é um partido que saiu do Partido Socialista, assim como Os Verdes saíram do Partido Comunista. Portanto, são partidos que utilizam a ecologia para cativar jovens para outro tipo de ideologias; é completamente diferente.

O PPM vai conseguir eleger deputados?

Não sei, nunca foi a nossa preocupação. O PPM quer realmente ter votos para continuarmos a ter uma voz activa, mas a nossa intenção é tentar mudar a consciência das pessoas e tentar passar a ideologia ecológica a todos os outros partidos.

Quando falam nos incêndios esquecem-se que o grande problema dos incêndios é o eucalipto e o pinheiro, porque os carvalhos não ardem, as plantações autóctones são adaptadas ao clima mediterrânico e Atlântico que temos

Se eleger um deputado quais as primeiras propostas a fazer no parlamento?

Liberalizar a economia, isso era logo. A segunda seria acabar com as espécies invasoras, o eucalipto e o pinheiro. Não há um único partido que se diga ambientalista que fale das espécies invasoras. Falam muito do cãozinho e do gato e esquecem-se que o eucalipto e o pinheiro são espécies que não são autóctones, são importadas, o pinheiro do Norte da Europa e o eucalipto da Austrália, que se adaptaram muito bem aos nossos solos pobres, mas que os vão empobrecendo ainda mais.

Gonçalo da Câmara Pereira, à esquerda, e Sofia Afonso Ferreira (D21) à direita, em campanha no Mercado do Livramento, em Setúbal.

Quando falam nos incêndios esquecem-se que o grande problema dos incêndios é o eucalipto e o pinheiro, porque os carvalhos não ardem, as plantações autóctones são adaptadas ao clima mediterrânico e Atlântico que temos.

Custa 3% ou 4% do PIB, mas tem de ser. São espécies invasoras. Se acabamos com as acácias porque são invasoras…

Mas acabava com todo o eucalipto?

Tinha que ser. Todo. Custa 3% ou 4% do PIB, mas tem de ser. São espécies invasoras. Se acabamos com as acácias porque são invasoras … O problema é que as acácias não têm aproveitamento na madeira, por isso todos dizem que são espécies invasoras. As outras não são. Temos de renovar a floresta.

E que se faz com a industria papeleira?

É uma indústria poluente… esgota-nos os solos. Normalmente, as pessoas, e os partidos, esquecem-se que Lisboa é abastecida com a água do Zêzere, da Barragem de Castelo de Bode, mas o resto, vem de outras praias fluviais que todas têm celulose. Por mais que possamos despoluir o Rio Trancão, por causa das indústrias suinicultoras, o que realmente melhorou muito, nas restantes praias o grande problema é as celuloses. E ninguém fala nisso.
Tudo na boa, porquê? Porque mexe com 3% ou 4% do PIB. Realmente é duro. É duro mas… como dizia um outro senhor, o PPM é um partido católico, cristão, Deus fez o Mundo durante cinco dias e ao sexto dia, antes de descansar, fez o homem para jardineiro, para tomar conta de tudo o que Ele tinha feito.

E nós estamos a destruir o ambiente, o nosso papel é realmente ser o jardineiro deste Mundo maravilhoso que temos.

Mudando um pouco de assunto. Como vê a Reforma da Floresta de Capoulas Santos?

É mais do mesmo. Vai arder tudo outra vez. O que está a arder neste momento não são árvores com potencial de rentabilidade económica. Quando uma plantação perde a rentabilidade, perde a viabilidade económica, é esse o problema. Aquilo arde. Depois os eucaliptos voltam a rebentar, ardem novamente e voltam a rebentar. É esse o grande problema.

Quando uma plantação perde a rentabilidade, perde a viabilidade económica, é esse o problema. Aquilo arde. Depois os eucaliptos voltam a rebentar, ardem novamente e voltam a rebentar. É esse o grande problema.

Quando o pinhal ou o eucaliptal perdem a rentabilidade económica, e o eucaliptal acaba a sua rentabilidade económica ao fim de 22 anos, devia ser tudo arrancado. Pela raiz. Ora, não arrancam e depois fica ali uma massa verde que cresce e que não tem rentabilidade. E pior: aquelas árvores só são rentáveis quando ardem, porque serve para pellets.

O problema é esse, essa floresta tem de arder para ser baratinha, porque as pellets também têm de ser baratas.

Mas essa não é uma proposta dura em termos económicos?

É chato dizer isto, realmente é duro, mas a desertificação é mais dura. Temos de pensar a longo prazo. Quando plantamos um eucalipto ele vai beber a 500 metros a água do poço do vizinho.

O problema é esse, essa floresta tem de arder para ser baratinha, porque as pellets também têm de ser baratas.

Quando se planta um eucaliptal, numa zona de 5 quilómetros seca tudo. Portanto, o vizinho ficou sem água para fazer agricultura nem para os seus animais. E o que lhe acontece? Desaparece.

Mas defende mesmo que se arranquem todos os eucaliptos?

Tem de ser. Doa a quem doer. Não podemos ser ecologistas numa coisa e não o ser noutras. Temos de arrancar todos os eucaliptos e pinheiros. Todos. E apostar na silvopastorícia para renovar os solos. Mas temos é de fazer isso de uma forma gradual, porque esses recursos têm de ser substituídos por outros. E para essa parte temos o projecto da D21, que nos está a ajudar a substituir esses recursos, que criam emprego, por outros, mas sempre de modo gradual.

Apostar na silvopastorícia para renovar os solos. Mas temos é de fazer isso de uma forma gradual, porque esses recursos têm de ser substituídos por outros

Doutro modo Portugal empobrece alegremente. Temos 6.000 anos de sedentarismo na Península Ibérica, esgotámos os nossos solos, estão esgotados, e agora temos de recuperar o agros, a camada arável, que está no osso, está na pedra. E só se recupera a camada arável se tivermos silvopastorícia em que o gado possa viver. Num eucaliptal nem os passarinhos lá fazem ninho , nem um coelho ou uma lebre nem uma raposa la andam. Nem para a caça aquilo serve.

Isto porque as folhosas depositam-se no chão e não deixam o sol chegar ao solo, não havendo sol no solo não há renovação da matéria orgânica, seja o pinheiro ou o eucalipto, é como se fosse um plástico preto em cima do solo. E o eucalipto esgota.

Custa duas, três ou quatro gerações, é o que for, mas temos de renovar o nosso solo, recuperar a camada arável. E isso só acontece se tivermos a vaquinha e o coelhino a fazer cocó, a pastar. As melhores sementes, que captam a luz do sol e metem azoto na terra e matéria organiza, são sementes duras, que os ruminantes comem e deixam nas fezes.

Nas fezes a semente é dura e quando esse material deixa de ser vivo, as sementes têm condições de germinação. Uma vaca faz ali uma bosta e nasce um trevo, no meio da pedra, começa a captar azoto no solo e o meter na terra.
Temos de aumentar a capacidade do solo, temos solos pobres, muito débeis, muito curtos. Vamos para a Alemanha e eles têm solos com 3 e 4 metros de camada arável. Nós andamos aqui na pedra.

E a aposta no regadio é para se manter?

Claro que sim. A água tem de ser muito bem doseada e a rega gota-a-gota funciona muito bem. Israel deixou de ser um deserto quando inventaram a rega gota-a-gota.

Mas o PAN quer acabar com o apoio ao novo regadio.

Sim, mas é diferente. Não é com o regadio que eles querem acabar, mas sim com o regadio às culturas intensivas, porque metem uma série de insecticidas e produtos que não são naturais e que também vão diminuir a capacidade do solo. Faz sentido ou depois, em Lisboa vamos captar águas subterrâneas e beber água cheia de pesticidas e nada biodegradáveis.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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Um comentário

  1. Certamente que serão os chiques de lisboa que se vão converter a pastores, eu desde já garanto que dou emprego a um.

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