O Plano de Acção para Controlo da Doença Hemorrágica Viral do Coelho-bravo foi elaborado na sequência do Despacho n.º 4757/2017, de 31 de Maio do ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, na altura Luís Capoulas Santos. Este tem como objectivo de inverter o processo de declínio das populações de coelho-bravo, repondo o equilíbrio ecológico, considerando a importância estratégica desta espécie nos ecossistemas mediterrânicos e no quadro cinegético nacional.
Este plano desenvolve-se em três eixos (programa de investigação, medidas de gestão e vigilância sanitária), com os objectivos particulares seguintes:
- Conhecer, monitorizar e controlar a mortalidade associada à DHV;
- Fomentar populações viáveis e auto-sustentáveis de coelho-bravo;
- Contribuir para o incremento das populações de coelho-bravo através da realização de práticas de gestão adequadas e integradas;
- Aumentar a consciência social sobre a importância das boas práticas de gestão.
Amostras para análises laboratoriais
Considerando que no âmbito deste plano é necessário dispor de um elevado número de amostras para análises laboratoriais, conta-se, por um lado, com o envolvimento das Organizações do Sector da Caça (OSC), dos caçadores e entidades gestoras das zonas de caça, e, por outro, com o ICNF — Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, no estabelecimento de uma rede de recolha de material biológico e envio para os laboratórios do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV).
Visando esclarecer o procedimento de recolha de cadáveres encontrados no campo (durante todo o ano) e a colheita de material biológico nas zonas de caça a amostrar, estão disponíveis:
- Fichas para identificação das amostras;
- Protocolo de colheita / Locais de entrega das amostras;
- Folheto divulgativo – informação sobre o vírus e medidas de profilaxia, controle sanitário e recomendações;
- Cartaz informativo.
Doença Hemorrágica Viral do Coelho-bravo
A Doença Hemorrágica Viral do Coelho-bravo (DHV) é uma doença de origem viral (RHDV), causada por um Lagovirus da família Caliciviridae, altamente contagiosa, normalmente de evolução aguda e de desfecho fatal, que afecta os coelhos domésticos e selvagens.
Segundo um folheto informativo do INIAV, a DHV aguda causa a morte súbita, normalmente acompanhada por sangramento nasal, enquanto a doença de evolução sub-aguda ou crónica se caracteriza por icterícia generalizada e descoloração das orelhas, conjuntiva e mucosas, perda de peso e letargia.
As lesões observadas incluem alterações do fígado e hemorragia generalizada, com presença de sangue na cavidade abdominal.
Nova variante
A nova variante do vírus (RHDV2) foi reportada em França em 2010 e em Portugal em 2012, estendendo-se a quase todo o território Português, causando elevada morbilidade e mortalidade.
O período de incubação pode variar de 1 a 5 dias, afectando animais de todas as faixas etárias.
Espécies susceptíveis
O RHDV2 infeta o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), doméstico e selvagem. Foi descrita a infecção de algumas espécies de lebres com RHDV2, nomeadamente a Lebre Europeia, a Lebre Italiana, a Lebre variável e a Lebre do Cabo. Existem, assim, evidências de que este vírus tem a capacidade de infectar novas espécies.
Resistência e disseminação do RHDV2
Acrescenta o folheto do INIAV que o vírus é muito resistente no meio ambiente, particularmente quando protegido por material orgânico. Sobrevive a temperaturas de 50ºC, durante 1 hora, e é estável a pH compreendido entre 4,5 (ácido) e 10 (alcalino). É inactivado com hidróxido de sódio (1% m/v) ou formalina (1-2% v/v).
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) recomenda a formalina (3%) para a desinfecção de peles e alerta para o facto de o vírus poder resistir na carne de coelho refrigerada ou congelada, pelo que o comércio de carne de coelho e seus derivados, constituem riscos de introdução da doença.
Nos cadáveres em decomposição no meio ambiente, o vírus resiste durante meses, constituindo fontes de infecção para animais saudáveis e promovendo a disseminação do vírus.
Os animais doentes e os que recuperam da infecção natural eliminam o vírus na maioria das secreções (urina, fezes e exsudados respiratórios).
Qualquer material inerte contaminado, como alimentos, camas e água, pode também ser fonte de infecção.
Transmissão do vírus
A transmissão do vírus a animais saudáveis pode ocorrer por contacto directo com animais infectados (por via oral, nasal ou conjuntival) ou por contacto com outras fontes de infecção acima descritas.
A transmissão mecânica por moscas e outros insectos, a acção de disseminação por predadores selvagens que podem excretar o vírus nas fezes após a ingestão de coelhos infectados, as actividades humanas que favorecem a contaminação ambiental e dispersão, associados à grande resistência deste vírus, dificultam o controlo desta infecção e explicam a elevada probabilidade de recorrência de surtos.
Agricultura e Mar Actual