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Caro Centeno, nós explicamos-lhe porque o preço do leite desce na UE mas não em Portugal

Editorial

O Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, — que até já foi ministro das Finanças—, em entrevista à Agência Lusa, mostrou, mais uma vez, a sua incompetência económica. E desconhecimento total da actividade agropecuária. E do País e da União Europeia.

“Eu não consigo entender porque é que o preço do leite no mercado internacional está a cair 20% e o preço do leite em Portugal ainda não começou a ajustar desta maneira”, disse Centeno.

Se não sabe é porque não lê jornais nem consulta os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e vive alheio da realidade dos empresários do Mundo Rural, que nos põem a comida, e o leite, na mesa.

Já em Dezembro de 2021 a direcção da Aprolep — Associação dos Produtores de Leite de Portugal dizia: “não queremos depender de subsídios para o resto da vida. Queremos um preço justo de 0,4€/l de leite”. 

Caro Centeno, leu bem? Em 2021 os produtores de leite queriam ser pagos por “um preço justo de 0,4€/l de leite”.

Antes, em Maio de 2021, a Associação já alertava que os produtores de leite portugueses eram “os mais mal pagos da UE“, pedindo ajuda ao Governo, indústrias de lacticínios e distribuição para “ultrapassar a miséria do actual preço do leite”. Só pediam 0,4€/l de leite, que na altura era vendido nos supermercados por pouco mais de 50 cêntimos.

Caro Centeno, sabe porque aumentou o preço do leite ao consumidor, mesmo antes desta onda inflacionária? Não, não foi por causa da Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar (PARCA), promovida pelo Ministério da Agricultura. Foi porque um grupo da grande distribuição — Pingo Doce, da Jerónimo Martins, que também é produtor de leite — decidiu, em Outubro de 2022, uma subida de 5 cêntimos por litro de leite pago aos seus produtores a partir de 1 de Novembro, o que resultou num preço de 60 cêntimos por litro, permitindo que o sector não vendesse o leite abaixo do custo de produção.

Eu sei, isto é Economia e pode ser difícil de entender, mesmo para um Governador do Banco de Portugal.

Por isso explico em modo senso comum: entre Março de 2021 e Março de 2022 “mais 200 produtores abandonaram a actividade em Portugal. Sem uma actualização urgente do preço do leite e uma inversão de atitudes a produção de leite português caminha para a extinção. Quem deixa as vacas de leite não volta a esta actividade”, dizia a Aprolep.

Assim, percebe?

Preço do leite no Mundo

Se ainda não chega, aqui deixo mais uns dados, económicos. О preço médio do litro de leite pago pelo consumidor no Mundo é de 1,69 euros por litro. O menor preço é de 0,44 euros (Tunísia) e o preço mais alto é 4,97 euros (Nigéria). Os dados são da GlobalProductPrices.com, relativos a Março de 2023, e incluem 92 países. Portugal é onde o preço do leite é mais caro em 82 países.

Em termos de União Europeia, o preço do leite por litro mais barato, pago pelo consumidor, verifica-se na Polónia (0,80 €), seguindo-se a Eslováquia (0,98 €) e logo a seguir Portugal, com um preço médio de 1,02 euros.

Os consumidores da Eslovénia, também Estado-membro da UE, pagam 1,07 euros por litro de leite. Em Espanha o custo é de 1,21 euros e os franceses pagam 1,25 euros. Na República Checa, um litro de leite custa, nos supermercados, 1,61 euros e na Grécia — país pobre como Portugal e de semelhante dimensão —  é pago 2,01 euros por litro de leite. O recorde na UE vai para a Alemanha, com 2,36 euros por litro.

Mas, quem sou eu, simples jornalista que só entrevistou Mário Centeno duas vezes, entrevistas nas quais me pareceu que o senhor de Economia pouco sabe? Eu não sou ninguém. O senhor já foi ministro das Finanças e agora é Governador do Banco de Portugal. Usando as suas palavras: “eu não consigo entender”.

Carlos Caldeira

 
       
   
 

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2 comentários

  1. Os produtores de leite portugueses são os mais mal pagos da Europa? Mas qual a novidade, não serão todos os outros trabalhadores portugueses também os mais mal pagos da Europa? Eu diria, portanto, que isso é normal. Querem sair da cauda da Europa antes dos restantes trabalhadores?

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