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a. vagens de acácia-de-espigas, b. área dunar (re)invadida por forte germinação de acácia-de-espigas depois de uma intervenção, c. acácia-de-espigas com galhas, d. Trichilogaster acaciaelongifoliae, agente de controlo natural de acácia-de-espigas durante os testes de especificidade, em ambiente confinado (quarentena) onde foi colocado em contacto com muitas espécies não-alvo, não tendo formado galhas em nenhuma.

Autorizado. Insecto vai controlar acácia-de-espigas

Depois de mais de 12 anos de estudos, avaliações de risco e pedidos de autorização, passando o crivo de autoridades nacionais e europeias, uma equipa de investigadores do Centro de Ecologia Funcional (CEF, coordenado pela professora Helena Freitas) da Universidade de Coimbra (UC) e da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) obteve autorização para a libertação do primeiro agente de controlo natural para conter a dispersão de uma planta invasora em Portugal, e o terceiro na Europa.

A espécie-alvo do insecto cuja libertação foi agora autorizada é a acácia-de-espigas, um arbusto/pequena árvore australiana que é uma das piores invasoras no litoral português. Além de ameaçar a biodiversidade nativa, esta planta invasora altera o solo e a dinâmica do sistema dunar, diminui a produtividade em áreas florestais e acarreta custos elevados para o seu controlo.

As primeiras largadas de insectos decorrem no próximo mês de Outubro.

“A sua capacidade invasora está em larga medida relacionada com a produção de uma grande quantidade de sementes, que se acumulam num banco de sementes muito numeroso, e que permanecem viáveis no solo durante muitos anos”, explica a investigadora Elizabete Marchante, do CEF/UC.

A autorização agora obtida, após um longo e exigente processo, “é um passo de gigante numa Europa muito conservadora em relação ao controlo natural de plantas invasoras. Não só é um importante contributo para o controlo da acácia-de-espigas, como abre portas para a utilização desta tecnologia no futuro, para o controlo de outras espécies de plantas invasoras”, sublinha a investigadora da UC.

Este processo de controlo natural consiste em libertar um pequeno insecto australiano (Trichilogaster acaciaelongifoliae) que “promove a formação de galhas (também conhecidas como bugalhos) nas gemas florais da acácia-de-espigas. Quando as galhas se formam, as flores e consequentemente os frutos e depois as sementes da planta invasora não se chegam a formar. O resultado é a diminuição da capacidade de invasão e de dispersão da acácia-de-espigas, já que o número de sementes diminui significativamente”, clarifica Hélia Marchante, investigadora do CEF e do IPC, que trabalha com este insecto desde 2003.

Ao longo destes anos, a equipa realizou testes em outras plantas (na África do Sul e em Portugal) e “assegurou-se que o insecto não afectará espécies não-alvo. De facto, este pequeno himenóptero (2-3 mm) é muito específico e precisa da acácia-de-espigas para completar o seu ciclo de vida. Em Portugal, foi testada uma lista de 40 plantas incluindo espécies nativas e espécies com interesse económico, e apenas se observou a formação de galhas em acácia-de-espigas, o que corrobora a grande especificidade deste organismo”, realçam as investigadoras.

Com os últimos estudos já efectuados no âmbito do projecto INVADER-B, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e comparticipado pelo Fundo Comunitário Europeu (FEDER), prevê-se que as primeiras largadas de insectos decorram no próximo mês de Outubro.

Actualmente, os métodos utilizados em Portugal para controlar acácia-de-espigas (controlo mecânico, por vezes, conjugado com controlo químico) têm-se revelado ineficazes (além de muito dispendiosos) principalmente porque a germinação das sementes armazenadas no solo promove a rápida re-invasão das áreas intervencionadas.

Neste contexto, o controlo natural é uma importante ferramenta/tecnologia para a conservação da natureza, sendo sustentável e amigo do ambiente quando utilizados organismos bastante específicos, como é o caso deste insecto formador de galhas.

Resumo das fases do processo para obtenção de autorização:
– Foi pedida autorização para realização dos testes ao, então, ICN (Instituto de Conservação na Natureza); os testes foram autorizados e a lista de espécies a testar validada dando-se início aos testes que decorreram entre 2005 e 2010. Após conclusão dos testes os resultados confirmaram a especificidade do organismo (de entre todas as espécies testadas apenas se formaram galhas em acácia-de-espigas) e foram publicados numa revista científica da especialidade estando disponíveis para consulta (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1049964410002343).

– O pedido de libertação foi entregue ao ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) que entendeu que a DGAV (Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária) devia ser consultada, por ser a entidade nacional mais competente na área de protecção de plantas;

– Por sua vez, a DGAV decidiu que o pedido devia ser analisado a nível europeu, onde os vários Estados-membros têm oportunidade de se pronunciar;

– O Comité Fitossanitário Permanente, da Direcção Geral da Saúde e Consumidores da Comissão Europeia analisou o pedido e decidiu solicitar à EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) a elaboração de uma análise de risco.

– A EFSA elaborou o seu parecer, divulgado em Abril de 2015, e este foi favorável à libertação do agente de controlo natural.

– O Comité Fitossanitário Permanente analisou o parecer da EFSA e não encontrou nenhuma razão para não libertar T. acaciaelongifoliae em Portugal.

– O processo foi devolvido às entidades portuguesas que deram autorização para a libertação de Trichilogaster acaciaelongifoliae, tornando Portugal no segundo país da Europa (depois do Reino Unido) a autorizar a utilização de um agente de controlo natural para conter uma planta invasora.

Mais informações podem ser obtidas aqui.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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