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Anpromis: “O futuro da Europa agrícola é o desafio que nos deve mobilizar”

O 8º Colóquio Nacional do Milho reuniu mais de 300 pessoas em Ponta Delgada, a 18 de Fevereiro, para debater os desafios e oportunidades dos sectores do milho e do leite. Apesar da conjuntura de baixos rendimentos que as explorações agrícolas nacionais enfrentam, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, encerrou o Colóquio com uma palavra de “confiança, solidariedade e estímulo” aos agricultores.

A direcção da Anpromis – Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo alertou para o “desígnio de manter a produção agrícola em Portugal e na Europa” e para a necessidade de “a União Europeia encontrar rapidamente um caminho de competitividade e eficiência produtiva, como única forma de sobreviver perante as ameaças da globalização”.

Na semana em que se assinalou o 523º aniversário da chegada no milho à Europa, cuja primeira semente desembarcou na ilha de Santa Maria, nos Açores, em 1493, vindo da América, o milho voltou a ser notícia nos Açores, por via do 8º Colóquio Nacional do Milho, que mobilizou centenas de agricultores, empresas agrícolas e políticos, tanto desta Região Autónoma, como de Portugal continental.

Luís Vasconcellos e Souza, o presidente da direcção da Anpromis, que terminou o seu mandato nesta ocasião, disse que a realização do Colóquio nos Açores “é um acto de justiça para com os produtores do arquipélago, porque aqui se produz mais milho do que em grande parte das direcções regionais do continente” e realçou o “dinamismo da agricultura e pecuária açorianas, onde o milho tem enorme potencial produtivo e é essencial como matéria-prima numa alimentação de qualidade do efectivo leiteiro da região”.

A área de milho nos Açores aumentou mais de 50% nos últimos anos, de 3.700 hectares para 11.000 hectares, em 2015, e esta cultura agrícola constitui um “factor de produção decisivo no sucesso nas explorações leiteiras açorianas”, reconheceu o secretário Regional de Agricultura e Ambiente açoriano. “Os preços leite à produção desceram em toda a Europa, mas não devemos desanimar nem desistir da nossa identidade, futuro e País. Prosseguir o caminho da valorização, da inovação, da internacionalização e reduzir custos na exploração são essenciais. Queremos reforçar a competitividade e a imagem de marca de qualidade aliada à origem Açores”, disse Luís Neto Viveiros.

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, que encerrou o Colóquio, afirmou estar “profundamente empenhado” em encontrar medidas de apoio ao sector do leite que vive uma “conjuntura explosiva” – fim das quotas leiteiras, embargo russo às importações, desaceleração económica nos países emergentes, aumento da produção, decréscimo do consumo. “São precisas soluções à escala nacional e europeia para que os produtores sobrevivam, numa primeira fase, e para que retomem a normalidade da sua actividade, numa fase posterior”, disse Capoulas Santos.

Executar o PDR 2020 a 100%

O ministro da Agricultura garantiu ainda a “relativa continuidade das políticas que têm sido chave no sucesso da nossa Agricultura” e disse que a verba de 1.052 milhões de euros destinados à agricultura inscrita na proposta de Orçamento do Estado (OE) permitirá executar a 100% o PDR2020 em 2016.

O presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, João Machado, reconheceu que “foram conseguidos compromissos importantes para a agricultura na proposta de OE para 2016” e considerou crucial que o Governo perceba que “a estabilidade no sector agrícola é fundamental, porque seria dramático interromper o ciclo de crescimento e criação de valor iniciado nos últimos anos”.

Numa análise macro da conjuntura actual, Luís Vasconcellos e Souza, lembrou que “o futuro da Europa agrícola é um desafio para todos nós, perante a emergência de outras potenciais mundiais (…) as mudanças vão ser mais radicais do que estamos à espera, porque a Europa está a ser vítima de fenómenos motivados pela globalização, como a desvalorização da moeda no Brasil e na Argentina”. Para o presidente cessante da Anpromis, “o desígnio dos agricultores europeus é serem mais eficientes na produção, única forma de conseguirem sobreviver neste mundo globalizado, e o desígnio da Europa é alinhar os seus interesses e organizar-se a nível económico, social e político para responder aos desafios”.

Promover o leite e a origem Açores

A promoção da qualidade e da diferenciação são caminhos certeiros para o leite açoriano, um produto único na Europa pelas especificidades da sua produção. “Temos que ser audazes a promover a marca Açores, o sector leiteiro nos Açores tem futuro assegurado se estiver assente na promoção e na garantia de qualidade dos nossos lacticínios”, disse Jorge Rita, presidente da Associação Agrícola de São Miguel e da Federação Agrícola dos Açores.

De acordo com estudos de mercado recentes, os lacticínios foram a única família de produtos alimentares cujo consumo não cresceu no retalho português em 2015. Uma realidade que é preciso perceber e contrariar. Pedro Pimentel, director-geral da Centromarca, sublinhou que está a haver uma “guerra de comunicação contra o leite, com um efeito erosivo no consumo”, e disse que a única forma de contrariar esta tendência é com divulgação massiva sobre os benefícios do leite; informação ao consumidor sobre o processo produtivo da quinta ao prato; capitalização de tendências de consumo “sem lactose” e “baixo teor de gordura” e com a criação de uma ideia de glamour associada ao consumo de leite.

Leite de vacas felizes

Os cerca de 350 participantes do 8º Colóquio Nacional do Milho puderam verificar in loco a realidade produtiva dos sectores do milho e do leite em São Miguel, visitando uma exploração leiteira de referência na Região, no âmbito do programa de visitas técnicas organizado pela Anpromis, no dia 19 de Fevereiro.

Nesse mesmo dia, tiveram lugar duas outras visitas, a uma estufa de ananases, pertença da cooperativa ProFrutos, e às instalações da Associação Agrícola de São Miguel que, com um quadro de pessoal de elevada competência técnica, presta apoio a cerca de 2.000 associados sediados nesta ilha.

A Anpromis – Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo é um centro de apoio e informação aos produtores e suas organizações, participando, propondo, discutindo e debatendo todas as questões que afectam a produção de milho e sorgo, em Portugal.

O milho é a cultura arvense com a maior expressão em Portugal, ocupando uma área que ronda os 130 mil hectares, com uma produção média anual estimada nas 930 mil toneladas, o que permite que Portugal tenha uma capacidade de auto-aprovisionamento neste cereal de cerca de 35%.

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