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Alterações climáticas, mais pragas e menos substâncias activas. Agricultores têm de responder com prevenção, inovação e melhoramento genético

As alterações climáticas estão a gerar mudanças no ciclo biológico das culturas, mas também das pragas, que são cada vez mais, pelo aumento da temperatura e até pela disseminação através do comércio global. Como vão os agricultores ultrapassar mais esta batalha? Apostando na inovação e prevenção e no melhoramento genético, alterando as características das plantas de uma forma segura. Isto numa altura em que a retirada de substâncias activas do mercado se torna cada vez mais irreversível.

Estas são algumas das conclusões do webinar “Alterações Climáticas e Novos Problemas Fitossanitários”, promovido, no passado dia 7 de Outubro, pela Anipla — Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas e a CAP — Confederação dos Agricultores de Portugal. 

“O importante é agir para combater as consequências destas alterações, sem ver a agricultura como única vilã e principal culpada”, salientou a sub-directora Geral da Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Paula Carvalho.

E alertou a presidente da direcção da Anipla, Felisbela Campos: “a indústria da protecção de plantas precisa de tempo e espaço para implementar mudanças e desenvolver novas técnicas, colocando alternativas consistentes no mercado”.

Um evento em que o secretário-geral da CAP, Luís Mira, ficou responsável pela abertura, tomando como ponto de partida um objectivo que guiou toda a conversa: só um sistema agroalimentar justo, saudável e respeitador do ambiente, em que a produção de alimentos seguros é garantida e para todos, permitirá cumprir as metas da União Europeia.

Felisbela Campos: “se até então o sector esteve algo adormecido e pouco comunicava sobre o seu sentido de segurança e principais anseios, hoje isso é diferente, hoje comunicamos, clarificamos e desmistificamos o papel da ciência, essa que ainda que tenha estado “adormecida” na nossa voz, fará magia pelo futuro da agricultura”

Por sua vez, José Alberto Pereira, responsável pela moderação do debate deu início ao espaço de diálogo relembrando que “as alterações climáticas são uma problemática que nos impacta a todos e que vivemos um tempo em que quanto mais soluções tivermos do nosso lado, mais fácil será gerar culturas economicamente sustentáveis e viáveis que não tenham como consequência o abandono das terras”.

“A chave estará sempre na prevenção”

A sub-directora Geral da DGAV aproveitou para alertar que “a chave estará sempre na prevenção. As culturas têm sido ameaçadas por um número cada vez maior de pragas, disseminadas através do comércio global e da crescente globalização a que assistimos, que quando combinada com o aumento das temperaturas gera um cenário favorável à sua propagação em locais onde naturalmente não correriam”.

Por isso, “o importante é agir para combater as consequências destas alterações, sem ver a agricultura como única vilã e principal culpada. Por forma a produzir e garantir alimentos para toda a população os agricultores têm que defender as suas culturas, lidando com o facto de todos os dias aparecerem novos problemas para os quais não há uma resposta assertiva e eficaz, pelo que, a única solução é a aposta na inovação e prevenção”.

Aumento da temperatura média

Em nota de imprensa, a organização do webinar refere que o aumento da temperatura média global da atmosfera, a maior emissão de gases com efeitos de estufa e as ondas de calor e frio provocadas pela desregulação do clima, foram algumas das preocupações levantadas pelos oradores.

Para o presidente do Centro Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Filipe Duarte Santos, a grande problemática é “que a agricultura é, naturalmente, um dos sectores mais vulneráveis às consequências destas alterações, que poem em causa o acesso a alimentos seguros e produzidos em quantidades suficientes para todos”.

E acrescenta que “o Sul da Europa será das localizações do globo mais afectadas, e sendo que o que o futuro nos reserva é um agravamento da situação actual, é urgente identificar ferramentas que apoiem o sector e que viabilizem culturas essenciais. Para garantir que a agricultura não definha e não cede, é urgente inovar e investigar, num espírito altamente colaborativo”.

Retirada de substâncias activas

Numa altura em que a retirada de substâncias activas do mercado se torna cada vez mais irreversível e que as alterações climáticas são um caminho sem retorno, “só a ciência, investigação e inovação poderão dar suporte às necessidades dos agricultores, apoiá-los no combate a perigos emergentes e assegurar que o que chega à mesa continua a ser de consumo seguro”, refere a mesma nota de imprensa.

E realça que as alterações climáticas levaram a uma mudança do ciclo de vida das pragas e a uma redução da eficácia dos dispositivos de controlo, logo, é necessário que o sector se dote de novas e melhores ferramentas que permitam enfrentar uma nova realidade.

Melhoramento genético

É neste contexto que surgem associações privadas sem fins lucrativos, como a InnovPlantProtect, que apostam todos os dias no melhoramento genético, alterando as características das plantas de uma forma segura. Para Pedro Fevereiro, não há hesitação ao afirmar que “a tecnologia e a inovação são das ferramentas mais importantes para sobrevivermos às mudanças provocadas pelas alterações climáticas”.

Já Richard Borreani, membro da Comissão de Agricultura Sustentável da Anipla, concorda em absoluto e quando questionado sobre o tema e possíveis impactos também não tem dúvidas “a solução passará pela capacitação e formação de agricultores para o uso de novas tecnologias, das quais as técnicas genómicas e a digitalização são exemplo, aliadas às boas práticas na gestão de uso de produtos fitofarmacêuticos, uma missão de sensibilização que a Anipla leva há já vários anos e sob a qual incrementa esforços constantes, ano após ano”.

A encerrar o webinar, Felisbela Campos, chamou à atenção para os grandes desafios das metas políticas, exaltando a necessidade de acelerar a investigação e dotar os agricultores de ferramentas eficazes, se se quer garantir que estes respondem aos desafios propostos pela Política Agrícola Comum (PAC) e por iniciativas como a Estratégia do Prado ao Prato.

Contudo, relembrou “a indústria da protecção de plantas precisa de tempo e espaço para implementar mudanças e desenvolver novas técnicas, colocando alternativas consistentes no mercado. E comunicar continua a ser essencial: é importante relembrar e reforçar que tudo é uma questão de ponderação e de dose, assente num quadro de controlo cada vez mais apertado e afinado, do qual faremos questão de continuar a aproximar a opinião pública e todos os envolvidos na missão pela sustentabilidade”.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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