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Ações pelo Clima: Os desaires das COP’s e as propostas de Os Verdes

Opinião de Victor Cavaco, membro do Colectivo de Lisboa do Partido Ecologista Os Verdes (PEV)

Licenciado em Engenharia do Ambiente

O Planeta vai nu e até o Secretário Geral das Nações Unidas consegue ver isso, ainda que se inspire em AC/DC, já os conselheiros do Planeta (a maioria dos governantes e decisores) continuam a não querer ver e continuam a dar ouvidos aos alfaiates e modistas deste planeta (os lobbies e mercadores do petróleo), alimentando este traje invisível que é a COP.

Finda a COP 27 o seu resultado mantém a tendência da falta de vontade em agir para reduzir de facto as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE), mesmo quando o relatório das Nações Unidas evidencia que o atual rumo de consumo conduzirá a uma subida da temperatura média da ordem dos 2,8ºC até ao final deste século.

Nos vários momentos em que se conseguiu alguma regressão no consumo de combustíveis fósseis, estes foram precedidos de fortíssimas manobras dos “lobbies” do petróleo, da indústria automóvel, da aviação e das multinacionais da agropecuária, que foram esmagando as pequenas economias, embora seja nestas últimas que residem as melhores e mais viáveis respostas para a crise climática

Desde 1992 que as preocupações com o clima e com as alterações climáticas se institucionalizaram e produziram acordos com abrangência internacional nesta matéria. Mas a organização de uma economia global capitalista e agressiva sempre soube adaptar a continuidade do primado do lucro ao discurso climático e os mecanismos que foram sendo vendidos serviram antes para criar novas oportunidade de negócio, relegando para muito reduzido plano a emergência de travar as emissões de GEE. Os relatórios vão confirmando que apesar de todos os alertas, acordos e protocolos, não tem havido de facto uma mudança clara e comprometida de inversão do modelo económico dominante que trave as causas das alterações climáticas.

Modelo esse assente na exploração inesgotável dos recursos naturais, na promoção intensiva da produção e consumo de bens descartáveis com uma base energética largamente fóssil em crescimento contínuo.

Nos vários momentos em que se conseguiu alguma regressão no consumo de combustíveis fósseis, estes foram precedidos de fortíssimas manobras dos “lobbies” do petróleo, da indústria automóvel, da aviação e das multinacionais da agropecuária, que foram esmagando as pequenas economias, embora seja nestas últimas que residem as melhores e mais viáveis respostas para a crise climática.

Em 1992 a Cimeira do Rio ou ECO92 (Cimeira das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento) aprovou a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, traçando assim as primeiras metas para fazer face ao problema das alterações climáticas iniciando o processo que deu origem ao protocolo de Quioto (1997). Este Protocolo alertava e comprometia os países assinantes a reduzirem as suas emissões de GEE até perto dos níveis de 1990, no período de 2008 a 2012, para se travar o aumento médio da temperatura do planeta. Esse objetivo ficou, em termos globais, largamente aquém de ser atingido.

Em Portugal, apenas se conseguiu cumprir a redução de GEE devido à forte crise económica e social que o país viveu. Aliás, cumpriu-se Quioto sem que tenham sido de facto implementadas medidas para o efeito, mas agravaram-se os problemas de pobreza e dependência externa.

Face ao fracasso de Quioto e esgotado o seu prazo de validade, a COP21 de Paris em 2015, produziu novo acordo, menos ambicioso e já assumindo que a temperatura média global iria aumentar pelo menos 1,5º C, mas que tinha que ficar mesmo por aí. Aparentemente isto deixou os países contentes com esta grande conquista, animou discursos, mas as ações continuaram reféns do mesmo modelo de desenvolvimento.

E assim se continuou a caminhar assobiando para o lado, sentindo que se fez alguma coisa mas na verdade foi a assistir ao fomento do consumo de bens supérfluos ou descartáveis com fortes gastos energéticos, dependentes dos combustíveis fósseis e da exploração cada vez mais intensa dos recursos.

Travar e inverter o perigoso caminho das alterações climáticas exige medidas concretas e consequentes. Medidas que efetivamente promovam a redução do desperdício energético e aumentem a eficiência, nomeadamente ao nível do consumo de energia primária de origem fóssil: tais como o aumento da oferta de transportes coletivos, o aumento da rede ferroviária nacional, assim como transporte metropolitano em carril. Só assim se conseguirá incentivar a redução da utilização do meio de transporte individual e os seus efeitos no clima.

Outras medidas como o incentivo à produção agroalimentar local e menos intensiva tornam-se imperiosas para reduzir o transporte de mercadorias, reduzir o desperdício alimentar assim como a produção de GEE associados.

Outras ações que parecem fáceis de concretizar e que continuam arredadas em concreto das políticas e ações dos diversos estados são o aumento das manchas florestais autóctones e biodiversas, assim como um real esforço para a limpeza e regeneração dos ecossistemas marinhos, principal sumidouro de carbono e produtor de oxigénio do Planeta.

Mas nada disto será consequente sem uma das mais importantes mudanças de paradigma para inverter a tendência catastrófica da mudança climática – travar o poder e ingerência das grandes corporações, multinacionais e grupos económicos nas políticas e tomadas de decisão. Esse é sem dúvida o grande desafio que todas as COP’s parecem não conseguir enfrentar, antes pelo contrário. Todo este necessário decrescimento do desperdício, do descartável, da exploração desenfreada de recursos, da destruição dos ecossistemas passa fundamentalmente por travar o poder das grandes corporações, muitas delas na base dos conflitos bélicos que despontam por esse Mundo fora.

Mais uma COP que termina adiando as ações que há muito se clamam urgentes. O Planeta vai nu, despido de reais medidas que travem e reduzam a quantidade de GEE emitidos. Num momento em se avizinha uma profunda crise energética, nomeadamente na Europa, por todo lado surgem propostas para contornar as faltas de energia primária para que se continue a alimentar as dependências de combustíveis fósseis, o que denota que não se está a travar o domínio dos lobbies “petrolíferos” e corporativistas, antes pelo contrário, nunca se viu uma delegação tão grande de empresas de petróleo e de hidrocarbonetos como nesta Cimeira no Egipto. De facto o Planeta vai nu e quem toma decisões continua a não querer ver isso.

Queremos governos comprometidos com o clima, com o ambiente e qualidade de vida das populações, a tomarem as decisões certas com a coragem que se lhes exige…
Por isso hoje e sempre, a luta ecologista está na rua!!

Agricultura e Mar

 
       
   
 

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