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A revolução alimentar que vem da floresta

Opinião de Ricardo Nogueira Martins, Investigador colaborador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho

Valorizar a floresta nativa passa por compreender a floresta autóctone como uma fileira económica e alimentar emergente, em especial o potencial das quercíneas.

Os denominados frutos da floresta, como é o caso da bolota e o seu potencial alimentício na forma de farinha para consumo humano, animal, para não falar da utilização farmacêutica (potencial dos taninos de Quercus na cosméticos, farmacêutica e indústria química) devem sofrer uma visão de pormenor e integrar os investimentos governamentais.

O denominado “pó de landres” surge por diversas vezes indicado nas memórias paroquiais de 1842 demonstrando o seu uso habitual na casa dos portugueses (“café de bolota”) em alguns casos justificativo pelos párocos como a razão da boa longevidade da população. A par, demonstram-se também a utilização da bolota na panificação, pastelaria e o seu consumo directo em fresco, assadas em substituição de outros hidratos de carbono. Certo e sabido é que a bolota, demonstra propriedades antioxidantes, é rica em fibra e proteína, sendo ausente de glúten.

Será necessário organizar uma Estratégia Nacional que implemente um modelo de sustentabilidade económica para a bolota; definir entrepostos, delinear o calendário da apanha adaptado às diversas realidades edafoclimáticas regionais e a sua transformação em farinha

Desconsiderando o número de bolota que alimenta a fauna silvestre e que repovoa naturalmente as nossas florestas, Miguel Sottomayor, docente da Católica Porto, investigou que o remanescente de bolota é desperdiçado em 55%, um desperdício estimado acima dos acima dos 13 milhões de euros anuais.

Aponto para o potencial de investimento num período em que é necessário diversificar as matérias-primas panificadoras num contexto de alterações climáticas, fenómenos de seca e dependência externa de cereais e um conflito bélico eminente que poderá afectar o sistema alimentar, a disponibilidade e a inflação dos cereais.

Indirectamente defendo que a implementação de um novo olhar para este activo alimentar florestal permitirá também conservar fragmentos de floresta nativa, ampliar e reconverter as parcelas florestais com uma espécie autóctone mitigadora dos incêndios florestais e promotora da biodiversidade.

Para o efeito, será necessário organizar uma Estratégia Nacional que implemente um modelo de sustentabilidade económica para a bolota; definir entrepostos, delinear o calendário da apanha adaptado às diversas realidades edafoclimáticas regionais e a sua transformação em farinha, acompanhado transversalmente de apoios directos aos proprietários para a reconversão da ocupação florestal e rearborização, com uma espécie, cuja frutificação ocorre entre os 8-10 anos.

Sugestões de leitura:

Silvicultura Próxima da Natureza: Conciliar economia e ecologia para uma silvicultura multifuncional, rentável e sustentável, de João Paulo Fidalgo Carvalho.

Manual de cozinha com bolota para a era pós petrolífera, de César Lamas Costas.

Agricultura e Mar

 
       
   
 

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