“Acabe com a sobrepesca”, é esta a mensagem entregue ao Comissário da União Europeia (UE) para o Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius esta semana, como parte de uma declaração assinada por mais de 300 cientistas que apelam à acção da Comissão Europeia.
O Parlamento e os Estados-membros da UE devem acabar com a sobrepesca “como uma resposta urgente e necessária à crise climática e da biodiversidade”, dizem.
Os cientistas exigem que a UE estabeleça limites de pesca dentro dos pareceres científicos e reconhecem que “a gestão das pescas baseada nos ecossistemas é crítica para a saúde do oceano e para a sua capacidade de responder às alterações climáticas”.
Ricardo Serrão Santos também recebe mensagem
As assinaturas também serão entregues aos ministros das pescas dos Estados-membros da UE, antes de serem definidos os limites anuais de pesca para 2021, e aos membros do Parlamento Europeu que estão a preparar a sua resposta à Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030.
A declaração, assinada por nomes importantes no campo das ciências marinhas, incluindo o Professor Carlos M. Duarte, o Professor Hans-Otto Pörtner, a Dra. Valérie Masson-Delmotte, o Professor Rashid Sumaila, o Dr. Ute Jacob, o Dr. Jean-Baptiste Jouffray, o Professor Didier Gascuel, o Dr. Rainer Fröse, o Professor Alex Rogers, a Professora Victoria Reyes-Garcia, a Dra. Sandra Cassotta, o Professor Stiig Markager e o Professor Daniel Pauly, bem como mais de 30 cientistas portugueses, foi entregue esta semana ao Comissário da UE Virginijus Sinkevičius pela Our Fish.
Sobrepesca
“A sobrepesca e as capturas acidentais são os maiores responsáveis pela perda de biodiversidade no meio marinho”, disse o professor Alex Rogers, Diretor de Ciência na Rev Ocean. “Precisamos de um oceano saudável e produtivo, e acabar com a sobrepesca é fundamental. Isto é ainda mais importante quando nos confrontamos com os efeitos das alterações climáticas, que afectam todo o oceano, incluindo os próprios stocks de peixes. Como cientista, apelo à UE para que reconheça que a gestão das pescas baseada nos ecossistemas é necessária para a saúde do oceano e a sua capacidade de responder às alterações climáticas. É igualmente vital para a saúde humana, incluindo a das gerações futuras”.
“Sobrepescar significa tirar mais peixes da água do que os que podem voltar a aparecer e crescer. Para ser honesto, isso não faz muito sentido, porque então os stocks encolhem e os stocks pequenos apenas conseguem suportar capturas reduzidas. Isso não faz sentido nenhum; não ajuda os pescadores, não ajuda os peixes, não ajuda ninguém. Tem também um impacto no clima; os stocks pesqueiros muito pequenos não conseguem cumprir o seu papel no ecossistema. Se o ecossistema não funcionar correctamente, não consegue “respirar” correctamente e não absorve o CO2 de adequadamente”, afirmou o Rainer Fröse do Geomar – centro Helmholtz de investigação oceânica em Kiel, Alemanha.
“A ciência é clara – a UE deve garantir que um oceano saudável é fundamental para a sua resposta à crise climática e da natureza – e isso significa pôr finalmente um fim à sobrepesca”, disse Rebecca Hubbard, directora de Programa da Our Fish.
“Tal como com a nossa saúde, se continuarmos a agredir o oceano mantendo a sobrepesca, todo o sistema irá sair ainda mais enfraquecido, até deixar de ter capacidade de nos suportar com aquilo de que necessitamos: oxigénio, regulação do clima, alimentação e empregos. A UE tem que parar de arrastar os pés e tomar esta acção clara e decisiva agora, antes que seja tarde demais”, concluiu Hubbard.
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