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Nestlé usa trabalho escravo na produção de camarão

A empresa multinacional Nestlé admitiu esta semana que utiliza trabalho escravo na produção de camarão na Tailândia, sendo responsável pela tortura e mesmo morte de trabalhadores, conforme tinham revelado várias investigações feitas por jornais como o britânico The Guardian.

Os escravos, maioritariamente homens da Tailândia e Burma e Camboja, eram obrigados a trabalhar em turnos de 20 horas e sujeitos a espancamentos e torturas, assistindo à execução sumária dos que tentavam escapar. Os camarões destinavam-se aos mercados europeus e norte-americano.

Comprados e vendidos como mercadorias, os trabalhadores chegavam a passar anos em barcos de pesca, onde lhes ofereciam metanfetaminas para aguentar, relataram a jornalistas.

Após seis meses de denúncias, a Nestlé contratou a empresa norte-americana Verité para averiguar as acusações de que era alvo. A Verité conduziu uma investigação de um ano, que revelou que várias empresas contratadas pela Nestlé para fornecer marisco selvagem e de aquacultura utilizam trabalho escravo e trabalho infantil.

“Tal como temos repetido, o trabalho forçado e violações dos dieitos humanos não têm lugar na nossa cadeia de produção”, declarou ao The Guardian Magdi Batato, o vice-presidente executivo da Nestlé. “A Nestlé acredita que, ao trabalhar com fornecedores, pode ter um impacto positivo na origem dos ingredientes” dos alimentos que vende, acrescentou.

No entanto, a Nestlé é também uma das multinacionais, juntamente com as gigantes Cargill e Archer Daniels Midland, que apresentaram, na semana passada, um recurso ao Supremo Tribunal dos EUA para que seja arquivado um processo que as acusa do uso de trabalho infantil escravo na Costa do Marfim. O pedido de recurso foi indeferido.

Como funciona a cadeia de produção

Um exemplo revelado pelos meios de comunicação internacionais é o da Charoen Pokphand (CP) Foods, que opera a partir de uma sede na Tailândia como fornecedora de grandes marcas alimentares, como a Nestlé, vendendo ainda a sua própria marca de camarões a cadeias de supermercados como Walmart, Carrefour, Costco, Tesco e Aldi.

A CP Foods, com um lucro anual de mais de 30 mil milhões de euros, é proprietária dos navios-fábrica que usam escravos para pescar enormes quantidades de peixe “não comestível”, que é transformado nas suas unidades de produção em comida para camarões, os quais são vendidos aos seus clientes internacionais.

A Nestlé afirmou ainda que todas as empresas que compram produtos alimentares na Taildia, o terceiro maior exportador mundial de marisco, estão expostas aos mesmos “riscos” de comprar comida produzida por escravos.

Andrew Wallis, dirigente da ONG Unseen UK, citado pelo The Guardian, lembra que a admissão de culpa da Nestlé pode ser uma táctica para desviar a atenção do uso de práticas idênticas noutros países. “Este será um mundo bem diferente quando as empresas realmente investigarem as suas cadeias de produção, sem que estas tenham sido previamente expostas ao escrutínio do público”, frisa.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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