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Fungicida azoxistrobina eficiente na agricultura, mau para organismos aquáticos

A aplicação do fungicida agrícola mais utilizado no Mundo, à base da substância activa azoxistrobina, é eficaz na agricultura, mas apresenta risco para os organismos aquáticos. Isso mesmo revela um estudo realizado entre 2011 e 2016.

Financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a investigação foi liderada por Elsa Teresa Rodrigues, do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), e pretendeu dar resposta a uma lacuna identificada pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA, na sigla original em inglês), em 2010.

Na altura, ao efectuar uma revisão da avaliação do risco ambiental da azoxistrobina, a EFSA alertou a comunidade científica para a falta de dados sobre os efeitos deste pesticida nos organismos aquáticos.

Elsa Rodrigues, que se preparava para efectuar a sua tese de doutoramento, viu aqui uma oportunidade para responder ao desafio da EFSA. Sob orientação de Miguel Pardal, escolheu estudar a ocorrência, o destino e o efeito da azoxistrobina nos ecossistemas aquáticos.

Para caracterizar o risco ecológico da azoxistrobina nos sistemas aquáticos, a investigadora contou com a colaboração do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, das Universidades de Aveiro e do Algarve e do IAREN – Instituto da Água da Região do Norte.

A investigação

A equipa começou por desenvolver e validar metodologias analíticas que permitissem determinar os níveis de azoxistrobina e de outros cinco pesticidas em amostras de água e sedimento, assim como em amostras biológicas complexas (macroalgas, plantas aquáticas e animais aquáticos) e, posteriormente, estudar a variação sazonal e espacial destes pesticidas no estuário do rio Mondego.

Neste trabalho, os investigadores avaliaram ainda a toxicidade da azoxistrobina a diferentes níveis da organização biológica.

“A nível sub-regular foi utilizada a mitocôndria como modelo experimental, tendo sido estes organelos isolados de hepatopâncreas de caranguejo (Carcinus maenas); ao nível celular foram utilizadas seis linhas celulares derivadas de mamíferos e peixes; e ao nível da população utilizaram-se formas larvares e juvenis de vários organismos marinhos. Este trabalho permitiu ainda determinar e validar a concentração máxima sem efeitos para os organismos aquáticos, parâmetro fundamental para a caracterização do risco”, explica Elsa Rodrigues.

Os resultados do estudo “concluem que existe a possibilidade de haver efeitos adversos no compartimento água resultantes da aplicação agrícola da azoxistrobina. O conhecimento agora obtido é um contributo importante para a próxima revisão da EFSA, que acontecerá em 2021, auxiliando a decidir se este fungicida deve ou não continuar a ser comercializado”, acentua a investigadora da FCTUC.

Sem ensaios letais com peixes

Este projeto deu ainda um importante contributo para o desenvolvimento de ensaios ecotoxicológicos alternativos ao uso de peixes (organismos vertebrados) em laboratório: desenvolveu um trabalho de revisão sobre a utilização do invertebrado Carcinus maenas como modelo experimental credível e identificou a linha celular e o ensaio laboratorial mais adequados para substituir os tradicionais ensaios letais com peixes, para o fungicida estudado.

O estudo foi recentemente distinguido com uma menção honrosa na primeira edição do Prémio de Doutoramento em Ecologia – Fundação Amadeu Dias, promovido pela SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia.

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