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Anpromis: aposta dos produtores de cereais está em nichos de mercado para alimentação humana

Entrevista a José Luís Lopes, Presidente da Anpromis

O 1.º Congresso Ibérico do Milho 2019 realiza-se nos próximos dias 13 e 14 de Fevereiro de 2019, no Altis Grand Hotel, em Lisboa. Uma organização da Anpromis — Associação dos Produtores de Milho e Sorgo de Portugal e a Agpme — Associação Geral dos Produtores de Milho de Espanha.

Com as inscrições ainda abertas para o Congresso (aqui), o agriculturaemar.com entrevistou o presidente da Anpromis, José Luís Lopes, que revela que a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais tem já um grupo de trabalho a tratar de implementar as primeiras medidas.

As primeiras medidas da Estratégia, uma iniciativa do ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, passam por “reduzir os custos com electricidade e a organização dos agrupamentos de produtores”, revela José Luís Lopes.

Acrescenta o presidente da Anpromis que “a aposta dos cereais será aumentar a produtividade e apostar em nichos de mercado para alimentação humana”.

Como surgiu a ideia de fazer um Congresso Ibérico?

O Congresso da Anpromis, que se realiza de dois em dois anos, é um evento de referência na agricultura nacional. Há um ano tivemos a ideia de que um Congresso a nível Ibério seria uma forma de enaltecer o evento e, por outro lado,  realçar as vantagens que existem em termos de relacionamento e em termos de coordenação com os nossos congéneres ibéricos.

Inicialmente considerámos realizá-lo em Espanha, mas por razões logísticas resolvemos mantê-lo em Portugal. Vai-se realizar no local habitual, em Lisboa, mas com a participação dos nossos parceiros espanhóis da Agpme.

É para continuar este formato de Congresso Ibérico?

Esperamos que sim, Só o futuro vai responder a essa pergunta, mas achamos que terá vantagens para ambos os países, a coordenação de ideias e de defesa dos interesses produtores de milho.

No encontro vai sair alguma acção conjunta dos produtores ibéricos?

Pelo nosso lado, duramente o ano passado, conseguimos que o Governo, sob iniciativa do senhor ministro da Agricultura, criasse um grupo de trabalho para definir a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais. A Anpromis foi a entidade aglutinadora desse trabalho que já esta concluído e agora há que implementá-lo.

Há uma série de pontos que serão comuns às realidades portuguesa e espanhola, por isso pensamos que na sequência deste Congresso se irão implementar medidas que interessam a ambos os lados.

O que já está feito da Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais?

O trabalho está concluído, já foi reconhecido em Conselho de Ministros. A Estratégia foi reconhecida e neste momento está-se a tentar implementar as viárias medidas, que não são para se implementarem de uma só vez. Junto do Ministério da Agricultura já existe um grupo de trabalho que está a tentar implementar as primeiras medidas desse estudo.

Quais são as primeiras medidas?

Têm a ver com custos de electricidade, a organização dos agrupamentos de produtores, com uma série de pontos que podem reduzir custos, que é o factor principal para a competitividade.

Como vão conseguir custos com a electricidade?

É um tema realmente delicado, que terá a ver com tarifas durante os períodos em que a agricultura não consome electricidade. E tem custos elevados apesar de não consumir, custos fixos. Por outro lado, está em estudo também uma eventual melhoria de coordenação de tarifas horárias para a agricultura.

Quando terão essas novas tarifas, este ano?

Não lhe sei responder estamos a trabalhar para que isso aconteça o mais breve possível.

Para isso é preciso haver acordo do Governo.

Com certeza. São assuntos que passam por mais de um Ministério, não só da Agricultura mas também da Economia, por exemplo.

Há abertura de Capoulas Santos para esta diferenciação de tarifas?

Pensamos que sim, tanto que é uma das medidas que integram a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais.

Que outros custos ainda se podem baixar?

Há uma série de custos que podem levar a, sobretudo, melhorias de produtividade, tais como uma maior utilização da agricultura de precisão, porque só com aumentos de produtividade e redução de custos conseguimos continuar esta actividade.

Os agricultores não são todos iguais e infelizmente só poderão subsistir aqueles que forem mais competitivos e que invistam nas tecnologias mais produtivas.

Mas a agricultura de precisão tem a ver com cada produtor. É um investimento caro?

A utilização de qualquer medida tem a ver com o agricultor. É preciso é que as coisas estejam disponíveis e que aqueles agricultores que são competitivos as aproveitem. Os agricultores não são todos iguais e infelizmente só poderão subsistir aqueles que forem mais competitivos e que invistam nas tecnologias mais produtivas.

Há alguma forma de coordenar esse aumento de competitividade em conjunto com Espanha?

Existem algumas. Na sequência deste Congresso, seguramente vão surgir mais negociações com Espanha para que possamos fazer mais coisas em comum. Sobretudo pode haver mais coordenação a nível da defesa dos produtores a nível europeu.

Se houverem posições conjuntas de Portugal e Espanha em tudo o que é para tratar a nível europeu, serão posições mais fortes e terão mais possibilidades de êxito. Temos muitos pontos comuns em que poderemos coordenar a sinergia da defesa desses interesses.

Mas há utilizações para alimentação humana, há nichos de mercado que podem ser mais aproveitados

Por exemplo, para defender o milho ibérico?

Sim. Há forma de tentar valorizar o milho ibérico em função das utilizações. A realidade no Centro de Espanha é diferente da nossa. Os produtores portugueses nunca estão a muito mais do que a 200 ou 300 km de um porto, os espanhóis têm distâncias muito maiores, de maneira que os custos de transporte pesam no produto final dos utilizadores.

Mas há utilizações para alimentação humana, há nichos de mercado que podem ser mais aproveitados. Já se está a trabalhar nesse sentido há algum tempo e pensamos que passa por aí uma parte da valorização do milho nacional.

Que nichos de mercado estão identificados?

Sobretudo na utilização directa ou indirecta para a alimentação humana. O milho é necessário para fazer cerveja, por exemplo, e para muitos outros produtos que se destinam a alimentação humana. E há da parte dos compradores a valorização e o interesse pelo milho de produção nacional e que não seja transgénico e com determinadas características de rastreabilidade, que nós conseguimos ter.

Com milho importado do outro lado do Oceano não é tão fácil obter esses padrões de qualidade que os nossas organizações de produtores conseguem obter.

Temos muito milho transgénico em Portugal?

Não. A área semeada de milho transgénico não tem grande significado. E com a utilização de milho para utilização humana tem-se notado mesmo uma diminuição dessa cultura.

Mudando de assunto, o que espera da Reforma da Política Agrícola Comum (PAC)?

Ainda é cedo para sabermos como vão ficar as coisas. Estão em perspectiva algumas medidas, mas ainda é cedo, não podemos anunciar aquilo que não sabemos.

A Anpromis representa também produtores de outras culturas além do milho.

É uma associação sectorial que representa produtores de milho, sorgo e oleaginosas. Neste último caso, o que se faz com alguma expressão é o girassol e mais recentemente a colza. Mas o sorgo não tem grande expressão.

Há dois tipos de sorgo, forrageiro e para grão, e este ultimo tem áreas esporádicas que se fazem sem grande expressão, não é uma cultura que tenha significado no nosso País.

Qual o peso do milho na economia portuguesa?

O milho nacional representa cerca de 35% a 40% da utilização de milho que consumimos no País. O resto é milho de importação, é uma matéria-prima que existe importada durante todo o ano, de diversas origens, da Europa de Leste, da América do Norte e do Sul. E nós temos de competir com produto importado, daí a necessidade de ir para nichos de mercado que tenham um padrão de qualidade que não é fácil obter com os produtos importados.

Ainda vamos conseguir ser auto-suficientes?

Já produzimos mais milho do que produzimos hoje e isso tem a ver com o preço. Tem de haver rentabilidade para a cultura ser apetecível para o produtor. Nos últimos anos temos atravessado uma fase de preços considerados baixos que não têm sido atractivos para a a expansão da cultura.

Tem sofrido algumas variações, no último ano até houve algum incremento de área produzida. Depende de como o mercado evoluir no futuro. Mas um dos objectivos da Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais que foi aprovada é aumentar a área de produção.

A cultura de milho em agricultura biológica pode ser mais um nicho de mercado?

É outro nicho de mercado. Os produtores pecuários que produzem em modo de produção biológico precisam de matérias-primas para os alimentos que também sejam produzidos do mesmo.

Há alguns produtores que estão a apostar na produção biológica. Já há alguns anos que se faz, mas com uma área ainda pequena e com tendência a aumentar.

A aposta dos cereais passa por aumentar a produtividade e apostar em nichos de mercado dedicados para alimentação humana.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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