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Agrofórum da CPLP: “Não cabe apenas aos Estados financiar e apoiar o agro-negócio”

“Não cabe apenas aos Estados financiar e apoiar o agro-negócio”, considerou hoje, 28 de Outubro, António Souto, presidente da sociedade de investimento GAPI, de Moçambique, no Agrofórum da CPLP 2016. O responsável discordava de Luís Mira Amaral, que, anteriormente considerara que não cabia aos bancos privados comerciais financiar o agro-negócio na CPLP – Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa, não sendo por isso a solução, nomeadamente através de project finance, sugerindo que essa incumbência caberia aos governos e Estados.

No evento, organizado pela Câmara Agrícola Lusófona (CAL), António Souto congratulou-se por “finalmente a CPLP pôr na agenda a importância da agricultura, e esperemos que o paradigma da União Europeia relativamente à agricultura em África mude também”, considerou, salientando que “tem havido fraca motivação política para implementar uma estratégia para transformar a agricultura, um plano ousado, visão de longo prazo”.

“Predomina a dispersão de projectos de financiamento em Portugal, o que gera ineficiência global na alocação de recursos, entre outros constrangimentos, a posse de acesso a terra é incoerente, faltam infra-estruturas e know-how qualificado, e há baixa produtividade”, acrescentou António Souto. “O sector financeiro é dominado por instituições bancárias que não estão preparadas ou motivadas para financiar a agricultura”, rematou.

“Alcatifa económica”

Por sua vez, Filipe Ravara, da Caixa Geral de Depósitos, retorquiu que “este sector é a alcatifa económica e social de um País, e é em cima destes sectores da economia que se constroem os outros e se gera desenvolvimento”. Ravara apresentou os instrumentos financeiros da Caixa, e as soluções para o agro-negócio na CPLP, que a CGD “considera um sector estratégico”. A Caixa tem uma quota de 20,53% nos pagamentos IFAP (Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas), o segundo actor a nível nacional. “A nossa oferta para o agro-negócio é completa, com soluções à medida, e estruturas locais de apoio ao produtor”, disse.

Os oradores falavam no painel do Agrofórum dedicado ao financiamento do agro-negócio, encontro que durante todo o dia debateu o agro-negócio no espaço da CPLP, promovendo os negócios bilaterais, as sinergias entre empresários, e sensibilizar para soluções de maior circulação de pessoas, bens, serviços e capitais nesta comunidade.

Sobre a livre circulação, ainda um constrangimento na comunidade de países lusófonos, Martins da Cruz, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, sugeriu que se comece a estudar o assunto no âmbito da CPLP, limitada não só pela descontinuidade geográfica, mas também pelas questões legislativas e burocráticas.

Trocas comerciais podem crescer na CPLP

No que toca ao potencial de crescimento do agro-negócio entre os países da CPLP, Pedro Alves, da Câmara Agrícola Lusófona, fez um retrato das relações comerciais entre os países da CPLP, mostrando que há muito espaço para crescer. A título de exemplo, Portugal importa de Angola 1,3 milhões de euros de crustáceos, ou 646 mil euros de café, já para o Brasil, Portugal exporta 147 milhões de euros em azeite, 31 milhões de euros de maçãs, pêras e marmelos, e 28 milhões de euros em vinhos, recebendo do Brasil 151 milhões de euros de soja, 55 milhões de euros de milho, 54 milhões de euros de açúcar. “Há muito para crescer, por exemplo face ao total de milho que importamos, o valor que importamos do Brasil é baixo”, alertou.

A importância da marca

No capítulo dos desafios, Carlos Coelho, da Ivity, destacou a importância de criar uma marca para os produtos e serviços ligados ao agro-negócio, “porque já não basta a qualidade intrínseca do produto, é preciso criar uma agricultura de marcas, com “planos” de sedução”. Manter uma marca implica “contar uma história sedutora que continua sempre no dia seguinte”, atestou.

Ana Soeiro, da Qualifica, destacou a importância cada vez mais premente de certificar produtos, salientando ainda a relevância das indicações geográficas de produtos alimentares tradicionais da CPLP na conquista de nichos de mercado. Já Francisco Silva, da Confagri, destacou a importância do cooperativismo na potencialização do agro-negócio, e Mário Seixas, da empresa brasileira Embrapa, falou do papel cada vez mais premente da investigação, ponto também destacado por Luiz Cornacchioni da Associação Brasileira do Agronegócio.

“Temos de pôr África a produzir, essa é a responsabilidade dos empresários”

Por sua vez, Jorge Correia Santos, presidente da Câmara Agrícola Lusófona (na foto) defendeu, na sessão de encerramento do encontro, que “temos de pôr África a produzir, essa é a responsabilidade dos empresários, temos de encontrar mecanismos de financiamento para o sector, e encontrar uma solução para o desafio, que é também uma oportunidade, de em 2050 ter um mundo a precisar do dobro das necessidades alimentares de hoje”. Para o responsável, há um longo caminho a percorrer, mas as oportunidades são imensas.

O Agronegócio CPLP 2016 terminou com a assinatura de diversos protocolos de cooperação e parceria, nomeadamente para a criação da Comissão Especializada de Agricultura da Confederação Empresarial da CPLP; a criação da Agência para a Qualificação Ambiental; e um protocolo bilateral de cooperação entre a CAL e a sociedade de advogados Miranda & Associados.

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