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“É agora o momento de aproveitar todas as potencialidades do Alqueva”

Entrevista a Manuel Oliveira, vereador da Câmara Municipal de Beja

A Câmara Municipal de Beja é a organizadora da Rural Beja, que decorreu entre 6 a 9 de Outubro. A feira, tal como em edições anteriores, continua a apostar na divulgação da ruralidade, através da forte ligação dos vinhos à gastronomia tradicional e ao turismo, onde mereceram especial atenção o Salão do Cavalo Lusitano, a Festa Brava, a CaniBeja e o Cante Alentejano.

A Rural Beja incluiu também mais uma edição da Vinipax, que teve início em 2007 e actualmente é considerada, pelos especialistas a maior feira de vinhos que se realiza no Sul de Portugal.

O evento conta com apoio financeiro do InAlentejo e do Portugal 2020.

Em entrevista à Agricultura e Mar Actual, o vereador bejense, Manuel Oliveira, diz que esta é a altura de apostar tudo nas potencialidades do Alqueva, que transformou totalmente a tradicional agricultura de sequeiro. E que é também a altura ideal para se apostar no turismo rural.

“É agora o momento, é agora que está o Alqueva, que está uma estrutura aeroportuária na cidade, que levamos água a todas as parcelas da área de intervenção do Alqueva, que são 120 mil hectares de terrenos férteis irrigados, portanto se não for agora que metemos a carne toda no assador, desculpe-me a expressão, então não é nunca.”

Como está a correr a Rural Beja este ano? Tem mais visitantes?
A afluência tem decorrido dentro dos objectivos a que este certame se propõe desde o início.

Esta é a terceira edição?
Sim, mas a Rural Beja já existia, com um figurino aproximado, mas que o actual executivo camarário pretendeu recuperar, pois é a melhor forma que temos para promover o mundo rural. Trazer as potencialidades do concelho e da região a todos quantos nos visitam, com áreas bastante fortes como as dos vinhos e dos azeites, onde o Alentejo passou a ter um papel determinante. O Alentejo vai seguramente ser um elemento preponderante nesta fase de recuperação económica do País e com uma particularidade. Se tínhamos ate aqui uma característica no Alentejo, que era a de as matérias-primas saírem daqui para serem transformadas noutras regiões, agora já começam a ser transformadas aqui. O vinho é um desses sectores onde toda a matéria-prima é transformada, embalada, rotulada, enrolhada, a própria rolha tem origem na nossa produção, e o escoamento é feito a partir da região. Portanto, toda a riqueza produzida fica na região e isso é importantíssimo para a sustentabilidade do Alentejo.

E o mesmo se passa com o azeite.
Claro. Uma área em que estamos em franca expansão. Estão a aparecer culturas novas associadas ao regadio, que há alguns anos atrás não nos passava pela cabeça que se pudessem instalar no Alentejo. Posso ainda dar exemplos ao nível das culturas em regime de hidroponia, neste momento temos morangos produzidos no Alentejo o ano inteiro que são colocados no Norte da Europa com uma valorização extraordinária, temos produção de papoila para extracção de opiáceos com destino à indústria farmacêutica.

“[Há] áreas bastante fortes como as dos vinhos e dos azeites, onde o Alentejo passou a ter um papel determinante.”

Estão a aparecer culturas que não as tradicionais associadas ao sequeiro e estas novas culturas trazem pessoas com uma outra maneira de trabalhar a terra, com uma mentalidade diferente, trazem uma nova cultura associada para a região, o que também é importante. As regiões e os países crescem quando se introduzem novas culturas, novos pontos de vista, novas formas de trabalhar, e nova tecnologia, que é o que esta a acontecer neste momento. Diria mesmo que a agricultura hoje é uma indústria e este crescimento que está a acontecer na região só pode resultar em desenvolvimento e em bem-estar social para Beja, para o Alentejo e para o País.

“[Em hidroponia] temos morangos produzidos no Alentejo o ano inteiro que são colocados no Norte da Europa com uma valorização extraordinária, temos produção de papoila para extracção de opiáceos com destino à indústria farmacêutica.”

É por isso que a Câmara faz este investimento em feiras como a Rural Beja, para que essa tendência se possa continuar a expandir?
Sem dúvida. No exercício que vamos mantendo de auscultação das populações, desde o início deste mandato, em que regularmente nos eram referidas expressões do tipo “façam alguma coisa por nós”. Veja que em locais mais periféricos do próprio concelho as pessoas expressam preocupação face ao desenvolvimento, à falta de emprego, à desertificação dos territórios, com a qual ocorre a debandada dos serviços; fecha o posto de correios, as escolas, o centro de saúde. Tudo isto é um revés naquilo que queremos para o a construção do concelho.

“Olhando para o Alentejo como uma zona e como um território de futuro. Este é o grande objectivo da Rural Beja.”

Não passa pelo nosso projecto de desenvolvimento do concelho um cenário que não seja desenvolver. Criando condições para que os jovens não tenham de sair daqui para desenvolver os seus projectos de vida. Temos o Instituto Politécnico de Beja, que é um motor de formação e preparação dos jovens para a realidade económica e nós queremos que esses jovens fiquem aqui, que não tenham de sair do País.

A Rural Beja é organizada pela Câmara, a Ovibeja, organizada pela ACOS, é apoiada também pela autarquia. Que outras feiras deste tipo apoiam?
Existem vários eventos que a Câmara vem apoiando. As que refere são de facto as duas grandes montras do Alentejo do ponto de vista do que é o potencial da região, o que melhor temos para mostrar a quem nos visita e também são locais onde os nossos empresários, os nossos agentes económicos têm a possibilidade de estabelecer contactos, parcerias, fazer negócios. O objectivo é que a Rural Beja se transforme numa enorme montra da região e que transporte para o exterior, para aqueles que nos conseguem percepcionar noutras partes do Mundo, e olhando para o Alentejo como uma zona e como um território de futuro. Este é o grande objectivo da Rural Beja.

“O turismo é um sector em que ao Alentejo tem um enorme potencial.”

Por outro lado, o turismo é um sector em que ao Alentejo tem um enorme potencial. O Alentejo tem características do ponto de vista cultural, do património histórico, arquitectónico, tem uma potencialidade enormíssima. Beja e Évora e seguramente Portalegre, à semelhança de outras regiões do País, certamente… Quando pensamos no Alentejo, temos à mão um potencial enormíssimo. O turismo tem de dar um salto do ponto de vista qualitativo. E este salto tem de acontecer.

A Câmara de Beja tem apoiado na realização, tem desenvolvido alguns eventos, e estou a lembrar-me da Beja Romana, do desfile histórico que fazemos durante os festejos de Verão, em Agosto, do festival de banda desenhada que atrai pessoas ligadas ao meio dos cartoon’s, da banda desenhada e da ilustração de todo o Mundo. É já um festival internacional muito bem consolidado. Portanto, dentro deste conjunto de eventos mais visíveis que a Câmara se associa de alguma forma e de outros em que coloca toda a sua energia na organização, são fundamentais para a afirmação da cidade e da região.

Falando só dos eventos ligados à agro-indústria, com quanto apoia a autarquia?
Podíamos estar aqui a contar ao cêntimo os números envolvidos na concretização destes eventos. Mas, como compreenderá não lhe consigo dar os valores envolvidos neste tipo de eventos. Agora há uma certeza, que existe retorno. É agora o momento, é agora que está o Alqueva, que está uma estrutura aeroportuária na cidade, que levamos água a todas as parcelas da área de intervenção do Alqueva, que são 120 mil hectares de terrenos férteis irrigados, portanto se não for agora que metemos a carne toda no assador, desculpe-me a expressão, então não é nunca.

É agora o momento de aproveitar todas as potencialidades do Alqueva. E não é só o município que está a investir muito na promoção e divulgação do potencial da região, são as associações, são os líderes das várias estruturas representativas, é o Instituto Politécnico que teve a capacidade de ir aos Países de Língua Oficial Portuguesa (Palop) buscar alunos e não ficou de baixos cruzados à espera que eles chegassem ao nosso território. Isto porque infelizmente a conjuntura levou também a uma perda de alunos no ensino superior e o Instituto Politécnico quis manter o nível, a capacidade de influência da região e começou a ir buscar alunos a Cabo Verde e Angola e neste momento cerca de 150 ou 200 alunos são provenientes dos Palop.

Pensava que eram menos.
E vão ter muitos mais. São estas sinergias que importam reunir. A Câmara tem feito um esforço muito grande no sentido de conjugar esforços. Virar as entidades umas para as outras, não há nada pior que as entidades e os organismos viverem fechados sobre si próprios. Há que unir escorços, que ter uma visão de futuro que seja comum, amplamente discutido, é certo. Para que se saiba para onde queremos caminhar. São necessários todos, os empresários, os agentes turísticos, os empresários que estão fora do País e que de alguma forma tragam investimento para região, são necessários os autarcas, e necessário o poder central definir também uma estratégia para o País, uma estratégia que seja segura e que potencie o crescimento do País.

Da parte empresarial, quem são os principais parceiros da Rural Beja?
Além da Caixa de Crédito Agrícola, a EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva tem sido um parceiro muito forte, a ACOS – Associação de Agricultores do Sul também. Esta Rural Beja tem uma expressão muito grande ao nível do mundo equestre, arrasta consigo um conjunto de pessoas muito importante ligadas à actividade equestre, que são na maioria deles massa crítica ao nível do investimento e que fazemos questão que venham até Beja e que funcionem também aqui como um motor de crescimento. Nos dias que estão cá não ficam só na feira, vão ao campo, contactam com outros agricultores e com outros empresários.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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